sexta-feira, 15 de março de 2024

Prisão Assombrada - Os assustadores Fantasmas de Alcatraz


Se, como muitos acreditam, fantasmas regressam para assombrar o lugar onde tiveram experiências traumáticas quando estavam vivos, então, a lendária Prisão Federal da Ilha de Alcatraz deve ser cheia de fantasmas. 

De acordo com fontes, um bom número de guardas que serviu lá entre seus anos de funcionamento, entre 1934 e 1963 relataram estranhos incidentes. Dos pátios da prisão até as cavernas abaixo dos prédios administrativos, dos enormes pavilhões ao complexo labiríntico de corredores intermináveis, sempre houve comentários a respeito coisas incomuns acontecendo em Alcatraz. Suspiros e sussurros descarnados, odores inexplicáveis, lugares frios e aparições espectrais, a velha prisão é um compêndio de incidentes paranormais. Mesmo visitantes e familiares apenas de passagem pela prisão mencionavam ver fantasmas de prisioneiros e soldados que um dia viveram na Rocha (como a Ilha era conhecida pelos seus habitantes).

Não faltam histórias bizarras sobre a intensa atividade paranormal que supostamente domina a Prisão desativada. Alcatraz é um lugar de memórias amargas e de emoções pesadas que provavelmente ficaram represadas nessas paredes. No mundo da parapsicologia, cargas emocionais são consideradas como o catalizador de energias negativas e estas acabam impregnando determinados lugares. É como se esses incidentes criassem um eco que reverbera para sempre.

Uma narrativa muito conhecida na Rocha menciona um guarda de segurança chamado Ray O'Connel que realizava patrulhas de rotina pelos corredores da Prisão em 1976. O guarda sempre mencionava ouvir o som de batidas numa porta de ferro que lacrava um corredor que levava para um dos pavilhões. Certo dia ele decidiu que iria abrir essa porta e espiar e ter certeza de que não havia ninguém ali dentro. Ele colocou a mão na tranca deslizante da porta e teve uma estranha sensação. Era um frio que nada tinha a ver com a temperatura do lugar, um temor que ele não foi capaz de explicar. Lentamente ele tirou a mão da tranca e decidiu que era melhor não tentar compreender certas coisas.


Os sons de batidas no metal sempre eram ouvidos quando ele passava por aquela área fazendo sua ronda. Colegas de O'Connel também ouviam o som, mas ninguém abria a porta, preferindo ignorar seja lá quem (ou o que) estava batendo na porta. Considerando que aquela era uma ala destinada a presos de máxima periculosidade, conhecida como Corredor do Inferno, O'Connel tinha suas razões para não abrir a porta e fazer de conta que estava imaginando as batidas.

Certo dia, outro guarda foi transferido para a Rocha. Era um rapaz novo e com pouca experiência. Ele garantiu para seus novos companheiros que não acreditava em fantasmas e que não iria cair em nenhuma pegadinha dos outros guardas tentando assustá-lo. O'Connel disse ao rapaz que às vezes, Alcatraz podia ser um lugar muito estranho e que era melhor ele ignorar certas coisas para seu próprio bem. 

Uma noite, o novato estava fazendo a ronda de rotina e passou diante do Corredor do Inferno. Não há como afirmar, mas Ray O´Connel e seus colegas suspeitam que o rapaz ouviu as batidas na porta de metal, aquelas que todos que trabalhavam lá já haviam ouvido ao menos uma vez. Nenhum deles havia ousado abrir a porta, mas aquele rapaz era jovem e queria mostrar aos demais que não se assustava facilmente.


Os guardas encontraram o novato caído diante da porta de ferro que levava para o Pavilhão de Máxima Segurança, o Corredor do Inferno. A porta estava encostada. O rapaz estava encolhido no chão, murmurando coisas sem sentido e seu corpo todo gelado. Estava em choque e só se recuperou da experiência dias depois, contudo nunca retornou para o serviço. Quem tinha contato com ele contou que o novato nunca voltou ao normal, que recebeu uma dispensa do serviço e ficou em casa dali em diante apavorado por lugares confinados e ambientes fechados. Outros iam ainda mais longe, afirmavam que ele ficou instável e que precisou ser internado num asilo. Ray e os demais, concordavam em um pormenor da narrativa: que quando acharam o novato, seus cabelos estavam brancos feito giz.

As batidas insistentes ainda seriam ouvidas muitas e muitas vezes, mas ninguém abriria novamente aquela porta. Desde então, o corredor  passou a ser conhecido como um dos locais mais assombrados de Alcatraz. A história pode ou não ser verdadeira, mas um fato é incontestável, que a porta de metal que leva para o Corredor do Inferno foi soldada para que ninguém cometesse o erro de tentar abri-la novamente. 

Mas este não é o único lugar em Alcatraz que possui uma história macabra associada a ele.


Os vigias noturnos falam de uma cela em particular, a de número 788 que possui status quase lendário entre os funcionários que trabalharam na Rocha. O cubículo não parece em absoluto diferente de nenhuma das outras celas: tem as mesmas medidas e idêntica configuração, com cama, armário e latrina, mas por alguma razão, ele atrai histórias desde quando a prisão estava em funcionamento.

Os funcionários mais antigos afirmam que a cela 788 era infame por ter abrigado assassinos, estupradores e maníacos de todo tipo. Que as pessoas que dormiam na cela experimentavam pesadelos horríveis nos quais reviviam os crimes pelos quais haviam sido condenados. Homens duros e sem medo acordavam aos gritos depois de uma noite ali dentro. Uma história famosa mencionava um suposto assassino da máfia, sentenciado a prisão perpétua e que foi colocado na Cela 788. Ele dividia o beliche com um criminoso raia-miúda que teve o azar de ser colocado ali. Em algum momento da madrugada, o assassino acordou aos berros e fez com que os guardas viessem ver o que estava acontecendo. O homem, chorando como um garotinho, pediu (ou melhor, implorou) para que o tirassem dali, pois em suas palavras "havia algo horrível naquela cela". Os guardas não lhe deram ouvidos e simplesmente o trancafiaram novamente na 788.

Na manhã seguinte, ao abrir as portas para fazer a contagem, ninguém saiu da cela. Quando um dos carcereiros foi até lá ver o que havia acontecido se deparou com algo bizarro. Encontraram o mafioso,  caído no chão em uma poça de sangue - ele havia rasgado os pulsos com os próprios dentes. O rosto dele estava transfigurado pelo pavor vivido em seus últimos momentos. O companheiro estava chocado e tudo que conseguiu contar é que ouviu vozes estranhas, pessoas falando e o sujeito chorando baixinho.  A coisa aconteceu no meio da madrugada e nenhum dos presos nas celas vizinhas viu ou ouviu nada.

A fama da Cela 788 de Alcatraz era tamanha que os guardas a reservavam para os presos de quem não gostavam. Os prisioneiros, obviamente conheciam as lendas sobre a cela e temiam ser colocados nela. Em 1959, um preso ocupando a cela teria matado o companheiro em um surto psicótico repentino. Ele enfiou os dois polegares nos olhos do colega enquanto este dormia e afundou os dedos tão fundo que chegou a arranhar o cérebro dele. Quando perguntado a respeito, ele disse que não lembrava de ter feito aquilo e que estava tão surpreso quanto os guardas. Mais curioso ainda é que um dos agentes carcerários havia passado pelo corredor diante da cela 788 instantes antes da descoberta sanguinolenta. Ele não percebeu nada de estranho e os dois ocupantes dormiam tranquilos.


Outra cela famosa em Alcatraz era a 14-D, no bloco de solitárias, conhecido como "buraco" no jargão prisional. Essas celas minúsculas eram reservadas aos presos que causavam confusão ou que tinham que ser disciplinados de maneira mais severa pelas suas transgressões. A solitária é um lugar terrível em que o prisioneiro tem seus sentidos privados pela escuridão e pela passagem do tempo. 

A cela 14-D teve um hóspede famoso, o assaltante à mão armada Henry Bates que em 1938 intentou uma ousada fuga de Alcatraz. Ele foi recapturado e colocado no buraco 14-D para cumprir um período de 19 dias em total isolamento. O período máximo de tempo na solitária era de 20 dias, já que os presos ficavam em um ambiente totalmente insalubre, nus e na escuridão completa. Temia-se que um tempo mais prolongado pudesse causar danos psicológicos irreparáveis em virtude das condições de total isolamento.

Pois bem, Henry Bates foi mantido na cela por 1092 dias, quase 3 anos completos. 

Quando saiu da solitária ele era pouco mais do que um animal irracional que havia enlouquecido por completo. Seu primeiro instinto quando devolvido à população carcerária foi saltar sobre um dos presos e matá-lo com as próprias mãos. Durante o julgamento de Bates, o caso veio à tona e o incidente deu início a uma reforma prisional e afastamento do diretor da instituição que tentou acobertar o ocorrido. A Cela 14-D depois disso ganhou fama como um lugar amaldiçoado, tendo uma aura de agonia e desesperança tão pesada que contaminava todos que passavam algum tempo dentro dela. Rumores afirmam que em 1947, um preso engoliu a própria língua depois de passar três dias aos berros dentro da solitária. Em 1951 outro teve convulsões e acabou morrendo lá dentro.   

