sábado, 16 de março de 2013

Investigando os Mythos mais Obscuros - Eihort, o Senhor do Labirinto


O sombrio Vale de Severn (Severn Valley) é uma região infestada pela atividade nefasta do Mythos. Localizado na parte meridional ocidental da Ilha Britânica, o Vale é um lugar escuro onde proliferam pequenos povoados e vilarejos que remontam a tempos muito antigos. Os habitantes desses lugares ermos e atrasados, vivem imersos em antigas tradições e superstições particulares, muitas delas envolvendo aspectos dantescos do Mythos de Cthulhu.

"O povo dessas paragens é afeito a excentricidades" ao menos é isso que dizem seus vizinhos. Mas o que realmente acontece é conhecido por poucos.  Adoração, obediência cega e temor é algo comum para os habitantes desse vale esquecido por Deus. 

Camside é uma pequena vila no coração do Vale de Severn, uma aldeia com pouco mais de duzentas almas que segundo as lendas foi fundada por druidas que desafiavam furiosamente a ocupação dos romanos e repeliam suas leis. Nos arredores de Camside sempre ocorreram rituais pagãos, sacrifícios de sangue  e a adoração a aberrações inumanas, monstros invocados das estrelas.

As lendas mais antigas mencionam um complexo de túneis subterrâneos abaixo de Camside que se estende por milhas e milhas, formado por passagens tortuosas e corredores estreitos. Ninguém sabe quem escavou esses túneis, mas sabe-se que eles já estavam ali, embaixo de Camside, antes dos primeiros habitantes erguerem suas rústicas choupanas. Há acessos ocultos que conduzem a esse mundo escuro e úmido: cavernas naturais nos arredores do denso bosque que cerca o lugarejo, fossos que penetram até as entranhas da terra e passagens secretas, ocultas nos porões das combalidas moradias. 

Os habitantes se reúnem para venerar e satisfazer a vontade dos seus deuses hediondos em uma espécie de culto blasfemo. Carregando tochas e estandartes, vestindo mantos puídos, eles marcham perfilados até a entrada dos túneis, sem jamais, contudo, adentrar esses caminhos, pois estes, são sagrados. Com verdadeira reverência; um misto de delírio cabalístico e terror religioso, os habitantes apenas se aproximam da beirada dos fossos para lançar ali dentro sacrifícios. Infelizes raptados em toda região, condenados a vagar à esmo pela escuridão. 


Os túneis formam uma rede interminável de caminhos subterrâneos entre-cruzados, que se conectam a câmaras cada vez mais profundas, resultando em um labirinto abismal. Perder-se nesses recessos tingidos por escuridão estígia é coisa fácil, visto que as próprias sombras conspiram para criar uma profunda confusão e total desnorteamento. Os sentidos parecem tramar contra a mente, a medida que direita se torna esquerda e um corredor de poucos metros parece muito mais longo do que realmente é. O ambiente insalubre do túnel completa a alucinação hedionda, incitando sensações bizarras na mente do explorador, fazendo com que ele ouça ruídos distantes e perceba formas sombrias perscrutando nas trevas. Quanto mais tempo um indivíduo passa nesse lugar remoto, menores as suas chances de um dia retornar a superfície.


O interior do túnel é ermo e abafado, não há correntes de ar e tudo exala um fedor atroz de húmus e solo antigo escavado. O chão de terra, por vezes, forma poças de água estagnada com verdadeiras piscinas escorregadias de lama escura e grudenta que adere a tudo. Nas paredes nuas de terra formaram-se colônias de mofo, bolor e fungos de aspecto repulsivo, iluminando os caminhos com uma tênue paleta de cores iridescentes. Não há fonte de subsistência e a fome torna-se um espectro que passa a atormentar quem é forçado a trilhar esse lugar. 

Mas o pior do labirinto é a companhia de formas de vida absolutamente abjetas que vagam, rastejam e ruminam por esses recessos. São os vermes pálidos das entranhas da terra, coisas que atendem pelo nome de "a Ninhada". De tamanho diminuto essas coisas parecem estar em todo canto, fugindo da luz e da presença das pessoas, mas a medida que se explora as áreas mais profundas, essas criaturas parecem crescer em dimensões e ousadia. 


A ninhada não se encaixa em qualquer classe de animal conhecida e sua presença causa uma reação de incontido asco na maioria das pessoas. São coisas de coloração pálida e mortiça, pegajosas e não naturais. Invertebrados de corpo inchado (medindo entre 1 e 10 centímetros) que se arrastam deixando uma trilha pegajosa. Alguns possuem uma infinidade de pequenos membros atrofiados que auxiliam na movimentação e dezenas de olhos negros. A aparência geral não remete necessariamente a um verme, contudo a associação com eles decorre muito mais do fato da epiderme dessas criaturas ser mole e viscosa como minhocas.


Apesar de seu tamanho diminuto, as criaturas da ninhada são predadores insaciáveis, famintos pela carne de seres vivos. Incapazes de enfrentar animais despertos, eles preferem se aglomerar sobre aqueles que estão doentes ou esgotados. Como se fosse uma onda viva e rastejante que a tudo recobre e devora. Para se alimentar, secretam uma substância ácida com efeito anestésico que dissolve pequenas porções de pele que é então deglutida. Milhares de crias da ninhada podem ser  necessárias para devorar um humano adulto, mas elas são plenamente capazes de fazê-lo. A existência de cadáveres limpos até os ossos nos túneis prova o que a ninhada é capaz de promover.

