segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Os Espinhos de Glaaki - Um tenebroso Culto no Vale de Severn

E aqui vai um culto devotado a Glaaki.

Para os que acompanham o Mundo Tentacular faz tempo e tiverem um déja-vu ao ler esse artigo, segue uma explicação. Eu escrevi esse texto faz algum tempo, na época em que vários textos sobre Call of Cthulhu e Kult foram postados no fórum da REDERPG e da comunidade do Orkut (alguém lembra?).

Consegui resgatar esse aqui do limbo em que se encontrava, fiz umas mudanças, aqui e ali adicionei mais alguns elementos e eis então... RAISED FROM THE DEAD!



OS ESPINHOS DE GLAAKI

"O culto se reunia nas noites de lua cheia. Vestiam longos mantos de cor marrom e se colocavam ao redor do lago para reverenciar aquele que lá vivia. Os cultistas acendiam tochas e ficavam a observar as águas estagnadas aguardando que seu Deus surgisse na superfície plácida a fim de honrá-los com sua presença. Algumas vezes ele atendia ao chamado. Surgia diante deles para inserir um espinho no coração de algum cultista e assim submetê-lo à servidão. Eles viam esse ritual como um momento de transcendência, a suprema comunhão com seu mestre e senhor".


O Culto de Glaaki, o Senhor do Lago é nativo da degenerada região conhecida como Severn Valley (Sul da Inglaterra) e se espalha pelos vilarejos semi-desertos que cobrem estas planícies escuras.

Os registros mais antigos do culto, remetem ao ano de 1790 como data de sua fundação. Seu idealizador teria sido um certo Thomas Lee, pastor anglicano que sofria uma profunda crise de fé. Supostamente, Lee havia entrado em contato com estranhos tomos e conhecimento oculto que confundiram suas crenças e o conduziram a delírios e alucinações.

Anos antes, ele havia trabalhado como ajudante de bibliotecário na Congregação de Kent. Sabe-se que entre os livros do acervo encontrava-se um volume em latim das Revelações de Glaaki, livro este que desapareceu do catálogo da biblioteca mais ou menos na época em que o pastor recebeu sua designação para presidir uma paróquia em Carmody (uma pequena cidade nas proximidades do Vale Severn).

A única imagem de Thomas Lee
Chegando a cidade o pastor tomou lugar como ministro, porém alguns fiéis logo se mostraram desapontados com seus sermões e escreveram às autoridades eclesiásticas pedindo um substituto. Entre as reclamações, afirmavam que o pastor tinha "idéias estranhas" e que suas celebrações eram repletas de rituais e cerimônias de natureza inquietante.  Em uma ocasião o pastor teria trespassado a palma da própria mão com um longo espinho de ferro e em outra teria se deixado possuir por algum tipo de espírito que falou em uma língua desconhecida, babou, gritou e correu de quatro pela igreja, o que naturalmente chocou todos que estavam presentes no local.

Após enviar observadores para verificar o trabalho do pastor, as autoridades religiosas requisitaram que Lee retornasse imediatamente para Kent a fim de ser submetido a uma avaliação. Extra-oficialmente correram boatos sobre a capacidade do pastor em conduzir uma celebração e até sobre seus estado mental. 

Thomas Lee se negou a obedecer a ordem e acabou destituído de seu ministério. Furioso decidiu se afastar da Igreja e criar seu próprio culto com o apoio de alguns poucos fiéis que viam a "verdade" em suas estranhas celebrações.

Em meados de 1800, o Pastor alegou receber sonhos e premonições de natureza messiânica a respeito de um lugar iluminado onde ele deveria constituir seu sagrado ministério. Ele guiou seu rebanho mais para o interior do Vale, alegando que havia recebido visões e que estas indicavam onde sua comunidade deveria ser erguida. O local escolhido foi às margens do escuro Lago Brichester e eles escolheram chamar o lugar de Nova Gethsemâni. O secto iniciou a construção de algumas casas modestas de madeira e de uma pequena igreja entorno do lago. O pastor pessoalmente batizou seu rebanho fazendo com que eles mergulhassem nas águas estagnadas e se erguessem como almas purificadas do pecado.