"Há uma sensação intensa que surge de maneira repentina quando se passa mais do que alguns minutos naquela cela", conta um dos guardas que atualmente cuida do bloco. "Essa cela, a 14-D, está sempre gelada. Ela é estranhamente mais fria do que as outras três celas escuras. Às vezes fica quente aqui fora - tão quente que você tem que tirar o casaco. Mas a temperatura dentro daquela cela é diferente... tão fria que você precisa de uma jaqueta se for passar algum tempo nela."


Estranhamente, os guardas e os presos não foram os únicos a ter experiências incomuns naquela cela em particular. Vários turistas que vem conhecer a prisão mencionam uma sensação incômoda perto das solitárias, em particular a 14-D. Há menções sobre pessoas sentindo palpitações, tendo arrepios e até desmaios ao passar diante da infame cela. Em 1988 a visita a essa ala foi retirada do roteiro de visitação uma vez que ela "atraía problemas". A sala voltou a ser reintegrada a visita da Rocha, mas os guardas sugerem que aqueles que são sensíveis ou sugestionáveis evitem descer os 32 degraus que levam para o lendário "buraco".

Outra história bizarra muito famosa em Alcatraz menciona uma figura misteriosa, uma sombra que parece se esgueirar pelas paredes e corredores do antigo Bloco C, um dos mais temidos da instituição prisional, uma vez que recebia os presos com problemas psiquiátricos. O lugar, apelidado de "Depósito de Loucos" era dos mais assustadores já que a população era composta por maníacos psicóticos de máxima periculosidade. O Bloco C ficava afastado e o protocolo de segurança era seguido à risca para restringir ao máximo o contato entre guardas com os homens mantidos ali. 

Há o boato de que, mesmo quando ainda estava em atividade, os presos confinados nessa ala falavam de um espectro aterrorizante que se alimentava dos presos. Os relatos davam conta de que se tratava de "uma criatura com olhos brilhantes, alta, esguia e com presas afiadas na boca". Os presos diziam que a coisa estava ali trancada com eles e que se aproveitava do fato que ninguém acreditava neles - visto que todos eram mentalmente insanos.


Os enfermeiros contavam a história que era uma fonte inesgotável de rumores entre os guardas. Embora ninguém realmente levasse muito à sério essas histórias, era comum ela ser citada pelos internos. Por vezes algum condenado gritava em desespero dizendo ver a tal criatura feita de sombras surgir e desaparecer no ar. Há um relato especialmente apavorante sobre um preso recém chegado que foi colocado no Bloco C por volta de 1960. Os guardas estavam acostumados com gritos e por isso não se importaram quando os berros continuaram noite adentro até que finalmente houve silêncio. 

Na manhã seguinte, quando inspecionaram a cela, encontraram o condenado morto. Uma expressão pavorosa estava congelada no rosto do homem e havia sinais inequívocos de dedos em volta de sua garganta! A autópsia revelou que ele morreu em decorrência de estrangulamento e que este jamais poderia ter sido auto infligido. Alguns funcionários suspeitavam que o sujeito podia ter sido sufocado por um dos guardas, farto dos gritos do homem, mas ninguém jamais foi acusado formalmente.

Alguns condenados acreditavam que o espírito maligno pertencia a Harry Siskel, um ex-policial que se tornou prisioneiro em Alcatraz, acusado de estuprar várias mulheres e crianças. Ele foi espancado até a morte por outros prisioneiros que fizeram justiça com as próprias mãos. Alguns acham que o fantasma de Siskel habitava os corredores do Bloco C, extraindo vingança contra os companheiros de cela que o mataram. 

Mas nem todas as lendas de Alcatraz envolvem os fantasmas tradicionais.


Dizem que o antigo farol da ilha, que ficava na ponta de uma restinga artificial e que foi demolido há décadas, por vezes surge nas noites de nevoeiro denso, acompanhado por um assobio fantasmagórico e por uma grande luz intermitente que passa lentamente por toda a ilha. Dizem ainda que aqueles que são banhados por essa luz tétrica acabam morrendo de forma acidental pouco tempo depois.

Há também o inexplicável som de explosões, tiros de arma de fogo e gritos surgidos do nada que muitas vezes fazem com que até mesmo os vigias mais experientes tenham um sobressalto. Esses sons já foram acompanhados de visões espectrais que remetem a uma grande rebelião ocorrida na Prisão Federal na década de 1960. As testemunhas diziam poder ouvir os gritos de luta e algazarra ecoando no pátio onde prisioneiros foram degolados pelos seus colegas em sanguinolentos ajustes de contas. Este incidente seria um clássico fenômeno parapsicológico ecoando indefinidamente, fadado a se repetir para sempre.

A antiga lavanderia que um dia foi usada pelos soldados que viviam em Alcatraz, antes dela ser convertida em Prisão, também é um lugar muito assombrado. Dizem as lendas que ali aconteceu um grande incêndio que vitimou vários homens. O lugar, segundo testemunhas exala um forte cheiro de fumaça, como se algo estivesse constantemente pegando fogo. A sensação da fumaça sufocante era tamanha que expulsava os guardas e os fazia buscar por focos de incêndio que justificassem aquele odor. Alguns guardas mencionavam um cheiro ainda mais pronunciado no ar, um que era especialmente forte nas datas de aniversário do trágico incêndio. Diziam que aquele era o inimitável fedor de carne humana queimando: gordura derretendo e cabelo se incendiando.

Com o passar dos anos, caçadores de fantasmas, autores, entusiastas de true crime e curiosos de todo tipo visitaram a ilha e muitos deles partiram com um sentimento de estranheza. É provável que aqueles que vivenciam o "lado fantasmagórico" de Alcatraz com mais frequência sejam os funcionários do Serviço de Parques Nacionais que cuidam atualmente da Prisão. São eles quem passam muitas horas sozinhos na Rocha. Na maioria das vezes, os guardas afirmam não acreditar no sobrenatural, mas ocasionalmente, um deles admite que acontecem coisas estranhas em Alcatraz, coisas que eles não conseguem explicar.


O renomado caçador de fantasmas Richard Senate e um médium famoso chamado Douglas Seagrove passaram uma noite em Alcatraz como parte de uma promoção da rádio KGO de San Francisco em 1998. De acordo com Senate, as emanações fantasmagóricas em Alcatraz pareciam escorrer de todos os cantos à medida que a longa noite avançava. 

Ele e o médium visitaram todos os locais considerados assombrados e se detiveram diante de manifestações fantasmagóricas que pareciam se ressentir com a presença deles em seus domínios.  Senate chegou a se trancar na cela 14-D que dizem ser especialmente aterrorizante. Quando a pesada porta de aço foi fechada, Senate imediatamente sentiu dedos gelados em seu pescoço e seus cabelos se arrepiaram. Ele relatou que não se sentia sozinho e que uma presença maligna o acompanhou durante todo experimento. 

Já o vidente, Seagrove teve a visão de corpos retorcidos e desmembrados num pátio na parte de trás do Bloco A, onde mais tarde lhe informaram ser o antigo cemitério usado para enterrar presos. Seagrove disse acreditar que toda angustia, sofrimento e dor experimentada pelas pessoas que viveram em Alcatraz durante anos ficou presa atrás dos muros da velha cadeia. Essa energia seria a causadora dos fenômenos paranormais que ainda podiam ser sentidos. Quando questionado a respeito do que poderia ser feito para contornar a situação, o médium foi enfático: "Essa não é um bom lugar para ser visitado! Ele não deveria ser uma atração turística! Essas paredes deveriam ser derrubadas e o lugar todo colocado abaixo. Só isso, talvez conseguisse eliminar essa aura negativa".

Enquanto ninguém tem coragem de fazer isso, a Prisão Federal desativada da Ilha de Alcatraz continua recebendo visitantes curiosos com um dos cartões postais mais estranhos da cidade de San Francisco. Aqueles que entram na Rocha por vontade própria, são capazes de sentir que há algo no ar habitando as ruínas da prisão. Imagine o sentimento de quem chamou esse lugar maldito de lar.

terça-feira, 12 de março de 2024

As Leis da Necrofagia - Os Rituais Profanos do Culto de Mordiggian

Além do desejo de sobreviver e expandir suas atividades nefastas, o Culto de Mordiggian tem em mente um objetivo a longo prazo: subverter a sociedade a tal ponto que certas coisas consideradas tabu se tornem práticas aceitas. A seita tem como parte de seus rituais mais sagrados práticas consideradas abomináveis pela maioria das sociedades humanas. Canibalismo, necrofilia e a adoração de entidades não-humanas constituem o tripé no qual o Culto se equilibra, princípios difíceis de tolerar. 