O único ambiente em que a ninhada prolifera parece ser o interior desses túneis. Eles não sobrevivem muito tempo em nenhum outro ambiente e a própria exposição a luz do sol é suficiente para matá-los. Embora inexistam em qualquer outro local, a quantidade deles, no interior dos túneis é infindável. Lendas relatam que a parte mais funda do complexo é recoberta por milhares dessas criaturas, tantas que o chão, as paredes e o próprio teto parecem fervilhar com o movimento delas.

O horror dos túneis de Camside entretanto não se limite à Ninhada, pois há algo pior habitando o centro do Labirinto.

Os cultistas o chamam essa coisa de Eihort, o "Senhor do Labirinto" ou o "Deus Pálido", um dos Grandes Antigos. Ele vaga pelos subterrâneos que servem como seu covil e prisão, até o alinhamento das estrelas que irá libertar todos os Deuses do Passado. Para se transportar de um ponto a outro, a entidade se vale de portais dimensionais permanentes que permitem a ele viajar de um ponto a outro em questão de segundos. 

Eihort é uma abominação tenebrosa. Nas raras ocasiões em que ele se manifesta, surge como uma esfera oval de carne rósea pulsante. Em sua superfície lisa despontam inúmeros olhos negros que piscam e lacrimejam constantemente. Estes olhos se movem com inegável inteligência fixando-se com atenção nas presas. Uma enorme boca, como um rasgo vermelho, cruza o corpo inchado de lado a lado. Essa bocarra possui lábios grossos e salientes que sangram ao serem lacerados pelos imensos dentes. As presas são afiadas como navalhas, alinhadas em fileiras, como grandes pontas de faca capazes de rasgar e perfurar, fortes o bastante para decepar membros ou seccionar um corpo na metade. Eihort se equilibra sobre uma infinidade de pernas elefantinas, grossas e enrugadas, que suportam seu corpanzil. Apesar de seu peso titânico ele se move velozmente, sendo capaz de correr e empreender perseguição se necessário. As pernas terminam em pés arredondados sem dedos, aptos a esmagar e trucidar o que estiver na sua frente.

Apesar de sua aparência capaz de induzir a loucura, Eihort é um dos Grandes Antigos mais comunicativos, disposto a negociar com sua vítimas. Indivíduos lançados nos túneis são submetidos a uma provação que os leva aos limites físicos e emocionais. Quando estão esgotados, Eihort pode escolher se manifestar para oferecer uma barganha ao invés de simplesmente aniquilá-los. Sendo incapaz de falar, Eihort estabelece um contato mental, usando algo que pode ser descrito como telepatia. 

A barganha é uma espécie de acordo no qual o Deus permite que o indivíduo continue vivo. Por alguma razão, esse acordo precisa ser voluntário. Aqueles que não concordam com os termos são invariavelmente destroçados pelo monstro, os que aceitam se tornam um simulacro para a ninhada. Quando o negociante aceita a proposta, o deus insere em seu estômago uma espécie de língua oca em formato de tubo responsável por implantar milhares de ovos microscópicos em seu estômago. A vítima se torna uma espécie de hospedeiro.

A seguir, Eihort apaga hipnoticamente a mente do indivíduo e permite que ele deixe o subterrâneo "ileso", sem lembrar o que aconteceu ou que carrega no seu corpo uma ninhada ainda não nascida. Os ovos crescem ao longo de meses até um ponto de maturação quando eclodem lançando no organismo milhares de pequenos parasitas. A medida que se desenvolvem, eles se alimentam dos órgãos internos com se fosse um tumor extremamente agressivo. Nesse ínterim, a vítima começa a lembrar do que aconteceu, a princípio através de fragmentos desconexos em seus sonhos, depois com visões cada vez mais reais. Por fim, a revelação final do que realmente ocorreu faz com que a ninhada aflore em um doloroso nascimento. 

O corpo do hospedeiro se abre do tórax ao estômago com a força exercida pela ninhada que literalmente o rasga de dentro para fora. Uma onda de criaturas pálidas diminutas emerge do interior do hospedeiro como uma onda, matando-o no processo. Uma vez livre, a ninhada buscará um acesso aos túneis e uma forma de chegar até Eihort.



Descrito em alguns poucos livros, entre os quais o "Revelações de Glaaki", Eihort é um Grande Antigo obscuro, venerado por um pequeno número de cultistas degenerados habitando regiões isoladas e com acesso a subterrâneos. Camside é o centro do culto, mas facções menores, às vezes formadas por meia dúzia de cultistas operam em Arkham, e nos corredores labirínticos abaixo de antigas cidades. Roma e Paris com suas catacumbas subterrâneas com quilômetros de extensão são locais prováveis. Há rumores a respeito da existência de portais dimensionais que conectam estes lugares ao labirinto de Camside e um explorador pode se descobrir inadvertidamente transportado de um ponto de forma insuspeita.

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Baoht Z'uqqa-Mogg

Nyogtha

Y´Golonac

Sobre o Vale de Severn - O Vale de Severn

E uma cena envolvendo Eihort: O Nascimento da Ninhada

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