domingo, 11 de julho de 2010

Páginas dos Malditos - Folheando o Cultes des Goules


"Alguns irão rotular meu trabalho de blasfêmia; eu apenas escolhi explicar certas ações e crenças, que Deus seja o Juiz de todos nós e decida se eu estava certo ou errado".

François-Honoré-Balfour, 1703

O Cultes des Goules surgiu em Paris em meados de 1680. Seu autor, Antoine-Marie Augustin de Montmorency-les-Roches, Conde d´Erlette, foi um nobre francês versado no estudo do ocultismo e envolvido no Escândalo dos Envenenadores, no qual nobres de grande reputação se viram acusados de assassinato e magia negra. O livro versava sobre um culto secreto no submundo parisiense. O conde nunca foi acusado formalmente, mas segundo rumores ele desapareceu por ordens do próprio Rei. O Culte des Goules escrito por Antoine-Marie circulou na forma de manuscrito em círculos de estudiosos em Paris, mas jamais foi publicado.

Um Conde da mesma linhagem chamado François Honoré-Balfour, herdeiro de Antoine-Marie descobriu o manuscrito original na biblioteca do Chateau Montmorency em 1701. Balfour também era um estudioso do oculto e teria acrescentado novos capítulos ao livro publicado em 1703, em uma tiragem de 400 exemplares.

Logo após ter sido concluído, autoridades clericais denunciaram o conteúdo profano do livro e exigiram o recolhimento de todos os exemplares. A gráfica onde o livro foi impresso foi incendiada e várias cópias destruídas. Um pequeno número de exemplares entretanto sobreviveu ao fogo chegando às mãos de colecionadores. O status aristocrático de Balfour o eximiu de julgamento ou punição. Até onde se sabe, Balfour jamais escreveu novamente e passou os vinte anos finais de sua vida em isolamento.

No manuscrito original, Antoine-Marie descreve sua participação em um culto secreto que agia nos subterrâneos de Paris. O trabalho se refere também a aspectos da necromancia e necrofilia praticados na França. Embora a prática de roubo a sepulturas não fosse incomum na época, Antoine-Marie descreve o culto como uma congregação de ladrões e violadores de túmulos, que ele identifica como "goules".

Os Goules, segundo o livro habitavam as antigas catacumbas da cidade e praticavam rituais onde glorificavam a morte e a corrupção. Práticas e cerimônias envolvendo necrofagia, necrofilia e leitura do futuro usando partes de cadáveres são descritas no livro. A iniciação da sociedade secreta envolvia atos repulsivos como copular com cadáveres, vestir sua pele e beber sangue humano. Cerimônias igualmente medonhas são descritas, tais como o ritual que busca reanimar partes de cadáveres ou fazer com que espíritos revelem segredos do além. Embora as descrições contidas no livro sejam vívidas e ricas em detalhes, evidências que comprovassem de fato a existência do Culto nunca foram encontradas.

Informações sobre cabais de feitiçaria, magia negra e licantropia também fazem parte do livro. Os capítulos que versam sobre esses temas parecem ter sido adicionados por Honoré-Balfour que tomou cuidado de censurar seu envolvimento direto com essas práticas. O livro menciona Nyogtha, Shub-Niggurath, Mordiggian e obviamente os ghouls.

Para muitos estudiosos dos Mythos de Cthulhu, o Cultes des Goules é a obra mais completa a respeito dos ghouls, constituíndo um verdadeiro tratado sobre essas criaturas nefastas. Após a morte de Honoré-Balfour uma edição expurgada chegou a ser publicada em Rouen em 1737. Cópias manuscritas em italiano e espanhol também são conhecidas, contudo essas versões são bastante incompletas ou censuradas.

Sabe-se da existência de pelo menos quatorze cópias do Cultes des Goules impresso em francês. A acusção de que Honoré-Balfour possuía três volumes encadernados com pele humana jamais foi provada. Uma dessas cópias pode ser achada na Biblioteca da Universidade Miskatonic, outra existe na coleção do Starry Wisdom Cult em Providence e uma terceira se encontra na Biblioteca particular de Titus Crow (embora esta tenha sido supostamente destruída). Um certo estudioso chamado Lazarus Garvey teria feito a tradução de trechos do livro para a língua inglesa, antes de desaparecer no Himalaia.

Há rumores de que um volume pertenceu a Donatien Alphonse François, o notório Marquês de Sade e que o texto teria causado uma forte impressão no nobre. Para alguns, o Cultes des Goules foi responsável pela obsessão de Sade por torturas e perversões.

François-Honoré Balfour, le troisième Comte d´Erlette (1678-1724)

Pouco se sabe a respeito da vida de François-Honoré Balfour, o terceiro Conde d'Erlette. As poucas informações que se tem a respeito, o descrevem como um nobre excêntrico que visitava seu vilarejo natal de Erlette próximo de Vyones em Averoigne.

Rumores sobre relacionamentos do Conde e estórias de alcova afirmam que François era um verdadeiro devasso que visitava Paris em busca de prazeres obscenos nos mais sórdidos bordéis. Embora o Conde publicamente negasse seu envolvimento direto com o culto descrito no Cultes de Goules, a maioria dos especialistas crê que ele era um membro ativo da sociedade e que havia passado pelas mesmas iniciações que ele próprio chamava de bestiais.

D´Erlette se afastou após a publicação do livro e dali em diante passou a viver como eremita nos arredores de Erlette. No início de 1724, o Conde desapareceu, quatro dias depois seu filho encontrou seu corpo desmembrado e parcialmente devorado na propriedade da família. Em seu testamento, foi estipulado que o corpo deveria ser depositado em um caixão de bronze e enterrado em uma cripta de pedra. Honoré dizia que isso livraria seus restos mortais do vilipêndio daqueles que tinham motivo para detestar seu trabalho. Tudo indica que seus detratores o alcançaram ainda em vida.

Um comentário:

  1. Fenomenal descrição... Again, se não soubesse que não é verdadeiro, me enganaria muito bem com a verossimilhança da dissertação.

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