Embora tentem promover essas práticas perversas, o Culto jamais foi capaz de superar o senso de estranheza e horror das pessoas diante de tais atitudes. Historicamente eles fizeram poucos avanços exceto entre indivíduos naturalmente degenerados. Mesmo assim, a atuação dos cultistas invariavelmente acabou chamando a atenção das autoridades forçando a evacuação da seita no momento em que ela é descoberta. O Culto acredita que certas práticas, em especial o canibalismo, podem ser impostas aos humanos, sobretudo em tempos de grande perturbação no tecido social. Durante guerras e revoluções, as privações podem forçar as pessoas a atitudes extremas que normalmente elas sequer iriam cogitar. Os Carniçais ligados ao culto observam com interesse quando a fome faz com que tabus consagrados sejam testados até seus limites. Eles observaram com grande atenção os eventos transcorridos nas Guerras Napoleônicas, na Grande Guerra, na Revolução Soviética e na Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, a Guerra em Ruanda e na Bósnia fizeram os carniçais ansiar pela implantação de seu modo de vida.  

A crença deles é que, se uma quantidade suficiente de humanos se voltar para essas práticas, isso irá pavimentar o caminho para o Despertar de Mordiggian. Embora reconheçam que essa tarefa é excepcionalmente difícil, os adeptos se consolam sabendo que a população mundial está em crescimento constante e que tal coisa pode levar a uma crise global de alimentos. Eles teorizam que se a raça humana continuar crescendo irá eventualmente atingir uma massa crítica de densidade populacional que forçará alguns governos a reavaliar dramaticamente seu posicionamento quanto a antropofagia.

De muitas maneiras, a visão do Culto é bastante fatalista. 

Eles sabem que Mordiggian em algum momento deve despertar, mas divergem quanto ao melhor momento para isso acontecer. Tal coisa se dá porque os próprios cultistas não sabem ao certo o que acontecerá quando seu Deus for liberado no mundo. Alguns acreditam que a humanidade eventualmente acabará cedendo aos princípios de sua crença, se não por convicção, ao menos para continuar sobrevivendo. Nesse panorama niilista, os membros da seita esperam se tornar uma casta superior visto que já serviam ao Deus antes dele ascender. Contudo, há aqueles temerosos de que uma vez libertado, Mordiggian se dedique a decretar o fim de toda a vida e transformar o planeta em um enorme cemitério.

Existe também uma profecia antiga muito disseminada entre os membros da seita, de que o Despertar de Mordiggian permitirá aos Carniçais reclamar o mundo da Superfície como seu. Com a humanidade derrotada e colocada de joelhos, os carniçais poderão deixar seus covis e esconderijos para demandar o mundo. Referida como "A Grande Ceia", essa Profecia é aguardada por muitos carniçais que veem nela a derradeira recompensa por servir Mordiggian.   

Morte e necrofagia desempenham papel fundamental nos rituais voltados a Mordiggian. 

Os cultistas acreditam que todo cadáver retém o saber e parte de sua vivência e que este pode ser obtido quando a carne é consumida cerimonialmente. Quanto mais antigo o cadáver, mais profundos os segredos acumulados por ele, algo que os carniçais chamam de "erudição" contida na Carne. Por essa razão, os restos mais antigos ou que pertenceram a indivíduos com reconhecido saber místico são especialmente desejados. 

Os adeptos de Mordiggian não veem a si mesmos como canibais degenerados, mas indivíduos que buscam acumular segredos insondáveis e também comungar espiritualmente com seu Deus. Ao se alimentar de um cadáver devidamente preparado eles acreditam estar partilhando a carne diretamente com Mordiggian e concedendo ao seu Deus uma pequena parcela de segredos que de outra forma se perderiam.

O Ritual de Preparação tem início com a escolha dos cadáveres que serão consumidos pela assembleia. Alguns sacerdotes desenvolvem um faro sensível que supostamente lhes permite identificar os restos humanos mais valiosos pela antiguidade deles. É interessante notar que nenhum corpo "fresco" é consumido, sendo escolhidos apenas cadáveres em que já se iniciou o processo de decomposição. Um cadáver de duas ou três semanas é o ideal, mas outros, muito mais deteriorados, também podem ser selecionados. Sob os templos de Mordiggian há sempre um lugar em que restos humanos são estocados com o intuito de apodrecer corretamente, deixando-os nas condições desejadas. Esses lugares possuem fileiras e mais fileiras de corpos humanos dispostos em racks ou pendurados em ganchos. 

É uma concepção errônea que os carniçais ligados ao Culto devorem seus inimigos assim que são mortos; o mais provável é que eles reclamem os corpos e os levem para seus covis para um período de maturação. Só depois deste é que eles serão devorados.

A preparação dos cadáveres segue com o trabalho de acólitos escolhidos especificamente para essa importante função. Roupas e pertences são removidos, o cadáver é lavado cuidadosamente e os cabelos aparados com tesouras e navalhas. Em seguida ele recebe a aplicação de símbolos arcanos com tinta na pele que o identificam como Sacrifícios à Mordiggian. Esse tratamento costuma ser dado aos restos de indivíduos que os sacerdotes consideram depositários de segredos valiosos. Outras pessoas, em especial cadáveres de jovens ou crianças, são preparados com menos cerimônia podendo ser seccionados em postas e fatiados como aperitivos para a ceia principal. 

Nas celebrações os cadáveres são dispostos em altares de pedra cinzenta como granito ou ardósia e apresentados diante da congregação. O templo é geralmente uma câmara subterrânea parcialmente iluminada por velas feitas de gordura humana e pavio de cabelos. O Sacerdote veste uma espécie de avental cerimonial feito de pele humana curtida e um diadema de ossos. Os participantes geralmente se apresentam despidos, mas em alguns casos importantes vestem ornamentos feitos de osso, tendão e pele ressecada.

Depois dos cadáveres serem cerimonialmente encomendados a Mordiggian, o Sacerdote que preside a cerimônia convida os participantes a tomar parte no momento mais importante - a Comunhão. As oferendas são devoradas por inteiro, por isso o ritual demanda um número mínimo de participantes. Os carniçais tem a primazia, em seguida aqueles que estão em processo de transformação e finalmente os humanos, todos obedecendo um chamamento do sacerdote. 

Não é permitido o uso de talheres e utensílios, "a carne só é tocada pelas mãos e bocas". O ideal é que no fim toda carne seja consumida: músculos, órgãos, fluidos e cartilagem. Isso pode demorar algumas horas dependendo da quantidade de sacrifícios e de fiéis presentes. O crânio e alguns ossos maiores, uma vez limpos são recolhidos e usados como adorno nas paredes, altares e colunas do templo formando mosaicos intrincados. 

Não há palavras capazes de descrever o horror que é testemunhar os rituais aviltantes do Culto de Mordiggian. Os comensais descem vorazmente sobre os restos promovendo um espetáculo dantesco de horror antropófago. Garras rasgam a carne tenra e quebram os ossos, presas despedaçam os músculos enquanto bocas ávidas sorvem ruidosamente o tutano. Logo, nada resta do que um dia foram pessoas.     

Além desse ritual sagrado, há uma infinidade de outras cerimônias igualmente repulsivas que invariavelmente culminam em necrofagia. Antes os cadáveres podem ser sujeitos a outras formas de depredação incluindo, mas não se limitando, a mutilação, esfolamento e necrofilia. Ironicamente, embora sejam sujeitos a esses horrores, os cadáveres são considerados instrumentos pelo qual se dá a comunhão com Mordiggian, são, portanto, manipulados com imenso respeito, quase reverência.

Em datas propícias um avatar de Mordiggian pode ser invocado para presidir rituais especialmente significativos. Nestas ocasiões, a congregação se reúne em peso, atraindo cultistas de outras localidades que viajam para participar da cerimônia. Um banquete é preparado com esmero e fausto, por vezes esgotando os dispensários de carne humana, reduzindo as reservas, deixando-as perigosamente baixas. Isso no entanto, não preocupa aos cultistas que veem nesses rituais especiais a oportunidade de vislumbrar, ainda que brevemente um aspecto de seu Deus. Quando o avatar se manifesta é tradicional oferecer ao menos um dos membros da congregação como sacrifício, uma grande honra para o escolhido.

Quando um aspecto de Mordiggian se faz presente ocorre uma grande reação emocional; os cultistas se veem diante de seu Deus afinal de contas. Choro, gritos e histeria dominam a todos. O Deus come primeiro, se alimentando de todos os corpos que desejar antes de partir. Tudo aquilo que restou é considerado abençoado pela congregação, uma demonstração de generosidade para com o seu rebanho.  A conclusão apoteótica dessa festividade é marcada por cantoria, dança e um violento bacanal entre os presentes.

