quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Cthulhu 101-b - O Quebra Cabeça, da obtenção a análise das pistas


OBTENDO AS PEÇAS DO QUEBRA CABEÇA

Imediatamente depois de ter contato com a Premissa do Mistério, o grupo de investigadores já formado dá início ao processo de obtenção de pistas.

Um cenário investigativo envolve a procura e descoberta de pistas que ajudem a resolver o mistério.

O que não falta em Chamado de Cthulhu são pistas a serem seguidas e fontes a serem consultadas. O grupo pode ter que revistar os bolsos de um cadáver, verificar a origem da faca encontrada nas costas de um sujeito assassinado, revistar o porão de uma casa assombrada, vasculhar uma biblioteca em busca de um tomo, pesquisar os registros gerais da cidade, procurar uma passagem secreta na velha igreja...

Um dos princípios de CdC é que todo mistério deixa um rastro que precisa ser seguido. Documentos antigos, anotações de rodapé em livros, rascunhos de experimentos, recortes de jornal, páginas de diário, fotografias...


Nesse estágio do cenário, os personagens se debruçam sobre uma infinidade de pistas e se dividem em grupos para coletar informações em vários lugares. Não é raro que uma das ações do grupo seja distribuir tarefas: enquanto uma parte deles segue para a biblioteca a fim de examinar livros, outros interrogam uma testemunha central e alguns vão até o jornal local consultar os arquivos em busca de notícias que possam lançar uma luz sobre o caso.

Cada investigador tenta reunir a maior quantidade possível de informações. É como se cada investigador obtivesse duas ou três peças do quebra cabeças, que só vão fazer sentido quando elas forem colocadas lado a lado com o que os outros apuraram.

Em cenários mais longos o processo de obtenção de pistas pode ser extensivo e complexo, demandando várias cenas para ser concluído. Em campanhas, podem haver sessões inteiras devotadas a encontrar um importante fragmento de informação que ajudará a resolver o mistério. Para ser bem sucedido o grupo tem de lidar com diferentes personalidades e superar obstáculos, desviar a atenção das autoridades, rivais e inimigos, se agarrar com unhas e dentes a cada pista.


Em nossos exemplos de cenário, as primeiras pistas encontradas ou pesquisadas poderiam ser:

a) O grupo vasculha o quarto de hotel ocupado pelo arqueólogo. Encontram um diário com várias páginas faltando, uma agenda com algumas anotações sobre contatos pessoais e um documento de importação do porto relativo a entrada de itens trazidos do Egito. Acham também uma fotografia tirada na expedição mostrando um curioso templo em ruínas.

As primeiras pistas irão fornecer a base para uma investigação mais ampla. Elas são valiosas para entender no que Grant estava trabalhando e com quem ele se encontrou recentemente. Já os documentos de importação vão conceder pistas ainda mais interessantes para saber o que ele trouxe da expedição.  

b) Os investigadores fazem uma pesquisa sobre os membros da expedição e constatam que alguns deles tem experiência com o estudo do sobrenatural. O líder da expedição chefiou uma espécie de sociedade devotada ao estudo do oculto. Descobrem também que a expedição levou uma grande quantidade de rifles e munição. Qual seria o real objetivo deles?

Antes mesmo de seguir viagem para a Antártida, o grupo já inicia sua investigação traçando quais foram os planos e preparativos da expedição que os precedeu. O que eles estavam buscando, quem eram os membros, qual a área especialidade de cada um, alguém já explorou aquela região, o que descobriram por lá? Mais estranho, porque eles estariam levando tantas armas?  

c) O grupo de investigadores primeiro ouve o depoimento de Gerald West. Ele compartilha a história da família, o background de seus antepassados e permite que eles tenham acesso a sua biblioteca. Alguns se concentram em entrevistar os empregados (quem sabe a governanta saiba de algo?). Pesquisando os papéis encontram uma Bíblia Sagrada contendo a árvore genealógica dos West anotada na contra-capa, algumas fotos amareladas de gente muito estranha, um velho diário que menciona o julgamento da feiticeira Black Nellie e a existência de uma casa onde ela vivia, destruída num incêndio.

Nem todas as pistas são físicas, algumas decorrem de entrevistas com pessoas que ouviram boatos, interrogatórios de gente envolvida ou testemunhas oculares dos fatos. Descartar mentiras deslavadas, separar as informações dúbias e se ater a verdade (nada mais que a verdade) é de suma importância para o investigador de CdC.

