quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Mitologia do Indizível - Revisitando o Mito de Caribdis e Scylla

Esse artigo contém SPOILERS.

Ele possui algumas informações sobre o cenário "O Horror de Kingsbury" que está no livro básico de Rastro de Cthulhu. Se você pretende jogar ou participar do cenário é interessante parar a leitura nesse ponto a fim de não estragar sua diversão e dos demais envolvidos.

O que diz a Mitologia Grega:

Em tempos antigos, Caribdis era uma lenda regional difundida na Grécia Continental entre os marinheiros e pescadores, como alusão aos perigos da navegação. Segundo eles, Caribdis era uma força natural que gerava turbilhões capazes de afundar embarcações inteiras.

Foi Homero quem transformou-a em entidade mitológica. Segundo a mitologia, Caribdis é um monstro marinho (originalmente uma náiade, ). Homero a chamava de "a divina Caribdis".

Conforme os escritos de Homero, Caribdis era originalmente uma ninfa, filha de Ponto, o protetor dos limites territoriais no mar e de Gaia. Possuidora de um apetite voraz, ela exigia dos viajantes que lhe fosse entregue comida e bebida para aplacar sua fome. Sua caverna era cercada de ossos dos animais que ela conseguia alcançar. Quando Héracles passou perto de Messina, levando os bois de Gerião, ela roubou os animais e devorou-os. Ao investir contra o herói, que tentava recuperar seu gado, Caríbdis foi fulminada por Zeus que interveio com um raio. A ninfa foi fulminada e atirada às profundezas do mar. Mas ela não morreu: ressentida Caribdis nadou para uma caverna submatina para curar suas feridas, lá se transformou em um horrendo monstro marinho.

Caribdis é citada uma vez mais na Odisséia, quando o herói Odisseu cai no mar e é arrastado por um turbilhão, após um naufrágio. Odisseu consegue se salvar agarrando-se ao mastro do navio antes de se afogar. Seus companheiros de tripulação, no entanto, não tiveram a mesma sorte e acabam devorados.

Segundo a lenda Caribdis é descrita como um montro horrendo com a forma de um réptil gigante escamoso. Ela nada velozmente em círculos criando maremotos e redemoinhos que puxam as embarcações para as profundezas.

Na tradição mitológica grega, Caribdis é normalmente relacionada a Scylla, outro monstro marinho tenebroso. As duas habitavam os lados opostos do estreito de Messina, que separa a Itália da Sicília, e personificavam os perigos da navegação perto de rochas e redemoinhos. O próprio nome Sicília deriva de Scylla.

Scylla é uma ninfa de rara beleza, mas da cintura para baixo ela está ligada a inúmeros tentáculos que crescem, cada um terminando em uma cabeça de cachorro que uiva e rosna sem parar. Quando um navio se aproxima, as cabeças caninas ladram alertando Scylla e ela se apressa em investigar o que está acontecendo.
As duas aberrações eram tão temidas nos tempos de Homero que os pescadores faziam sacrifícios de animais antes de sair para o mar. A carcaça das oferendas teoricamente servia para satisfazer os monstros que os deixariam retornar incólumes.

O Mito Grego relacionado ao Mythos de Cthulhu

O cenário de Rastro de Cthulhu "O Horror em Kingsbury" pressupõe que um maníaco está assassinando pessoas para promover a invocação dessas duas horríveis entidades.

Enquanto Caribdis cria um turbilhão de imagens e lapsos temporais que assola a cidade, Scylla aparece no final do cenário como resultado direto dos assassinatos, na forma de uma aberração monstruosa "vestindo" a cabeça das vítimas do Açougueiro.

O autor não deixa claro se Caribdis e Scylla são realmente as criaturas do mito grego ou se são interpretações de horrores ancestrais muito mais antigos. Pessoalmente, prefiro esta segunda hipótese.

Gosto de imaginar que Caribdis, um monstro muito mais destrutivo, estaria de alguma forma relacionado a Yog-Sothoth (possibilidade contemplada na aventura). A relação de Caribdis com distúrbios temporais sugere que ele de alguma forma tenha uma ligação com esse Deus Exterior que rege o tempo. Talvez Caribdis seja um avatar ou uma progêne com alguma outra entidade. Destrutivo o suficiente para varrer Cleveland do mapa, trata-se de uma monstruosiadde de respeito. As ondas de ressonânica de Caribdis são ótimas para criar confusão e a impressão de que se está vivendo entre sonho e realidade.

Scylla também parece uma criatura do Mythos, mas pela sua forma bizarra e apetite extremo, eu diria que ela de alguma forma se relaciona com Shub-Niggurath. Novamente seria um avatar menor ou uma progêne. O fato dela surgir a partir de sacrifícios também reforça a relação com a Deusa Exterior da Fertilidade, uma divindade que aceita sacrifícios.

Há algo de medonho na representação de Scylla. Uma massa translúcida de tentáculos que se agita. No final de cada um desses tentáculos encontra-se uma cabeça humana que murmura e geme. Poucas coisas podem ser mais apavorantes que isso. Descrever essa aberração pode ser um dos grandes momentos do cenário.

Fiz uma pequena mudança cosmética quanto a "Pedra Vermelha", o estranho artefato usado para canalizar o poder das entidades. Assumi que ela é uma estatueta grega. Na minha opinião tem mais a ver, uma pequena obra de arte clássica. Até consegui uma foto de uma estatueta grega representando Scylla e Caribdis que pretendo usar quando for narrar.

Ademais a solução final com os investigadores tendo de destruir a estatueta me parece mais interessante do que eles enfrentando as entidades, dinamitando o local, se sacrificando ou sacrificando alguns pobre diabos.

5 comentários:

  1. Sei que esse comentário não vai adicionar muita coisa ao post, mas na hora que li o título só lembrei de uma música da banda Trivium: Torn Between Scylla and Charybdis, do álbum Shogun.

    No mais, post muito bom ;]

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  2. No Game GoW: The Ghost of Sparta aaprece a Scylla também, mas numa versão Godzzila: Cabeça de Monstro com 4 olhos, Tentáculos saindo do de ventosas nos seios(!?), Garras e tamanho gigante.

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    1. se for uma velha,meio cinza e de mtos braços,é outra personagem qie eu eskeci ...mas vlw lembrar ;)

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  3. ...no game Castlevania : Symphony of The Night ( PSONE)Scylla é um dos chefões...ela aparece fielmente caracterizada no game...

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  4. Muito bom, gosto dessas revisitações de mitos antigos como se fossem manifestações do Mythos.

    Vem cá, não seria possível pôr uma ferramenta de divulgação nos posts? No meu blog mesmo, que é blogspot também, qualquer um pode apertar um botão e repassar o link pelo Facebook, Twitter, Buzz, etc.

    Ficaria mais fácil e acho que ajudaria a divulgação do Mundo Tentacular, fica a sugestão ...

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