Os cultistas de Mordiggian possuem vasta compreensão do funcionamento do Mundo dos Sonhos e sabem como navegar através dele. Com carniçais ensinando as nuances do sonhar, não é estranho que muitos humanos desenvolvam familiaridade com o saber onírico e explorem essa dimensão. Não é estranho que cultistas empreendam peregrinações até a cidadela de Zul-Bha-Sair no obscuro Continente de Zothique. Muitos deles passam anos imersos em seus sonhos vivendo na cidade e conhecendo os meandros da adoração a Mordiggian, não é estranho também que alguns optem por  viver no Mundo dos Sonhos para sempre.

A essa altura, talvez seja bom falar sobre Mordiggian e seus avatares. Eles será o foco da terceira e última parte dessa série.    

quinta-feira, 7 de março de 2024

O Culto do Deus Cadáver - A Blasfema Seita devotada a Mordiggian


Há uma relação íntima entre cultos ancestrais e a morte.

A razão óbvia é que a morte constitui para nós o derradeiro mistério, o fim de um ciclo e o início de uma jornada espiritual para algo além da realidade material. A compreensão da morte e de seus muitos segredos sempre fascinou a humanidade e fez com que o homem levantasse questionamentos imaginando o que o aguardava além do véu. Inúmeras crenças e filosofias tentaram explicar esse dilema, oferecendo as mais diferentes respostas: do simbolismo karmico à reencarnação da alma, do julgamento final, das recompensas do Paraíso aos tormentos do Inferno, todas as crenças oferecem seu ponto de vista.

Nenhuma fé, no entanto, conseguiu provar que está certa e que sua posição prevalece sobre todas as demais. A verdade nos ilude, talvez ela só possa ser conhecida no momento em que cada um for tocado pela morte. 

No caótico Universo do Mythos, ironicamente, são poucas as divindades que se inclinam sobre os aspectos fundamentais da morte. Talvez isso se explique pelo fato de que tais entidades de poder inimaginável, todas elas imortais, não se interessam em tentar compreender as nuances de algo tão transitório quanto a existência dos mortais. Se tais entes não contemplam a hipótese de seu próprio fim por que deveriam se importar com o fim de seres menores?

A grande exceção talvez seja o Grande Antigo Mordiggian, o Deus Cadáver, o Amante dos Mortos e Habitante dos Sepulcros. Para muitos, ele é a representação corpórea das vicissitudes do corpo, da corrupção da carne e da deterioração definitiva. Ele é um Deus profano que trilha um caminho de podridão, almeja a dissolução de todas as coisas e viceja com a inevitável corrupção da carne. 


O Culto de Mordiggian é incrivelmente antigo, mas ele encontrou aceitação entre os humanos somente em dois momentos: no passado remoto e na Terra dos Sonhos. Para alguns teóricos do Mythos, o continente de Zothique onde Mordiggian é o Deus principal, reside num futuro muito distante e não na Terra dos Sonhos. Lá a cidadela de Zul-Bha-Sair constitui o centro de poder do Culto e onde o Deus hiberna nas profundezas. As teorias são muitas e inconclusivas.

Num primeiro momento, o Culto de Mordiggian foi bem conhecido durante a lendária Era Hiboriana, um período marcado pela barbárie que antecedeu a história corrente. Os templos de ardósia cinzenta dedicados a Mordiggian estavam presente nos reinos centrais, sobretudo na ancestral nação de Koth, em sua vizinha Ophir e na obscura Zamora, terra de muitos deuses. Foi em Shadizar, a obscena capital da Zamora, que o Culto alcançou seu apogeu formando uma seita organizada. Este foi o único momento em que a Igreja de Mordiggian atuou abertamente. 

Os fiéis viam Mordiggian como uma espécie de juiz diante do qual, as almas dos mortais eram julgadas. Cabia a Ele determinar quais almas estavam aptas a gozar das benesses do além vida e quais seriam aprisionadas num labirinto escuro onde dor e sofrimento aguardavam. Para chegar a esse decisão, Mordiggian reclamava para si os cadáveres de seus fiéis. Os restos mortais, acreditavam os cultistas, conservavam os sinais das transgressões terrenas. Através de elaborados rituais fúnebres, o Deus era capaz de divisar qual seria o destino final de cada espírito. Entretanto, a maioria dos seguidores desconhecia no que consistiam esses rituais ou a natureza blasfema da congregação. 

Era segredo que a medonha raça dos Carniçais comandava o Culto e estabelecia as ligações com Mordiggian. Os Carniçais sempre veneraram o Deus Cadáver e cumpriam a função como sacerdotes principais, oficializando ritos e celebrações. Eles vestiam longos mantos de cor púrpura e máscaras prateadas que ocultaram suas feições bestiais. Os carniçais raramente deixavam os Templos exceto para coletar os cadáveres dos devotos que lhes eram entregues de bom grado. Estes eram então carregados para os túneis subterrâneos abaixo dos templos afim de serem preparados para o "julgamento". Isto envolvia um ritual blasfemo no qual os cadáveres eram consumidos num festival nauseante de canibalismo. Tanto Mordiggian quanto os carniçais que o serviam eram insaciáveis e cobiçavam os corpos de todos que morriam. 

Rumores a respeito dos misteriosos rituais e da identidade dos acólitos eram sussurrados pela população, mas ninguém sabia o quão abomináveis eram estes. Supõe-se que em algum momento a verdade veio à tona o que deflagrou uma revolta generalizada. Os templos foram destruídos pelos fiéis e os sacerdotes passados pelo fio da espada.


Mas o Culto de Mordiggian não desapareceu por completo. Quando a Era Hiboriana foi devastada por um Cataclismo de largas proporções, coube aos carniçais preservar a memória de seu Deus e preparar o seu retorno.

O Culto de Mordiggian emergiu em algum momento na Ásia Meridional, no atual subcontinente indiano por volta do século quinto antes de Cristo. É provável que os carniçais tenham sido responsáveis por reintroduzir o Deus aos humanos que o viam como Senhor dos Mortos. Contudo as tradições védicas que moldaram a Civilização do Vale do Indo declararam a crença em Mordiggian uma blasfêmia e proibiram sua adoração. Para sobreviver, os devotos tiveram de manter suas atividades em segredo, realizando suas práticas clandestinamente. Embora o Culto jamais tenha desaparecido por completo na Índia, ele se ramificou através do Sudeste asiático entre os Tcho-Tcho e marchou para o oeste estabelecendo-se no Paquistão, Afeganistão e dali para o Oriente Médio. Os romanos conheceram o Culto quando ocupavam a Judeia e coube a mercadores levá-lo para os confins do Império, ainda que seus seguidores jamais tenham sido numerosos. O Culto emergiu e desapareceu inúmeras vezes em incontáveis lugares. 

É possível precisar quando o Culto de Mordiggian ressurgiu mais expressivamente, graças a ladrões de sepulturas e necromantes na França pelos idos do século XVI. Esse grupo de degenerados aparentemente entrou em contato com os carniçais que habitavam os subterrâneos de Paris e firmaram com eles algum tipo de acordo. Os carniçais introduziram aos humanos os princípios da adoração à Mordiggian e os grupos se complementavam: os humanos supriam os carniçais com informações e tarefas que eles não podiam realizar na superfície, enquanto os carniçais ofereciam os segredos dos sonhos e o dúbio benefício do canibalismo. O renascer do Culto foi bem documentado por François Honore-Balfor, Comte d´Erlett no raro tomo Cultes des Goules, publicado no início do século XVIII.

Pouco depois do lançamento do livro de Balfor, a seita se viu perseguida pelas autoridades. Denúncias levaram os gendarmes a esconderijos e covis onde os membros rendiam homenagem a Mordiggian. As prisões se traduziram em escândalo já que entre os envolvidos com o Culto encontravam-se personalidades na sociedade parisiense interessadas em testar limites e romper com tabus. Apesar de muitos terem sido capturados, outros encontraram refúgio nos subterrâneo da cidade com seus aliados necrófagos.

Os cultistas humanos que deixaram Paris continuaram em constante movimento, escapando e ludibriando as autoridades nos lugares onde escolhiam se instalar. As colônias francesas ao redor do mundo receberam membros da congregação: na América do Norte eles se estabeleceram no Haiti, na Louisiana e partes do Canadá, na África encontraram guarita no Sudão, Argélia e Senegal, enquanto que na Ásia se fixaram na Indochina. Algumas destas células tiveram sucesso, sobretudo aquelas que se beneficiaram da presença de carniçais com quem buscaram firmar aliança. 


Em algum momento os cultistas receberam uma visão, supostamente enviada por Mordiggian apontando uma "Terra Prometida" onde eles poderiam fincar raízes e estabelecer uma fortaleza para professar suas crenças. O local apontado ficava em uma das colônias mais isoladas e remotas do Império Colonial Francês: A Guiana Francesa, na América do Sul. O lugar havia sido ocupado originalmente por dissidentes que escaparam das perseguições em Paris em 1805. Este grupo teve sucesso em se estabelecer nessa região que era tão afastada que permitia a eles se dar ao luxo de atuar quase livremente. As mortes causadas por doenças tropicais eram elevadas e apenas os mais fortes sobreviviam. Nesse ambiente insalubre, a Seita conseguiu prosperar contando com o apoio de membros que empreenderam a transformação definitiva em carniçais. Sendo uma espécie mais resistente do que os humanos, os carniçais podiam lidar mais satisfatoriamente com os inúmeros desafios da colônia.