Nos meses seguintes o grupo de devotos que contava com seis famílias e um total de vinte e dois indivíduos passou a viver nessa comunidade fechada, devotando-se inteiramente à sua estranha crença. Eles celebravam casamentos entre si, tratavam seu pastor como um profeta e suas crianças eram batizadas com nomes estranhos. Os vizinhos mais próximos os evitavam e o contato com suas estranhas práticas era mínimo. Boatos davam conta de que Thomas Lee e outros membros da congregação tinham mais de uma esposa.

O isolamento da comunidade se manteve por décadas.

As poucas pessoas que visitaram Nova Getsemâni nesse tempo contavam que os moradores do vilarejo se comportavam de maneira estranha e que havia uma quantidade alarmante de crianças com problemas físicos e mentais perambulando pelo lugar. Os casebres eram incrivelmente miseráveis e as pessoas não tinham quase nada. Os mais velhos partilhavam de um estranho idioma que soava aviltante aos ouvidos, mas o pior sem dúvida era a esquálida igreja da cidade, uma construção sinistra envolta em uma aura brumosa bem na beirada daquele lago escuro. Uma das portas nos fundos, segundo testemunhas, dava para o lago e quando este enchia na época das chuvas, o lugar era cercado pela água.

A Igreja à beira do Lago de Brichester
Apenas aqueles batizados pelo reverendo Lee podiam adentrar a igreja, embora ninguém fizesse muita questão de entrar ali. As músicas que os poucos visitantes ouviam, cantada naquele idioma medonho, causava um misto de temor e inquietação. Em 1856, um condestável do povoado vizinho de Carmody deixou a cidade às pressas depois de ouvir a congregação reunida entoando um daqueles cânticos.

Havia ainda outra coisa. Os recorrentes boatos sobre pessoas que desapareciam nos arredores. Viajantes e comerciantes itinerantes, e até mesmo vizinhos que construíam muito próximo do povoado tinham o hábito de desaparecer sem deixar vestígios. Muitos acreditavam que eles simplesmente se mudavam, outros preferiam não elaborar suas suspeitas.  Logo, mesmo entre os lugarejos inóspitos que pontilhavam o mapa do Vale de Severn, Nova Getsemani começou a figurar como um lugar a ser evitado por qualquer um com bom senso.

Por volta de 1870 autoridades locais de Brichester que realizavam um senso, tencionavam visitar Nova Getsemâni. Um grupo visitou o vilarejo e encontrou o local em estado de total abandono. Apuraram que os habitantes haviam partido por razões ignoradas, deixando para trás suas casas simplórias de madeira e suas parcas possessões. O que quer que tenha acontecido, na cidade atingiu a todos e ninguém ficou sabendo.

Com uma mistura de surpresa e alívio os vizinhos apuraram que todos haviam desaparecido. Na época, julgou-se que os colonos haviam simplesmente seguido para outra região mais atraente e desistido de viver em um lugar tão isolado e sujeito a um inverno rigoroso. 

A verdade é no entanto bem mais terrível. As pessoas do vilarejo haviam criado um culto chamado "Espinhos de Glaaki", em homenagem a coisa tenebrosa que passaram a glorificar. Uma vez construídas as casas e o templo, o pastor Lee começou a batizar seu rebanho, o que envolvia evocar Glaaki e permitir que ele inserisse em cada membro da congregação um de seus espinho. Logo Glaaki criou servos totalmente fiéis que lhe ofereciam sacrifícios.

O Habitante do Lago
Rapidamente Glaaki colocou os habitantes do vilarejo sob seu comando, transformando a população em escravos. Os cultistas mantiveram seu isolamento por anos à fio, realizando adoração, capturando ocasionais viajantes para aumentar seu número e disputando território com cultos que proliferam no Vale de Severn.

