sábado, 19 de março de 2011

Monophobia: A fear of Solitude - Resenha do Livro da Unbound Publishing


Como o jogador solitário de Call of Cthulhu sofre. No passado o fã de fantasia podia se servir de uma boa quantidade de aventuras solo, desde Tunnels & Trolls até os livros jogo clássicos da série Fighting Fantasy. Os fãs do horror sempre ficaram em segundo plano, embora no passado a Chaosium tenha lançado dois suplementos para o jogador sem grupo testar suas habilidades investigativas. Eram eles "Alone against the Dark" e "Alone against the Wendigo". A Pagan Publishing também lançou "Alone on Halloween", e por fim a Triad Entertainment lançou "Grimrock Island". Até onde sei nenhum destes ainda está disponível.

Finalmente chega uma nova e gratuita opção: uma que envolve um Guardião e um jogador apenas e que usa a mecânica do Call of Cthulhu.

Trata-se de Monophobia: A Fear of Solitude (Monophobia: O Medo da Solidão), disponível para download através da Unbound Publishing em um arquivo PDF de 1.3 Mb, composto de 60 páginas em preto e branco. O livro é descrito como “Aventuras para investigadores solitários no mundo de Call of Cthulhu". Trata-se de um livro pequeno mas muito bem escrito destinado a aventuras solo (com um pouco de trabalho, o mestre pode adaptar e colocar dois ou até três jogadores a não ser na segunda aventura que funciona bem justamente por ser solo).

Todos os três cenários do livro são one-shot, indicados para jogadores exeperientes. Cada cenário conta com personagens pré-gerados e bem detalhados. As aventuras ocorrem nos anos vinte e começo da década de trinta.

A antologia começa com uma descrição a respeito da natureza e peculiaridades do formato. Colocar um único personagem contra as forças do Mythos, simula perfeitamente a situação de vários contos de H.P. Lovecraft, tais como O Caso de Charles Dexter Ward e A Sombra sobre Innsmouth onde um único indivíduo confronta o horror supremo das criaturas ancestrais. O jogador carrega um fardo pesado. Ele não tem colegas para ajudar, apoiar e discutir as ameaças que o cercam. O Guardião também tem mais trabalho, ele não pode apenas sentar e escutar a interação dos personagens. Potencialmente os cenários são mais mortais, uma vez que há apenas uma vítima, que sofrerá as depredações físicas e mentais.

O autor sugere uma série de opções para o estilo de jogo, com rolamentos de Idea (mais fáceis de obter sucesso) para que o jogador não fique em extrema desvantagem. Os rolamentos de Sanidade também são mais raros e os monstros agem de forma bem mais discreta, como acontece nos contos. Não cabe ao investigador solitário enfrentar todos os horrores, ele precisa saber a hora de correr e de se esconder, pois não há ninguém para dar cobertura ou ajudar. Nesse ponto de vista Monophobia se torna muito interessante.

O primeiro cenário da trilogia é “Vengeance From Beyond” (Vingança do Além) que explora uma situação bastante familiar em jogos de temática lovecraftiana - a vingança vinda de além do túmulo. Nela o investigador, no caso um antiquário é contratado por um colecionador para localizar um livro que lhe foi roubado. Descobrir o culpado não é uma tarefa muito difícil, mas os eventos posteriores acabam se mostrando bem mais perigosos quando a investigação começa a cobrar um alto preço da sanidade do personagem. O cenário possui uma boa quantidade de trabalho de detetive e muita diversão a medida que coisas bizarras começam a acontecer com o pobre personagem. Este é o cenário mais tradicional do livro e deve agradar aos jogadores mais puristas.

Of Grave Concern” ("De Grave Preocupação", na verdade o sentido se perde um pouco pois "grave" além de severo, urgente se refere também a túmulo no idioma inglês) é o segundo cenário. Vou ser bastante vago a respeito dessa aventura para não estregar as surpresas que ela reserva. Trata-se da investigação mais longa e na minha opinião a mais interessante. Ela tem um início surpreendente e bastante original, um evento inesperado que funciona justamente porque é uma aventura solo e que ao meu ver seria viável com em grupo. Este cenário pede por um jogador experiente com algum conhecimento do universo do Mythos e também por um Guardião capaz de conduzir o roteiro cheio de reviravoltas de forma coesa.

O último cenário tem um ar mais pulp, o investigador é um explorador perdido em uma ilha deserta. Se esse tipo de abordagem é bem familiar na ficção em geral, em jogos de RPG ela é rara. O título propositalmente trash pode enganar um pouco, “Robinson Gruesome” (algo como "Robinson Pavoroso", uma brincadeira com o romance clássico Robinson Crusoé) coloca um náufrago lançado na infame Ilha de Ponape. Sozinho, sua preocupação inicial será com a sobrevivência: comida, água e abrigo. Mas logo o personagem descobre que a ilha não é totalmente deserta e que uma coisa medonha se esgueira nas sombras. Com poucos recursos e sem o benefício da civilização, este é o cenário mais perigoso do livro.

Ainda que os cenários precisem de uma pequena revisão por parte do Guardião a fim de aparar as arestas, Monophobia: A Fear of Solitude oferece diversão e entretenimento de primeira.

Abaixo está o link para a página da Unbound Publishing onde o livro em inglês pode ser baixado gratuitamente.

http://www.unboundbook.org/?p=82

Monophobia: A Fear of Solitude
(Unbound Publishing, 60 páginas, gratuito)
Em inglês.
Escrito por Mark Chiddicks e Marcus D. Bone
Arte de Ashley Jones

3 comentários:

  1. Excelente post! Melhor ainda que o suplemento é gratuito...
    Testarei-o logo, mas parece ser bem interessante mesmo!

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  2. Ótima dica! Mas uma vez, Parabéns pelo site...

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  3. Adaptei o primeiro cenário para um jogo em grupo de Rastro e realmente ficou bem legal.

    O livro tem boas idéias e é muito bem escrito.

    Vale muito a pena, além do mais é gratuito.

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