Por volta de 1865, cultistas vindos de várias partes do mundo começaram a desembarcar na Guiana Francesa após longa e perigosa jornada. Esses peregrinos eram bem recebidos pelo Culto residente que os aceitava entre suas fileiras. Com os recursos do Culto aumentando, os líderes decidiram expandir o que eram meras cabanas e estruturas de madeira em algo mais condizente com o desejo de seu Deus. Eles ambicionavam acima de tudo, construir um Templo para sua divindade, um lugar de acordo com as profecias de que a entidade um dia comandaria milhões. O Culto se inspirou nas visões da Cidadela de Zul-Bha-Sair, na Terra dos Sonhos, para erguer uma estrutura piramidal condizente com suas aspirações estéticas. Eles levaram décadas para construir a estrutura, uma impressionante realização considerando a localidade. No entorno da praça central, surgiram prédios feitos de madeira e pedra onde os cultistas passaram a viver e galerias subterrâneas onde os carniçais habitam em segurança.

Em 1920, a Fortaleza de Mordiggian - nome pelo qual ficou conhecida a cidadela entre os cultistas, estava praticamente concluída. As obras finais se concentravam apenas em melhorar as estruturas habitacionais e capacidade de armazenar suprimentos. Uma das características chave da Fortaleza era um Portal de Oneirologia, criado com um feitiço incrivelmente raro que permitia o trânsito entre o Mundo Desperto e a Terra dos Sonhos. Qualquer pessoa atravessando esse portal emergia na cidadela de Zul-Bha-Sair. O Culto utilizava o portal para viajar facilmente entre dois mundos, garantindo uma fonte de comida e suprimentos que sustentava o Templo em meio às selvas da Guiana Francesa.


Por volta de 1940, aproveitando a situação de grande instabilidade no mundo, o Culto de Mordiggian deu início a um ambicioso plano para expandir o Portal de Oneirologia. O objetivo era realizar uma grande transição, trazendo a Zul-Bha-Sair onírica para o Mundo Desperto e com ela o local onde Mordiggian jazia aprisionado. Com a presença física da entidade no Mundo Desperto, os cultistas esperavam dar o primeiro passo para ganhar poder e influência sobre um mundo mergulhado no Caos da Guerra. A conspiração se baseava em profecias que mencionavam a Segunda Guerra como um tempo de grande perturbação, propício para seus estratagemas frutificarem. Ela teria dado resultado não fosse a intromissão de um grupo de investigadores que conseguiram frustrar os planos. O Portal na Guiana Francesa acabou sendo explodido com dinamite e o Culto se viu seriamente desarticulado depois que seus líderes morreram ou escaparam para a Terra dos Sonhos.

Com a Fortaleza de Mordiggian destruída, os sobreviventes tiveram de buscar outros lugares onde pudessem se esconder, contudo, o Culto jamais se recuperou desse revés. Pequenas células se fixaram no México, Colômbia, Venezuela e Brasil, já que estes lugares atraíram um fluxo de imigrantes no pós-guerra. A França também assistiu o retorno de descendentes dos cultistas que haviam deixado Paris séculos antes. Na década de 1960, aproveitando os Movimentos de contracultura e revoltas ao redor do mundo o Culto de Mordiggian encontrou um solo fértil no Sudeste Asiático. Há boatos não confirmados de que ele se tornou influente no Camboja, com membros da seita ocupando cargos proeminentes no Governo Revolucionário. O Delta Green investigou essas atividades em meados de 1968, acreditando que havia envolvimento de cultistas no Kmer Vermelho. Considerando o genocídio perpetrado naquele país, é possível que os rumores, ao menos em parte, sejam reais.

Nesse novo século, os seguidores de Mordiggian se perguntam o que seu Deus deseja deles e que papel eles irão desempenhar. Há muitas profecias e crenças que compõem sua mórbida doutrina, mas mesmo para eles o futuro parece envolto em mistérios insondáveis.

A seguir, nossa exploração do Culto de Mordiggian prossegue com as medonhas Leis da Necrofilia.              

sexta-feira, 1 de março de 2024

Incidentes Bizarros - Encontros inexplicáveis de Policiais com criaturas desconhecidas


O trabalho de policial é, em grande parte, uma profissão nobre e imprescindível para a existência da sociedade. Eles estão lá para servir e proteger, para lidar com os perigos que se escondem nas sombras e nos manter a salvo do mundo muitas vezes violento em que vivemos. Mas e quando policiais precisam nos proteger não apenas do nosso mundo, mas também daquilo além do véu de nossa realidade? 

Policiais às vezes têm contato com o inexplicável e o paranormal, com entidades além do escopo de sua compreensão e para o qual não receberam treinamento. Agentes da Lei certamente veem coisas estranhas em suas patrulhas, mas nada tão estranho quanto alguns desses relatos. Essas narrativas vem de policiais que aparentemente tiveram encontros com coisas que não conseguem (e não podem) explicar. 

Neste artigo veremos alguns testemunhos de grande estranheza que supostamente foram feitos por indivíduos dentro da comunidade policial, e que nos mostram que esta profissão pode ser muito mais estranha e assustadora do que se pode imaginar.

Muitos encontros policiais com seres estranhos parecem envolver entidades que talvez não sejam deste mundo. Dos arquivos do pesquisador paranormal Albert Rosales do Supernatural Research Investigation (SRI) surge uma série de relatórios desse tipo. Rosales colecionou essas narrativas, a maioria transmitida a ele de forma anônima através de agentes policiais na ativa ou aposentados que o procuravam desejando partilhar incidentes incomuns do serviço.

O primeiro relato foi gravado originalmente pelo renomado investigador paranormal John A Keel e nos leva de volta ao ano de 1966, na cidade de Gaffney, Carolina do Sul. Por volta das 4 da manhã, os policiais C. Hutchins e A. Huskey estavam dirigindo por uma seção rural escura de Gaffney conhecida como West Buford Extension quando avistaram um homem andando no meio da estrada que por pouco eles não atropelaram.  

O relatório dos policiais dizia o seguinte:
 
"O sujeito estava andando no meio da estrada, naquela escuridão e foi uma sorte que não passamos sobre ele com a viatura". Huskey parou o carro no acostamento, eu desci imediatamente, disposto a dar ordem de prisão ao homem que até aquele momento eu imaginava devia ser um vagabundo, um bêbado ou as duas coisas".


Mas quando Hutchins se aproximou sentiu uma estranha energia ao redor do sujeito que o fez parar. Ele parecia um homem comum, vestia casaco, jeans e tênis, mas ele não tinha rosto! Sua face era um borrão cinzento que parecia se misturar constantemente como a superfície de um lago atingido por uma pedra. Hutchins, um veterano com 20 anos de serviços impecáveis ficou sem palavras, sentia uma aura de ameaça vindo da estranha figura e não conseguia se mover. Quando Huskey se juntou a ele também se sentiu confuso e estarrecido.

O que se seguiu foi ainda mais estranho. O misterioso ser se comunicou com os policiais através de um método não verbal, com perguntas que surgiam diretamente na mente deles. Ele fez inúmeras perguntas e ignorou quando os policiais tentavam, devolver alguma pergunta para entender o que se passava. Eles não foram capazes de lembrar de nenhuma das perguntas, mas admitiram ter respondido uma série delas, não porque quisessem, mas porque se sentiram compelidos a fazê-lo. Huskey até arriscou dizer que quando se negava a fazê-lo sentia uma forte pressão na cabeça, como se ela estivesse sendo apertada por um torno invisível.

Embora não tenham sido capazes de recordar o contexto da "conversa" que tiveram, toda interação ocorreu num plano surreal, quase onírico... Hutchins afirmou recordar que seu interlocutor se expressava num inglês perfeito, "não tinha sotaque distinto" e "que agia como se soubesse exatamente o que estava fazendo". Seu discurso foi muito preciso e direto. Os policiais divergiam de quanto tempo durou a conversa, Hutchins afirmou que foi algo breve, talvez apenas cinco minutos. Huskey disse que foi um contato bem mais longo, talvez de meia hora. Eles não se recordaram como aquilo terminou. Os dois simplesmente "piscaram" e o sujeito não estava mais lá. 

A dupla foi encontrada desmaiada naquele trecho de estrada, os dois haviam perdido a consciência, mas não estavam feridos. Um exame dos patrulheiros revelou que eles estavam em choque e que haviam sofrido um estranho caso de sangramento no nariz e ouvido. Fora isso, não sofrearam qualquer dano físico, mas foram afetados psicologicamente pela estranha experiência no meio da estrada.  

