terça-feira, 23 de março de 2010

Asilo Arkham - Uma história de loucura e terror atrás dos muros

O Asilo Arkham é uma das criações mais populares de H.P. Lovecraft e uma de suas contribuições mais significativas para o detalhamento de Arkham, cidade central na mitologia por ele criada. O conhecido asilo talvez perca apenas para a Universidade Miskatonic como local mais importante da cidade.

Hoje, é provável que o Asilo Arkham seja mais lembrado como o Manicômio Judiciário para onde tipos como Coringa, Pinguim e Duas Caras são enviados para tratamento psiquiátrico nas estórias e filmes do Batman. O escritor, Dennis O'Neil foi o responsável por transportar o Arkham Asylum original de Massachusetts, para a fictícia Gothan City dos quadrinhos em uma óbvia homenagem.

Mas o Arkham de Lovecraft não era uma "casa de loucos" como no mundo do Cavaleiro das Trevas. Ao contrário do que muitos pensam o local nas estórias de Lovecraft era uma instituição primorosa, responsável e bem equipada que concedia o melhor tratamento aos mentalmente incapazes. Inspirando-se no Centro Hospitalar Danvers, Lovecraft mostrava o Arkham de forma positiva no conto "The Thing in the Doorstep", embora o mesmo não pudesse ser dito de alguns de seus pacientes, levados às raias da loucura pela exposição aos Mitos.

O Asilo, ou melhor dizendo, Sanatório Arkham aparece em poucos contos, contudo é cenário de várias investigações do RPG Call of Cthulhu.

Vejamos a breve história dessa respeitável casa:

Originalmente, o terreno onde se localiza o Arkham pertenceu a tradicional família Pickering até meados do século XIX. Foi essa família que construiu a enorme mansão em estilo Georgiano onde duas gerações de Pickering viveram. Em 1861, os donos da propriedade eram três irmãos que residiam na Mansão e que partiram para lutar na Guerra Civil contra os estados confederados do sul.

Dois deles morreram tragicamente em combate, o terceiro, o Capitão Thomas Pickering retornou estraçalhado pela experiência nos campos de Gettysburg. Dizem que Thomas permanecia calado por dias inteiros e que sofria com pesadelos noite após noite. Na Primavera de 1865, o oficial vestiu seu uniforme completo e passou seus três filhos sob o fio de seu sabre de cavalaria, antes de se enforcar no vão da grande escadaria do salão. Sua esposa Lizette, ferida levemente e não testemunhou o massacre.

Após se recuperar, Lizette compreensivelmente não desejava retornar para a casa onde se abateu a tragédia e aceitou doar a propriedade para que ela fosse convertida em um Centro de Tratamento para Veteranos da Guerra Civil.

Com o passar dos anos, o foco da Instituição foi sendo alterado. Na virada do século, a demanda por uma instituição de tratamento médico fez com que o Sanatório abrisse suas portas para pacientes com doenças mentais. A instituição é financiada por recursos públicos, doações privadas e por fundações beneficentes.

O Sanatório Arkham é administrada pelo Dr. Eric Hardstrom há cerca de 10 anos, um renomado e ainda jovem médico que transformou a instituição em um modelo de tratamento médico psiquiátrico. Antes da chegada de Hardstrom, o lugar se assemelhava a uma prisão que servia como uma "abrigo de loucos". Denúncias de maus tratos e abusos proliferavam nos porões do Arkham que segundo alguns possuía até mesmo um cemitério clandestino usado para enterrar indigentes que desapareciam na calada da noite.

O idealismo de Hardstrom, um ferrenho devoto dos ensinamentos de Freud, foi essencial para a transformação do Arkham. Em poucos anos ele diminuiu a super-população de internos, enviando alguns para outras instituições e concedendo alta para outros que podiam retornar ao convívio social. A reforma do Arkham também motivou a contratação de um staff treinado e eficiente composto de oito enfermeiras, três médicos e quatro atendentes.

Hardstrom introduziu técnicas de tratamento desenvolvidas na Europa como hidroterapia, hipnose regressiva e terapia ocupacional, ao mesmo tempo que baniu inteiramente a lobotomia, reduzindo ainda, consideravelmente o tratamento eletro-convulsivo. Graças ao Dr. Hardstrom os pacientes foram libertados das correntes, embora métodos de restrição como camisas de força ainda sejam empregados, bem como quartos acolchoados e grades nas janelas. Pacientes são drogados apenas em casos extremos de rebeldia ou quando podem se tornar um perigo para si mesmos ou para seus colegas.

Os internos vestem um pijama azul e tem liberdade para circular pelos jardins e pela maior parte das dependências da mansão principal que possui alas comuns, salas de recreação e oficinas de trabalho. Algumas áreas, no entanto, são vedadas ao acesso de pacientes e devidamente trancafiadas. Visitantes são recebidos uma vez por semana e podem circular pelas instalações enquanto visitam seus entes queridos.

A maior parte da população de pacientes no Sanatório Arkham foi internada pelos seus familiares na esperança de obter um tratamento digno e uma possível cura. A internação tem um alto custo, US$ 110 mensais que inclui alimentação, hospedagem, exames e medicação. Um quarto particular custa duas vezes esse valor. Essa taxa garante um excelente tratamento que tem alto índice de sucesso, um dos mais elevados do país.