O culto, entretanto estava fadado à extinção em face da tenebrosa Corrupção Verde. Os cultistas sabendo que não poderiam mais passar por humanos conduziram um ritual em que todos mergulharam no lago a fim de se unir ao seu Deus. E eles continuam lá embaixo, emergindo de tempos em tempos para buscar vítimas e cumprir as tarefas impostas pelo seu mestre.

Atualmente o culto de Glaaki não existe, ao menos não de maneira organizada. Por muitos anos circularam estórias e lendas a respeito dos antigos habitantes do vilarejo vagando pela região, perseguindo viajantes desavisados que ousavam se aproximar do lago à noite.

De tempos em tempos, maníacos ou indivíduos com grande sensibilidade para o sobrenatural são guiadas para as margens do lago de Brichester onde encontram as ruínas do velho povoado abandonado. Dizem que na velha igreja ainda podem ser vistos painéis cobertos com as terríveis inscrições Aklo que revelam magias de evocação ao Deus do Lago para aqueles capazes de decifrá-las. Acredita-se também que o volume carcomido das Revelações de Glaaki ainda se encontre na igreja ou no porão de algum dos casebres. 

Em 1928, Richard Melbourne, o notório Carniceiro de Brichester foi preso depois de ter assassinado entre oito e onze vítimas (nunca se soube ao certo). Todos foram mortos e esquartejados com machado em rituais de sacrifício presididos pelo próprio assassino. Na prisão, ele revelou que cumpria ordens do Deus do Lago e que foi um seguidor do "Espinho de Glaaki". O assassino foi enforcado em 1925. Dois meses depois sua sepultura foi violada e o corpo desapareceu. Algumas pessoas afirmam que Melbourne não foi enforcado até a morte e que sobreviveu à execução. 

Em 1934, um indivíduo não identificado foi encontrado vagando pelos arredores do lago. O sujeito estava nu e apresentava um ferimento no peito causado por um enorme espinho ainda alojado. Médicos foram chamados para cuidar do paciente que morreu poucas horas depois. O espinho foi retirado e levado para a Universidade de Leeds onde continua guardado intrigando cientistas e pesquisadores quanto a sua origem. O corpo desse estranho desapareceu do necrotério poucos dias mais tarde.  

Em 1957, parte do Lago de Brichester foi dragado para um projeto de represamento. O projeto foi cancelado nos anos seguintes e considerado inviável diante de dificuldades que se apresentaram para a conclusão da empreitada. Na época houve boatos a respeito de acidentes e pesadelos experimentados pelos engenheiros e trabalhadores envolvidos. Reportou-se ainda a descoberta de inúmeras ossadas humanas no leito do lago, o que nunca foi confirmado.

Os Seguidores se erguem do Lago
Em 1988, o professor Roger Barton da Universidade de Leeds conduziu um estudo a respeito da antiga comunidade que se instalou nas margens do lago. O professor desapareceu misteriosamente enquanto visitava as ruínas de Nova Getsêmani e seu paradeiro permanece desconhecido.

Finalmente em 2012, uma equipe de televisão à serviço de um programa de sucesso britânico chamado "Scare Zone" realizou um especial na área. O objetivo da equipe era encontrar indícios de atividade paranormal ou fantasmagórica nas lendárias ruínas da cidade. Dos seis membros da equipe apenas um foi encontrado com vida dias por um grupo de resgate. As filmagens recolhidas serviram para averiguar o que aconteceu. Esse material jamais foi liberado para o público por ser considerado demasiadamente perturbador.  

Um comentário:

  1. Maravilhoso! Estarei usando esse material para criar uma aventura para jogarmos hoje a noite em Rastro de Cthulhu (ia mestrar Observadores do Céu), mas a história me excitou!

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