A história logo ganhou repercussão em jornais e na mídia. Muitos acreditavam que os dois policiais teriam tido um encontro com uma figura de origem desconhecida, talvez um ser alienígena, um anjo, um demônio ou uma entidade interdimensional que se manifestou em nossa realidade. Seja lá qual fosse a natureza do estranho ser, a breve interação foi o suficiente para custar a carreira de Hutchins que deixou a força no ano seguinte. Ele cometeu suicídio em 1969, após um grave quadro de depressão profunda. Huskey continuou na força policial por mais quatro anos, mas eventualmente também desistiu do trabalho se tornando um evangelista e defendendo que seu inusitado encontro envolveu uma entidade diabólica.


No ano seguinte, há um caso ocorrido em Ashland, Nebraska, envolvendo um sargento da polícia estadual chamado Herbert Schirmer de 22 anos. Ele estava fazendo uma patrulha de rotina em uma noite fria de dezembro, sem imaginar que estava prestes a encontrar algo muito bizarro. Schirmer se deparou com o que a princípio pensou ser um veículo estacionado bem no meio da estrada, mas ao se aproximar viu que era algo semelhante a uma porta iluminada pairando no ar. Ele parou o automóvel e se aproximou cautelosamente verificando que a porta parecia não ocupar um espaço físico, mas simplesmente estar ali com uma luz forte irradiando de seu interior. Então ela estranhamente desapareceu como se jamais tivesse existido. Parecia ser apenas uma história esquisita, mas sem grandes repercussões.  

Contudo, a partir de então o jovem policial começou a experimentar estranhos sonhos que o faziam acordar coberto de suor e aos gritos. Sem compreender a natureza do que estava acontecendo, ele concordou em se deixar hipnotizar para encontrar a raiz dos seus medos. Ao se submeter a uma sessão de hipnose, a história ficaria muito mais estranha. 

Sob transe hipnótico o policial começou a recordar de uma história bem diferente. Em vez de simplesmente sumir, o portal se iluminou com uma luz cegante no exato momento em que seu rádio, lanternas e o motor do carro falharam. Um grupo de estranhos seres humanóides, ainda que "não totalmente humanos" atravessou o portal e se aproximou do patrulheiro; eles o impediram de fugir ou sacar o revólver usando algum tipo de "bloqueio mental". Schirmer se sentiu paralisado e desmaiou. Os seres tinham baixa estatura, com no máximo um metro e meio, pele branca-acinzentada e não usavam roupas ou apetrechos. Pareciam assexuados, sem cabelos e com grandes olhos negros que contrastava com a boca pequena, pouco mais do que um rasgo horizontal.

Schirmer lembrou então de ter sido carregado através do portal em um estado de semiconsciência, vindo a acordar em uma espécie de sala branca imaculada, deitado sobre uma mesa de alumínio, incapaz de se mover ou mesmo gritar. As criaturas realizaram vários testes e procedimentos invasivos, obtendo amostras de sangue que era bombeado para estranhos frascos. O policial desmaiou repetidas vezes, sentindo agonia, dor e um medo indescritível. Sob influência hipnótica ele recordou que um dos seres no final do experimento tocou sua testa e fez com que ele sentisse uma dor aguda na cabeça que o fez esquecer a experiência por completo. 

O relato de Schirmer chamou a atenção, sobretudo porque certos aspectos de sua lembrança puderam ser corroborados por exames realizados posteriormente. Médicos atestaram que haviam sinais inequívocos de que o policial havia sido submetido a procedimentos similares a cirurgias sem que no entanto houvesse cortes e cicatrizes na sua pele. Atestaram ainda que pequenas partes de alguns órgãos; pulmão, fígado e rins haviam sido discretamente cortados para remoção de material. Também se descobriu que Schirmer havia recebido uma dosagem de raios X equivalente a 15 radiografias. Mais estranho ainda, exames médicos encontraram em seu corpo estranhos objetos de plástico e cristal que pareciam ter sido inseridos sem que houvesse sinais de como eles foram parar lá. Um total de 32 pequenos objetos - os menores do tamanho de grãos de arroz e os maiores do tamanho de uma unha foram removidos de seu corpo, sendo que o propósito deles, jamais foi explicado.

O caso de Herbert Schirmer é considerado um dos mais estranhos e inexplicáveis, envolvendo experimentos científicos supostamente realizados por seres extraterrestres em humanos. 


Outro caso bastante estranho envolvendo o contato de policiais com algo inexplicável ocorreu no ano de 2001 em El Pedroso, Califórnia. Na ocasião, dois policiais locais, R. Martin e C. Acuña, que faziam uma patrulha por uma região florestal se depararam com uma visão absurda. 

Ao fazer uma curva na estrada, eles se viram frente a frente com uma grande forma escura que flutuava no ar a cerca de 2 metros, sem fazer barulho ou se mover. Ela media pelo menos quatro metros de comprimento e parecia, segundo a descrição dos policiais, uma grande arraia. A criatura estava estática, mas quando os policiais pararam o carro de patrulha e usaram a lanterna para ver melhor, ela reagiu imediatamente.

A coisa avançou contra eles, flutuando no ar rapidamente se chocando contra o vidro do painel dianteiro produzindo um baque seco que fez o carro inteiro chacoalhar. Em seguida, ela escorreu sobre o veículo deixando marcas no teto, na lateral e quebrando a sirene no topo da viatura. Martin conta que eles aceleraram o automóvel para escapar da criatura que os perseguiu pela estrada em alta velocidade por quase um quilômetro. Ela chegou a alcançar o veículo pelo menos duas vezes, tentando tirá-los da pista. Acuña conseguiu manter o sangue frio e dirigir, escapando de seu misterioso perseguidor que frustrado soltou um urro alto e voou para dentro da floresta onde desapareceu.  


O mais estranho é que a bizarra criatura voadora foi vista em pelo menos outras cinco ocasiões por pessoas que garantiram se tratar de um tipo de monstro desconhecido. Há estranhas histórias na região de El Pedroso sobre animais desaparecendo e carcaças esmagadas e drenadas de sangue surgindo nos campos. Aqueles que acreditam na história afirmam que a estranha criatura seria algum tipo de ser alienígena, uma entidade extradimensional ou quem sabe um animal desconhecido que de alguma forma se manifestou naquela área.  

Em 1997, um repórter de jornal chamado Sonny Scwratz escreveu uma incrível reportagem sobre a experiência de um ex-policial chamado Frank Ingargiola, ocorrida três anos antes. Na época, o patrulheiro estava trabalhando no Departamento Rodoviário de Nova Jersey, quando testemunhou algo que mudou sua vida dali para frente.

Ingargiola estava se deslocando para um local onde havia ocorrido um acidente quando atravessou um trecho de nevoeiro denso. O nevoeiro surgiu do nada e imediatamente envolveu a viatura tornando extremamente difícil seguir adiante por falta de visibilidade. O oficial tentou contato com a chefatura, mas seu rádio apenas ecoava estática. Temendo por um acidente ele parou a viatura e resolveu aguardar por alguns instantes até o estranho fenômeno cessar. Entretanto, a situação apenas se agravou, fazendo com que a visibilidade que já era ruim chegasse a um ponto em que ele não era capaz de discernir absolutamente nada.

Poucos instantes depois, o policial alegou ter ouvido um ruído bizarro vindo do lado de fora, como um trotar pesado seguido de um sopro vigoroso que ele não conseguiu discernir. O carro foi então abalroado por uma forma grande e muito forte que lembrava um enorme alce. Mais duas investidas do estranho animal atingiram a lateral do veículo, arranhando a lataria, rachando vidros e deixando enormes amassados. Prevendo que se ficasse ali, havia um risco contra sua vida, o oficial ligou o carro e mesmo sem ver uma palmo da estrada à sua frente, acelerou através do nevoeiro cinzento.

Ingargiola saiu da pista repetidas vezes e quase destruiu a viatura em sua fuga desabalada. À todo momento ele ouvia o estranho sopro e o som das patas titânicas do animal que empreendia perseguição e vinha em sua direção com o objetivo inequívoco de matá-lo. O policial não foi capaz de descrever como era o animal titânico, mas contou que ele tinha olhos avermelhados que brilhavam em meio ao nevoeiro e enormes chifres. Após momentos dramáticos tentando escapar, a nuvem começou a se dissipar e o condutor foi capaz de ver a estrada novamente, momento em que a fera parece ter abandonado sua caçada.


Embora a história relatada pelo oficial fosse fantástica, ele tinha o automóvel e as estranhas marcas deixadas neste para corroborar o que havia acontecido. Especialistas chamados para analisar os danos não foram capazes de explicar o que poderia ter causado aquele tipo de avaria condizente com o ataque de um animal selvagem de grande porte. Ingargiola sustentou que o caso havia acontecido exatamente como ele relatou, mas sua narrativa não pode ser comprovada.

