quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Face Pálida - Uma narrativa sinistra envolvendo um objeto maldito


Em geral, eu não sou muito fã de creepypastas ou narrativas de horror. Para cada uma que é bem escrita, existem mais 10 que são uma total perda de tempo...

Essa eu achei mais interessante. Sobretudo, porque enquanto lia, o telefone aqui de casa tocou e quando atendi alguém do outro lado da linha não falava coisa com coisa. O telefone tocou mais duas vezes enquanto eu lia o conto e cada vez eu tomava um bruta susto... e sempre do outro lado alguém falava com uma voz abafada e gutural. 

Então, melhor não contrariar... melhor traduzir a tal narrativa e colocar no Blog.


Aconteceu em um inverno.

Eu estava andando pelo parque próximo do meu apartamento quando vi quatro meninos  batendo em alguma coisa com um martelo. Dizem que em Chicago as crianças são mais violentas do que no resto do país, mas eu nunca tinha visto algo assim na minha vizinhança. Corri até eles, mais por curiosidade do que qualquer outra coisa, pensando que eles poderiam estar torturando algum pobre esquilo ou pombo. Se eu soubesse o tipo de coisa com que eu teria contato, provavelmente teria voltado para minha casa e trancado a porta.

Um dos meninos (de não mais do que 12 anos) estava segurando um tipo de estatueta, que parecia bem antiga e pesada. Ela tinha talvez uns 45 centímetros. À primeira vista, parecia a figura de um homem, mas ao olhar com mais cuidado percebi que era algo diferente: tinha asas, uma face simiesca, pés de pássaro e estava nu. Parecia algo que se vê em museus ou coleções de arte. De imediato não me passou uma boa impressão, e pensando bem, cheguei a ter um arrepio. O menino segurava a estatueta no chão com o rosto virado para o lado, e gritava para um segundo garoto (chamado por seus amigos de Paul ou Peter) para continuar batendo com o martelo. Os outros dois meninos, mais jovens, apenas observavam em silêncio.

Usando meu tom mais adulto mandei que ele parasse de martelar a coisa e dissesse o que diabos estava tentando fazer. O garoto com o martelo olhou para mim e disse, "nós vamos quebrar o diabo em seis partes e enterrar ele na floresta".

Eu fiquei surpreso com a resposta. Não é o tipo de coisa que você espera ouvir de crianças e deixei escapar uma risada. "Então... vocês acham que essa coisa é o diabo?"

Peter ou Paul obviamente não gostou da minha pergunta e disse algo como: "Você é estúpido? Essa coisa pertence ao diabo!"

Quando olhei novamente para a estatueta, a aparência dela me agradou ainda menos. Os meninos haviam conseguido arrancar a base de madeira dela com os golpes de martelo, havia um tipo de escrita nesse pedestal, mas nada que eu fosse capaz de decifrar. Parecia asiático ou algo do Oriente Médio. Na parte de baixo havia um sol e uma lua com rostos de expressão vazia. Não sei porque, mas não gostei daquela coisa...

Peter ou Paul explicou que seu avô era dono de uma Loja de Antiguidades e estava internado em um hospital - "com câncer" disse o garoto com uma expressão muito séria. O velho moribundo pediu que sua filha (a mãe do garoto) fosse até a loja e abrisse o cofre que ficava no escritório. Ele mandou que ela apanhasse uma estatueta que estava guardada lá dentro. Deveria então pegar um martelo e quebrar a coisa em seis partes e esterrar cada uma delas na floresta. Elas deveriam ser enterradas a uma distância de pelo menos uma milha uma da outra. Ele não revelou seus motivos, mas se referia ao objeto como "a estatueta do diabo".

Quando a mulher se recusou, achando que o pai estava delirando por conta da medicação, o velho chamou o neto e disse a ele o que deveria ser feito. Ele contou onde havia uma chave reserva para a loja e sussurrou em seu ouvido a combinação do cofre. O avô disse que o menino poderia ficar com qualquer coisa do cofre, desde que fizesse o que ele mandou com a "estatueta do diabo".

O garoto aceitou e chamou seus amigos para ajudar na tarefa. Eles encontraram a estatueta onde o velho havia dito que estaria e a levaram até o parque, onde se depararam com dois problemas. Primeiro, a coisa era muito resistente e apesar deles usarem o martelo para arrebentá-la, tudo o que haviam conseguido até então era produzir alguns arranhões e arrancar sua base. Segundo, havia o problema de encontrar uma floresta para enterrar os pedaços. Florestas em Chicago são algo raro, ainda mais se você tem que enterrar cada pedaço a uma milha de distância. Percebendo que não era uma boa ideia deixar um grupo de garotos discutindo com um martelo na mão, eu supus que o melhor era ajudá-los a cumprir o desejo de seu avô, antes que eles acabassem se machucando.

