segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Os Speakeasy - Os bares nos tempos da Lei Seca


Durante a vigência do Ato Volstead, mais conhecido como Lei Seca, ficou proibido em várias partes dos Estados Unidos comercializar, produzir, transportar ou estocar bebidas alcóolicas.

Na vigência dessa Lei, que perdurou entre 1920-1932, qualquer uma dessas atividades era considerada crime federal, resultando em prisão e pesadas multas. Mas ao mesmo tempo que a medida visava moralizar o país e reestabelecer os bons costumes, a lei seca abriu espaço para o florescimento do crime organizado. O contrabando de bebidas se converteu em uma das atividades mais lucrativas do país, movimentando cifras milionárias e estabelecendo um império de crime e corrupção nas principais cidades norte-americanas.


Um dos efeitos diretos da Lei Seca foi o surgimento dos chamados Speakeasies, como ficaram conhecidos os estabelecimentos clandestinos de venda de bebidas dessa época. Os speakeasies ficaram tão notórios desse período que muitos continuam em funcionamento até os dias atuais.
Com a introdução da Lei Seca, a maior parte dos bares tiveram de fechar suas portas ou mudar seu ramo de comércio. Milhares de litros de bebida foram entornados na sarjeta e equipamento de estocagem, garrafas e barris destruídos pelo Bureau da Proibição. Mas nem todos os bares estavam dispostos a ceder espaço, alguns continuaram a vender bebidas apelando para soluções criativas.

Assim nasceram os speakeasies, o termo já demonstra o caráter subversivo do negócio. Speakeasy se refere a "fala-mansa" uma maneira toda própria de se aproximar dos donos ou frequentadores para saber a respeito do funcionamento de um bar nas proximidades. Ou seja, o indivíduo precisaria de fala mansa para ganhar a confiança e se informar sobre o funcionamento de um bar. Os primeiros speakeasies eram totalmente clandestinos, funcionando em porões ou nos fundos de residências em condições precárias.

Com o tempo eles foram se adaptando e se tornando cada vez mais sofisticados. Alguns desses bares funcionavam em casas de comércio acima de qualquer suspeita. Havia Speakeasies que usavam como fachada para seu funcionamento lojas de animais, farmácias e até mesmo casas funerárias. Para entrar em certos bares era preciso bater a porta conforme um código ou conhecer senhas que mudavam toda semana. Os funcionários eram treinados para esconder toda a bebida e quase toda espelunca possuía uma saída de emergência para fuga no caso de uma batida policial.

A clientela incluía homens e mulheres que buscavam diversão em um ambiente atraente justamente por ser ilícito e proibido. Alguns speakeasies eram requintados oferecendo comida, música ao vivo (em geral jazz), mesas de jogo e salão de dança. O principal atrativo, no entanto, continuava sendo o livre acesso ao álcool. Os speakeasies ficaram famosos por fornecer bebidas de todos os tipos e em quantidade suficiente para manter uma população inteira enebriada. Certos donos eram tão empreendedores que produziam seus próprio estoque de bebida em banheiras ou alambiques de fundo de quintal. A maioria contudo era abastecida diretamente por contrabandistas de bebida (os bootleleggers) que faziam o transporte através da fronteira do Canadá ou pelo mar. Os donos dos speakeasies vendiam diretamente as bebidas para um público cada vez maior e obtinham lucros fantásticos.

Mas nem tudo era fácil. O rentável negócio logo atraiu a atenção de gangsters que impunham pela força sua participação nos lucros. Extorsão era muito comum e os donos dos bares não tendo a quem recorrer acabavam pagando proteção ou se tornando sócios de fascínoras. Durante a Lei Seca, o controle dos Speakeasies de Chicago se converteu em uma verdadeira guerra entre gangsters. Guerra esta que atingiu vários estabelecimentos que foram queimados ou metralhados por criminosos que intimidavam a concorrência.

Vem dessa época a associação dos speakeasies com antros de marginais e criminosos. Negócios escusos que iam desde contrabando de bebidas, passando por receptação de mercadorias e até assassinatos podiam ser acertados nas mesas mais afastadas com bandidos de todo o tipo.

Mas não apenas bandidos lucravam com o funcionamento dos speakeasies. A polícia tinha ordens expressas de combater o funcionamento desses bares, e conduzir batidas onde tanto os donos, quanto os frequentadores deveriam ser presos em flagrante. Na prática, contudo, os bares subornavam a polícia garantindo assim seu funcionamento sem o envolvimento da lei.

Alguns speakeasies se tornavam tão seguros que contavam com a vigilância constante da própria polícia. Certos speakeasies gozavam de tamanha proteção que funcionavam quase abertamente em lugares públicos como hotéis e teatros. Durante a cruzada de Elliot Ness e dos Intocáveis em Chicago na década de 30, muitas batidas resultaram na prisão de policiais, políticos e até juízes que estavam entre a seleta clientela. Esse aliás era um aspecto interessante do funcionamento dessas casas, elas conseguiam ser um ambiente perfeitamente democrático que congregava todo tipo de gente.

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