Na matéria pesquisada por Sonny Swartz, duas testemunhas afirmaram ter sido envolvidos pela mesma névoa densa que cobriu uma parte da estrada naquela mesma noite. Embora nenhuma das testemunhas tenha visto a criatura bizarra descrita pelo policial, ambos motoristas disseram ter ouvido estranhos sons vindo do interior da nuvem cinzenta e os ruídos de um automóvel em alta velocidade fora da pista. O caso foi apreciado por vários especialistas em criptozoologia que consideraram o incidente do oficial Ingargiola como um dos mais notáveis exemplos de encontro com entidade de natureza desconhecida.

Há outro relato bizarro de um policial da Pensilvânia, obtido em setembro de 1989 que se tornou notável. O policial Neil Collins vinha dirigindo por uma estrada deserta em um local arborizado que atravessa a seção sudoeste do condado de Westmoreland, quando teve um incidente bastante estranho. Ao rodar por esse lugar remoto, ele relatou ter atropelado uma criatura que saiu do acostamento e praticamente se atirou diante de seu automóvel de forma tão inesperada que ele não teve tempo de frear.

Collins freou sua viatura metros adiante, acreditando ter atingido um gamo ou outro animal selvagem de médio porte. Ele desceu do veículo carregando uma lanterna e à medida que o oficial se aproximou percebeu que a coisa diante dele não era nada que ele já tivesse visto antes ou depois daquela ocasião. Nas palavras dele "era grande como um homem adulto, tinha pelos castanhos avermelhados por todo corpo, não usava roupas e era mais fera do que homem". A coisa estava caída ao lado do acostamento, claramente ferida pelo atropelamento. Quando o policial tentou se aproximar, a criatura abriu os olhos e rosnou fazendo com que ele desse um salto para trás e apanhasse sua arma. A criatura se levantou confusa e tentou parar de pé, mas estava claramente abalada. 

Ela reagiu então como um animal acusado e soltou um rosnado feroz avançando contra o policial. O oficial disparou várias vezes e segundo ele os tiros acertaram a criatura que ainda conseguiu correr para o mato e desaparecer em meio a vegetação fechada.


Collins retornou apressado para sua viatura e pediu apoio imediato. Em poucos minutos outras quatro viaturas chegaram ao local e uma busca foi organizada para buscar o estranho animal, mas a essa altura ele já havia escapado. Os rumores sobre o caso mencionam que estranhas pegadas foram encontradas na cena e que manchas de sangue foram fotografadas pelos policiais. Nos dias que se seguiram, testemunhas relataram ter visto uma estranha figura grande e cabeluda vagando pelos arredores da reserva florestal, gritando e avançando contra aqueles que chegavam perto para tentar ver melhor do que se tratava. Alguns dias depois uma verdadeira caçada foi realizada para tentar capturar ou encontrar a criatura, apelidada de o "Pé Grande de Westmoreland".

Embora estranhos rastros e pegadas tenham sido encontradas, além de tufos de cabelo castanho avermelhado presos na vegetação, a criatura parece ter conseguido escapar. O policial Collins contou o incidente inúmeras vezes e deu entrevistas sobre sua estranha experiência jurando que tudo havia acontecido exatamente como ele descreveu.  

Outro relato muito conhecido sobre uma criatura análoga ao lendário Pé Grande foi feito por um policial que causou grande repercussão em sua época. Tudo ocorreu em agosto de 1996, na área rural de Whitehall, Nova York. Certo dia, o oficial Bryan Gosselin estava dirigindo nos arredores da cidade ao longo de um trecho solitário chamado Abair Road quando viu uma enorme criatura peluda, parecida com um homem, com olhos vermelhos, saindo da floresta cerca de 9 metros à sua frente. Gosselin o descreveria como um gigante medindo algo entre 2,10 ou 2,5 metros de altura e pesando pelo menos 200 quilos. Ele ficou tão alarmado com o que estava vendo que saiu de seu carro patrulha para apontar seu holofote e arma de fogo para a criatura. A estranha fera, capturada pelo foco do holofote, emitiu um grito sobrenatural antes de correr para a mata fechada deixando para trás pegadas gigantescas em um campo próximo. Nos dias seguintes, outros oficiais aparentemente viram a criatura. Gosselin acabaria escrevendo sobre sua experiência surreal em seu livro de 2004, "O Encontro de Abair Road".

Mas este não seria o único caso de estranheza em Whitehall, já que em fevereiro de 1982 outro policial da região chamado Dan Gordon e seu parceiro tiveram seu próprio encontro com uma criatura bizarra. Os dois estavam de plantão patrulhando ao longo da Rota 22, a 800 metros de East Bay, na base do Lago Champlain, quando uma criatura simiesca de 2,5 metros de altura atravessou a estrada correndo para subir um barranco íngreme e então desaparecer. A criatura foi descrita como sendo um pouco diferente de um Pé Grande típico, pois era esguio e tinha ombros estreitos em vez de músculos salientes. Outro detalhe é que ele andava curvado, tinha braços extremamente longos, finos e desengonçados, ainda que fosse notavelmente rápido e ágil. Gordon supostamente saiu do carro para tentar perseguir a criatura enquanto o outro policial ficou congelado no carro, mas a fera já havia desaparecido. 

Os dois manteriam sua experiência em segredo por anos, só tornando-a pública em 2003, após o que Gordon foi entrevistado extensivamente o ocorrido em programas de TV, incluindo Monsterquest e Mysterious Encounters. Gordon foi descrito como um homem incrivelmente honesto e confiável e insistiu na veracidade do que viu até sua morte em 2014.


Embora estes sejam os relatos que talvez tenham sido mais cobertos nas notícias e discutidos por criptozoologistas, na verdade existem muitos outros relatos desse tipo feitos sob juramento por policiais treinados e com excelente ficha de serviço, pessoas que aparentemente não teriam razões para inventar histórias que, na maioria das vezes acabam sendo prejudiciais às suas próprias carreiras. 

Dos arquivos da Supernatural Research Organization vem um relatório de 1975, em Jefferson Parish, Louisiana. Na primavera daquele ano, dois policiais foram chamados a uma casa na cidade de Marrero, aproximadamente às 21h, após a denúncia de um ladrão de casa aterrorizado. Os policiais chegaram ao local e interrogaram a proprietária da casa, e em seguida fizeram uma varredura perimetral da área, chegando a chamar uma unidade K-9. Assim que o cachorro chegou, aparentemente ficou enlouquecido, agitado e aparentemente com medo de alguma coisa nas cercanias. Os policiais circularam pela casa escura com armas em punho, convencidos de que havia um invasor à espreita na propriedade, mas o que viram estava além de tudo o que qualquer um deles esperava.

Ao contornarem a casa, aparentemente toparam com uma forma escura encolhida na lateral do prédio como se estivesse se escondendo, mas era enorme e, quando se moveu, puderam ver que não era humano em suas enormes proporções. A criatura foi relatada pelos policiais como tendo pelo menos 2,5 metros de altura, muito larga e dando longos passos até a rua, onde passou sob um poste de luz, e puderam ver que estava coberta de pelos castanhos escuros. Aparentemente, eles deram uma boa olhada nele, após o que ele fugiu em direção a uma área pantanosa e arborizada perto de um canal onde desapareceu. Quando entrevistado pelo investigador do SRO, a testemunha relatou:

"O incidente foi reportado oficialmente no sistema de registros da jurisdição. Lembro que não enfatizamos o “sujeito” além de descrevê-lo como “muito alto, de cor escura, sem descrição específica de qualquer roupa, etc”. Porque não estava vestido, e como já disse, naquela época eu não tinha ideia do que estava vendo. Nossos superiores sabiam de nós o que havíamos visto e acharam melhor desconsiderar a história. Lidamos com muitos incidentes inexplicáveis naquela época, assim como as agências policiais o fazem hoje em dia. O público não sabe de tudo. Não deve saber por uma questão de tranquilidade civil pois se soubesse haveria o caos".


Nos arquivos da SRO há um relato muito estranho ocorrido na cidade de Amarillo, Texas, que supostamente teve lugar no Verão de 2009. Ele começava com o telefonema de uma mulher pedindo ajuda para o Departamento de Polícia, alegando que tinha diante de si uma situação que não sabia como resolver. A pessoa pedia que policiais fossem enviados até seu endereço e salientava que "era melhor trazerem armas pesadas". Uma vez que a mulher misturava palavras em inglês e espanhol, os atendentes ficaram confusos diante de sua narrativa, mas ela parecia claramente preocupada.

Os patrulheiros C. Clark e D. Bellows estavam nas imediações e foram contatados por rádio para seguir o mais rápido possível até o lugar em questão. Era uma propriedade isolada em uma vizinhança tranquila na borda do deserto. Ao chegar, os policiais foram interpelados por várias pessoas da mesma família e alguns vizinhos que pareciam transtornados com algo que havia acontecido nos fundos da propriedade. Os policiais foram apresentados a um senhor chamado Nestor Cerapes, o chefe da família, que contou uma estranha historia: segundo ele, tudo começou quando a avó dele, que também residia na propriedade, descobriu uma toca de coiote perto de casa. Quando ela levou Cerepes até lá, no dia seguinte, encontraram os coiotes adultos mortos e os filhotes desaparecidos. Quando as carcaças dos coiotes foram examinadas, parecia que tinham sido dilaceradas por algo muito grande com garras formidáveis, e isso, compreensivelmente, deixou todos cautelosos quanto a possível presença de um predador na região.