O Asilo admite também indigentes e miseráveis que são mantidos em uma ala comum. Estas pobres almas não tem um tratamento garantido, embora sejam cuidados pelos enfermeiros.

Muito se fala a respeito de criminosos mentalmente insanos admitidos no Arkham, mas a bem da verdade esses são uma minoria. A comarca de Massachusetts que permite o funcionamento do Asilo Arkham nos limites da cidade, autoriza a permanência de criminosos insanos apenas para averiguação, exame e medicação. A permanência deles na instituição é condicionada a requerimentos especiais. Em mais de uma ocasião, criminosos insanos foram recebidos no Asilo. Sabe-se que o Dr. Hardstrom vê esses casos como um desafio e que ele próprio tem um fascínio por psicose esquizóide.

Médicos estrangeiros e pesquisadores vindos de todo o país já foram também convidados a conhecer o Arkham e apresentar suas teorias. Entusiasta de novas técnicas Hardstrom recebe estas mentes brilhantes como intuito de reciclar suas técnicas e se manter aberto às novidades no campo da psiquiatria.

Mas nem tudo no Arkham funciona com tamanha harmonia. Estórias a respeito do asilo abundam alimentando os fofoqueiros de Arkham com uma infinidade de rumores maldosos. A maior parte deles, não tem qualquer base, mas outros tantos podem muito bem ser verdadeiros, por mais bizarros que sejam.




Dizem que o fantasma atormentado do Capitão Thomas Pickering vaga pelas escadas do Asilo brandindo seu sabre, com seu pescoço quebrado em um ângulo absurdo, emitindo gorgolejos e risadas tétricas. Mais de um funcionário já relatou a visão de três crianças vestindo roupas do século passado sujas de sangue brincando de escoder nos jardins.

Uma lenda persistente dá conta que um dos ajudantes do asilo era um sádico impiedoso que converteu a máquina de eletro-choque, mantida no centro médico em um aparelho de tortura. Dizem que esse ajudante foi responsável por várias mortes e que os corpos desses pobres infelizes teriam sido enterrados nos arredores do Asilo ou cremados na caldeira do porão. Em 1918, foram encontrados ossos humanos na área o que serviu para alguns como prova cabal dessas estórias. Antropólogos da Miskatonic University contudo disseram que os ossos pertenciam a nativos americanos que residiam ali antes dos colonos se fixarem.

Essa, aliás é outra fonte de boatos sem fim. Acredita-se que a Tribo Iroquoi usasse a área do Asilo como cemitério e para a realização de seus rituais religiosos. Alguns afirmam categoricamente que um Shaman Iroquoi amaldiçoou a terra onde se ergue o Arkham com um feitiço de loucura e danação para condenar as almas daqueles que morrerem ali dentro a vagar pela eternidade.

Um boato recorrente e incômodo diz respeito a suposta existência de frascos no laboratório do Asilo, que segundo as más línguas contém os fetos natimortos de mulheres que ficaram internadas no asilo e foram violentadas pelo antigo staff. Esse rumor se torna ainda mais absurdo quando se menciona as horríveis deformidades físicas desses fetos que teriam feições batráquias e tentáculos.

O antigo staff também é culpado de horrores como a existência de um chamado "Quarto do Diabo" onde internos seriam levados para sessões de tortura e orgias demoníacas conduzidas por funcionários e outros internos (ninguém sabe ao certo!).

Hardstrom se ofereceu repetidas vezes para abrir o asilo aos curiosos que dão vazão a esses boatos, mas ninguém de Arkham respondeu publicamente a seu convite. Na cidade existe um misto de curiosidade e horror no que diz respeito ao Asilo Arkham o que é plenamente justificável para os habitantes de uma cidade tão pequena, mas que testemunhou tantas coisas bizarras.

Quem sabe afinal de contas o que poderia acontecer por detrás dos muros e janelas vedadas do Asilo Arkham?

4 comentários:

  1. Excelente materia, como sempre. Parabéns. Arkham sempre foi um dos grandes, por que nao dizer, "personagens" da mitologia Lovercraftiana.
    Eu nao sabia dessa história toda, achava que a história do asilo apresentada na antiga graphic novel "Asilo Arkham", ilustrada por Dave Mackean era a verdadeira.
    O que me decepcionou um pouco até, pois eu era fan da ideia do dr. Amadeus Arkhan, da morte de sua mae por loucura e depois o assassinato de sua familia pelo louco fugitivo, ate a queda na loucura do proprio Arkham.

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  2. A estória contida na Graphic Novel, Arkham Asylun foi escrita pelo Grant Morrison.

    É realmente ótima, mas se refere ao Asilo Arkham do Batman, o Asilo de Lovecraft é bem diferente.

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  3. Muito bom o artigo! Não conhecia todas essas informações sobre o Asilo, certamente um dos locais mais conhecidos das histórias de Lovecraft, juntamente com a própria cidade de Arkham e a Universidade Miskatonic.
    Parabéns!

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  4. em quais obras em português de Lovecraft eu encontro o Asilo Arkhan? se puderem me passar os nomes para eu comprar por email: tacitus.nemesis@gmail.com

    grato

    misael

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