Mas falar era mais fácil do que fazer. A estatueta era muito mais dura que eu pensava e cheguei a imaginar se ela não era de alguma forma reforçada por dentro. Eu bati na maldita coisa várias vezes e tudo o que consegui foi arranhar a superfície lisa cor de bronze. Pensei um pouco e lembrei que na minha garagem eu tinha algumas ferramentas que poderiam ser úteis. Mandei os meninos esperarem e corri até lá e voltei com uma marreta mais pesada. Os meninos ficaram sentados em um banco aguardando minha volta. Quando cheguei estavam brincando com a neve que havia começado a cair, lembro que estava bem frio. Os quatro pararam e observaram com interesse enquanto eu marretava a maldita coisa. Depois de três boas pancadas um pedaço da asa finalmente quebrou. Examinei o fragmento e os garotos também olharam curiosos enquanto eu segurava ele na palma da minha mão. Juro por Deus, era gelado! Peter ou Paul, então me lembrou "ela tem que estar em seis partes".

Eu dei um sorriso sem graça e voltei ao trabalho. Depois de meia hora consegui secionar a coisa em seis pedaços irregulares. Os meninos comemoraram quando o último pedaço rachou no meio depois de uma boa pancada. Eles enterraram uma das partes ali mesmo e disseram que iam até o outro lado do parque onde pretendiam enterrar outros pedaços, respeitando a distância. Peter ou Paul disse que no dia seguinte apanharia o trem elevado para enterrar as partes restantes do outro lado da cidade.

Como tudo aconteceu numa quinta à tarde, eu pretendia ir ver uns clientes na manhã seguinte, e uma vez que teria de ir para aqueles lados, disse a eles que poderia fazê-lo. Parecia melhor do que deixar os meninos pegar um trem aquela hora. Além do mais, eu estava curioso em examinar aquela coisa, quem sabe até descobrir sua origem. Os meninos me agradeceram, Paul ou Peter fez com que eu prometesse que ia cumprir a tarefa. E realmente era essa a minha intensão. Nãos ei dizer porque, simplesmente queria ver aquela porcaria enterrada. Os meninos se despediram, desceram a rua e eu nunca mais os vi.

Mais tarde pensei se no fim das contas eu não havia agido errado. Quer dizer, aquilo era absurdo e ao invés de agir como adulto eu estava incentivando crianças a acreditar naquela bobagem. Além do mais, me arrependi de ter deixado eles irem sozinhos até o parque para enterrar os pedaços da estatueta. Ainda mais perto de escurecer! Por outro lado, um adulto andando pelo parque, com quatro garotos, podia passar a mensagem errada.

O pedaço que ficou comigo era o maior fragmento, com a cabeça e o peito da figura. Eu cheguei em casa por volta das 18 horas e arrumei alguma coisa para comer. Por alguma razão, não queria olhar para aquela coisa, por isso guardei ela dentro de uma gaveta no móvel da sala.

É curioso, mas logo que cheguei em casa, comecei a sentir uma sensação estranha, como se eu não estivesse sozinho dentro do apartamento. Trabalhei no computador por algumas horas e várias vezes olhei por cima do meu ombro apreensivo, como se esperasse me deparar com alguém atrás de mim. Era uma sensação esquisita, de estar sendo observado. Quem já sentiu isso, sabe do que estou falando. Não é possível explicar exatamente como é, mas a sensação o impede de relaxar. Felizmente aquilo passou, e resolvi ir dormir por volta das 23:00.

Peguei no sono rapidamente, mas por volta das 02:00 da manhã acordei com um ruído estranho, um tipo de zumbido baixo que eu imaginei vinha do aquecedor. Levantei e chequei o aparelho que estava funcionando perfeitamente. Aquela sensação de não estar sozinho havia retornado com força total e eu sentia cada pelo do meu corpo se levantar. Eu podia sentir que haviam olhos me observando. Revistei o apartamento de cima até embaixo, procurando por algum invasor, sabendo o quão absurdo era aquela situação, afinal na época eu morava sozinho e as portas estavam trancadas.

Voltei para o meu quarto, liguei a televisão e tentei me distrair, mas a apreensão continuava... e de vez em quando, eu podia ouvir claramente aquele ruído de estática variando em intensidade. Finalmente, por volta das 04:00 da manhã, quando estava cochilando levemente, ouvi um estrondo dentro de casa, e fui ver o que podia ser. Não me entenda mal, eu não sou corajoso! Corri sem pensar, foi uma reação espontânea e impensada.