Na noite seguinte, a avó teve uma premonição e um intenso mau pressentimento que a compelia a se afastar imediatamente do lugar. Enquanto estava discutindo com Nestor e o restante da família o que fazer, uma das crianças soltou um grito de alerta apontando para o quintal. Nestor se armou com uma pistola e foi averiguar. Deu de cara com uma criatura bizarra; humanoide mas que andava de quatro, coberta com uma pelagem castanha escura, longa cauda e olhos vermelhos injetados. A coisa avançou contra Cerapes que disparou à queima roupa. Ferida a criatura se refugiou em um galpão nos fundos da propriedade, onde estava escondida desde então.

Os policiais pareciam céticos, sobretudo depois que a avó advertiu que se tratava do lendário Chupacabra. Mesmo assim, eles concordaram em vasculhar o galpão em busca de um invasor. Os policiais nem precisaram procurar muito, assim que entraram, foram atacados por algo bizarro que foi descrito como um animal grande, que avançou contra eles tentando morder e arranhar. Os policiais, que reconheceram ter levado o maior susto de suas vidas, atiraram contra a criatura e a feriram mortalmente. Nas palavras de um deles, era "uma das coisas mais estranhas que ele já havia visto", parecia "um animal selvagem, mas ao mesmo tempo tinha as características um homem". A coisa tinha garras afiadas e presas agudas como uma fera, o corpo atarracado e musculoso tinha tufos de pelagem áspera marrom, mas outras partes eram lisas, tinha uma cauda fina como de um rato e um focinho pronunciado. Ele era rápido e fazia um ruído de rosnado sempre que avançava. Os policiais o alvejaram e ainda assim ele tentava se mover. O policial Clark recebeu arranhões no braço e no peito.

Enquanto Bellows contatava seus colegas pelo rádio relatando o que havia acontecido Clark recebia primeiros socorros. No período que ficaram longe, a avó ordenou aos demais membros da família que destruíssem o Chupacabras que ainda estava agonizando. Eles jogaram gasolina em cima da carcaça e riscaram um fósforo, o que fez a criatura se levantar e tentar uma vez mais fugir. Ela não foi muito longe uma vez que os donos da casa e vizinhos a cercaram e golpearam com paus, pedras e qualquer coisa que pudessem usar como arma.


Quando os reforços chegaram encontraram a carcaça totalmente carbonizada e os civis relatando como haviam matado o Chupacabra. O relato dos policiais se tornou motivo de debate, já que eles refutaram a versão do biólogo que analisou os restos e apontou pertencer a um lobo de grande porte. Nenhuma das pessoas que viu a criatura viva e andando concordou com a afirmação - para eles, era o Chupacabras. Clark e Bellows, que crivaram o monstro de chumbo, concordavam que era algo diferente e que eles jamais poderiam confundir aquilo com um lobo, embora não soubessem dizer o que era.

A história ganhou os jornais e a televisão enviou equipes para cobrir o incidente que ficou conhecido como "Chupacabra de Amarillo". Depois do ocorrido, várias testemunhas fizeram um retrato falado da criatura que foi tratada como um legítimo criptídeo. As análises dos restos renderam resultados conflitantes com especialistas atestando se tratar de um lobo, enquanto outros, afirmaram ser algo muito estranho e difícil de categorizar. 

Outro caso muito estranho diz respeito a um ser escondido em túneis subterrâneos úmidos, que se tornou uma espécie de lenda urbana na Carolina do Sul. Os túneis de serviço que se espalham sob a Universidade da Carolina do Sul datam de 1800, e há muito se diz serem o refúgio de algo menos que humano. Os avistamentos de algo bizarro escondido lá começaram em novembro de 1949, quando um estudante da universidade chamado Christopher Nichols caminhava em frente ao Longstreet Theatre uma noite e foi surpreendido por uma figura humanóide, nua e estranha que atravessou a rua, abriu uma tampa de bueiro e desapareceu nos túneis abaixo. Quando a notícia chegou ao jornal da escola, eles apelidaram a criatura de "Homem do Esgoto". Mas aquele não seria o último avistamento do que quer que fosse a criatura.

Em abril de 1950, um policial estava na área quando teve um encontro bastante assustador com a mesma criatura. Enquanto fazia sua patrulha na mesma vizinhança, o policial J. Halsey se deparou com uma pilha do que pareciam ser restos descartados de galinhas mortas, ainda ensanguentadas, que haviam sido atacadas e mutiladas por algum animal. Enquanto ele passava sua lanterna sobre a cena, o feixe avistou uma figura nua, com a pele cinzenta e aspecto grotesco. O mais aterrador eram os dentes afiados e a boca coberta de sangue. A criatura supostamente fez uma careta para o policial, rosnou e correu para o sistema de túneis mais abaixo, deixando para trás seu macabro esconderijo com as aves mutiladas.


O estranho habitante dos túneis ganharia a sugestiva alcunha de "Carniçal dos Túneis", e os avistamentos continuariam nas décadas de 1960 e 70, com um relatório particularmente angustiante descrevendo a coisa atacando o grupo de uma fraternidade universitária com um cano de chumbo e intenção homicida. Diante de todos os relatos, a polícia advertiu sobre a possibilidade de haver algum psicopata possivelmente perturbado rondando a área. Os túneis foram minuciosamente revistados, mas nenhum vestígio foi encontrado. Para ficarem seguros, os túneis foram em sua maioria lacrados e isolados do mundo exterior, ainda assim, haveria mais avistamentos do Carniçal. Considerando que há muito pouco para verificar, existe a possibilidade de que tudo não passe de uma lenda urbana.

Talvez o mais estranho de todos encontros de policiais com o inexplicável seja um incidente envolvendo um tipo de gosma disforme que foi abordado no livro “Strange World”, de Frank Edwards. O caso teve lugar na Filadélfia, Pensilvânia, em setembro de 1959. Além de ser notável por ter sido vivenciado por um total de quatro policiais veteranos, o caso é infame pelos detalhes. As primeiras testemunhas, os policiais Joe Keenan e John Cummings, estavam patrulhando uma noite quando, ao dobrarem uma esquina em uma rua tranquila, se depararam com a visão peculiar de algum tipo de massa globular que brilhava sob seus faróis e parecia estar se deslocando na direção a um campo próximo. Os policiais perplexos pararam o carro patrulha e foram investigar, encontrando uma grande massa do que parecia ser uma substância gelatinosa roxa com cerca de 4 metro de diâmetro e 30 centímetros de espessura, que pulsava, tremia, vibrava e oscilava sob suas lanternas. Também rescendia com um fedor medonho de esgoto e corrupção.

Estranhamente foi relatado que a coisa emitia uma espécie de brilho fosforescente quando as lanternas eram desligadas, como se fosse bioluminescente. Considerando seus movimentos deliberados, os policiais tiveram a impressão de que se tratava de algum tipo de coisa viva, embora não tivessem ideia do que poderia ser. À medida que a massa globular escorria, os dois oficiais perplexos pediram reforços, que chegaram na forma dos oficiais James Cooper e do sargento Joe Cook, que também testemunharam a visão sobrenatural.


Em algum momento, os quatro decidiram tentar agarrar a coisa, algo tanto desaconselhável considerando que não sabiam nada sobre o que estavam lidando. Mesmo assim, eles supostamente cercaram a coisa e começaram a levantá-la. Para sua surpresa, em vez de ser sólida, a coisa parecia se dissolver em suas mãos quando a tocavam, deixando para trás glóbulos de uma espécie de espuma fedorenta. Não está claro se o toque deles teve algum efeito negativo mas foi então que toda a bizarra bolha roxa começou a evaporar diante de seus olhos até que não restasse nada além de uma marca úmida no chão. Infelizmente, eles não pensaram ou não tiveram coragem de tirar uma amostra da coisa em nenhum momento, então ficamos apenas com esta história muito bizarra.

Existem vários relatos de coisas estranhas e incidentes paranormais acontecendo com policiais e essa foi apenas uma seleção de alguns deles. O que diabos seriam esses incidentes? Existe alguma verdade nesses relatos ou esses policiais são tão propensos a ficar assustados e a contar histórias fantásticas quanto qualquer pessoa? Independentemente de um ou mais destes casos terem realmente acontecido ou não, eles são certamente assustadores e, se forem verdadeiros, mostram que, além de protegerem os cidadãos de ladrões, assassinos e outros perigos mundanos, agentes da lei e da ordem podem também ter de lidar com forças desconhecidas.