Encontrei a sala toda bagunçada, com objetos jogados em todo canto como se tivesse passado um furacão por ali. O armário tinha sido arrastado cerca de meio metro, o sofá e uma poltrona estavam de cabeça para baixo, um quadro tinha caído da parede e as cadeiras da mesa estavam tombadas. As janelas estavam abertas e a cortina voava sem parar. A luz piscava acendendo e apagando. O som de estática estava ali na sala. Apesar do termostato estar regulado para 24 graus, eu sentia suor frio brotar na minha testa.

Imediatamente fui até a gaveta da cômoda para ver se o pedaço da estátua ainda estava lá. Não sei porque fiz isso, mas algo dentro de mim conectou aquele fenômeno bizarro ao fragmento do objeto. Ao constatar que estava onde tinha deixado, coloquei a peça no bolso da calça, e imediatamente tive a sensação de que não estava sozinho. Era como se alguém ou alguma coisa, estivesse me observando furiosamente. Girei o mais rápido possível a tempo de me deparar com uma forma horrível. Era uma silhueta gasosa, sem um corpo definida, ela flutuava no ar como um balão diáfano. Lembrava uma sombra delgada e esticada, mas a única coisa que eu conseguia discernir era uma face muito pálida longa que parecia brotar no ar. Tinha uma boca larga e vermelha como se os lábios estivessem pintados com sangue e uma expressão grave, transbordando ódio. Mas o pior eram os olhos esbugalhados injetados, tomados de incontrolável raiva. Eu quase fiquei paralisado por aquele olhar maligno.


A face pálida avançou na minha direção com a boca aberta e os dentes arreganhados. Eu me desequilibrei e essa foi a sorte, pois a coisa passou apenas do meu lado. A medida que eu caía, senti um cheiro de podridão preencher o ar. Era como uma cova aberta! Não sei como consegui reagir tão rápido, talvez tenha sido o profundo pavor que senti ou a descarga de adrenalina, misturada a auto-preservação. Não ousei olhar para trás novamente, pois eu sabia que se tivesse me deparado com aquela face medonha uma vez mais, acabaria desmaiando. Saltei através da porta tão rápido que em poucos segundos eu já estava no pátio e dali disparei para a rua.

A vizinhança estava deserta, mas tive e pude acenar para um táxi. Entrei no veículo e disse ao motorista para seguir até o outro lado da cidade. No caminho tremia sem parar. Ao chegar no Parque Lincoln me ajoelhei e comecei a cavar um buraco com as minhas próprias mãos no solo meio congelado. Quebrei unhas e arranhei os dedos produzindo cortes nas pedras afiadas do piso, mas não me importei. Depositei o pedaço da estátua na cova que tinha uns 20 centímetros de profundidade. Resolvi então dormir na casa da minha irmã e só na tarde seguinte tive coragem para voltar ao meu apartamento. 

Logo na entrada, encontrei meu senhorio que informou ter más notícias. Aparentemente alguém havia invadido o meu apartamento. Os vizinhos assustados com a algazarra haviam chamado a polícia. Eles ouviram gritos e urros aterradores, além do som de coisas se quebrando. Acharam que devia ser algum lunático ou drogado. Quando a polícia chegou, a comoção já havia terminado, o "invasor" devia ter fugido.  Eu acredito que o barulho só parou quando coloquei o último fragmento da estátua no chão e o cobri com terra. 

A polícia foi gentil em lacrar o apartamento e deixei que eles fizessem um levantamento dos danos, mas abri mão de prestar queixa. Meu apartamento foi bastante danificado e eu perdi algumas coisas, móveis e eletro-domésticos, mas imagino que poderia ter sido muito pior. Depois disso, não tive mais ânimo para continuar ali e resolvi me mudar.

Isso aconteceu há 3 anos. 

Nunca soube o que houve com aqueles meninos ou com seu avô. Também nunca soube de onde veio a estatueta ou o que ela representava.

Eu realmente prefiro não quero saber.


O relato não tinha fotos, mas intencionalmente ou não, a descrição da estatueta me lembrou muito Pazuzu, um demônio babilônico - a mesma entidade maligna que aparece no filme "O Exorcista".

A menção ao horrível rosto de face pálida, também me lembraram o filme, e usei ele como referencial para essa imagens da face pálida em fundo escuro. De longe a coisa que mais me assusta no filme.

3 comentários:

  1. Eu não me lembro dessa parte da face pálida no filme...mas que o relato é "creepy as creepy can be", isso é verdade!!

    ResponderExcluir
  2. Achei o texto muito amador, para falar a verdade. Mas gostei da descrição da estatueta, deixando implícito para mim também que se tratava de Pazuzu.

    ResponderExcluir
  3. "A menção ao horrível rosto de face pálida, também me lembraram o filme, e usei ele como referencial para essa imagens da face pálida em fundo escuro. De longe a coisa que mais me assusta no filme."
    Essa face pálida é horripilante! Ela aparece durante poucos segundos, em cantos escuros, no filme...

    ResponderExcluir