ANALISANDO AS PEÇAS DO QUEBRA CABEÇA


As pistas obtidas abrem opções para analisar o problema sob uma nova ótica. Dificilmente uma pista encontrada nessa altura da investigação será suficiente para desvendar o caso. O mais provável é que os indícios coletados nesse primeiro momento sirvam para estabelecer um foco e indiquem quais os passos seguintes a serem dados e em que direção.

Não raramente uma pista obtida terá de ser confirmada. O que o grupo tem em seu poder é apenas um fragmento que não se sabe onde pode ser encaixado. Apenas ampliando as pistas os investigadores conseguirão entender o panorama geral e a medida que eles se inclinam sobre um indício outros começam a surgir. É uma espécie de encadeamento no qual uma pista conduz a outra e assim por diante. 

O livro básico de Chamado de Cthulhu compara essa fase da investigação com o processo de remover as camadas de uma cebola. Quando os investigadores removem uma camada, eles encontram outra logo em baixo. Essas camadas podem se suceder indefinidamente, mas em algum momento eles irão conduzir ao que está no centro.

Removendo as camadas, ou seja processando as pistas, os investigadores avançam em sua investigação:

a) O grupo descobre onde Grant concentrou as escavações no Egito; uma área distante do Vale dos Reis evitada por outros arqueólogos. Ficam sabendo que uma outra expedição esteve na mesma região anos atrás e que apenas alguns sobreviveram a uma revolta logo após a descoberta de um templo. A caderneta de notas indica que Grant se encontrou com um dos sobreviventes dessa expedição antes de partir e que tencionava encontrá-lo novamente. No porto, ficam sabendo que o arqueólogo trouxe um enorme caixote de madeira do Egito. Um dos estivadores que ajudou a desembarcar os objetos dá com a língua nos dentes e conta que viu no interior da caixa um tipo de sarcófago com uma múmia. No museu descobrem que o sarcófago foi roubado na noite anterior!


Com base na análise dos primeiros indícios, surgem várias questões que precisam ser respondidas para a investigação seguir adiante: O plano de Grant era assumir a pesquisa da expedição anterior? Eles tiveram sucesso na empreitada? O que motivou a revolta? Onde ficava o templo e o que aconteceu com ele? Sobre o que o arqueólogo conversou com os sobreviventes? O que havia dentro do sarcófago trazido no navio? onde foi parar esse caixote?


b) Seguindo para a Antártida (após uma longa viagem que deixa margem para muita ação!) os investigadores encontram a estação de ciências em ruínas. O lugar parece ter sido devastado por uma terrível tempestade de neve. Embora hajam alguns corpos, a maioria dos cientistas simplesmente desapareceu. O grupo vasculha o local e encontra papéis que relatam o dia a dia das pesquisas, acham uma gravação do líder da expedição e mais importante: um mapa que mostra onde um grupo avançado estava acampando com o intuito de explorar uma passagem subterrânea repleta de fósseis.

O grupo tem a chance de processar várias pistas físicas. Talvez eles localizem os diários de mais de um cientista, documentos oficiais contendo planos, ordens, leituras de instrumentos técnicos e científicos. Com certeza eles não poderão entrevistar ninguém (a não ser que encontrem um sobrevivente escondido) mas poderão realizar uma autópsia nos mortos e saber o que os matou. Também é possível haver espécimens recolhidos, os tais fósseis mencionados que lançam uma luz sobre os objetivos da expedição. Quem sabe os cientistas tenham lutado e usado os rifles para abater uma das criaturas que os atacou, talvez ela esteja meramente ferida, rondando a base, espreitando os corredores apertados, disposta a eliminar quem quer que se aproxime dela.

c) De posse das pistas, o grupo vai a campo. Eles entrevistam uma velha criada que sabe de estórias de fantasmas e que menciona a maldição dos West. Ficam sabendo que outros membros da família teriam simplesmente desaparecido sem deixar vestígios. Explorando o vilarejo descobrem que as pessoas na cidade não gostam da família West e que vários túmulos no cemitério local vem sendo escavados por ladrões. O grupo vai até a biblioteca e o arquivo geral tentando descobrir a localização da cabana que se incendiou e que supostamente pertenceu a feiticeira Black Nellie. Descobrem que ela se localiza em algum lugar dentro da floresta.

O roteiro se aprofunda a medida que o grupo apura a possibilidade da maldição ser verdadeira e ter atingido vários membros da família. Eles também são confrontados por informações desconcertantes sobre túmulos violados, seria o caso de vigiar o cemitério? A descoberta de que a cabana que pertenceu a bruxa se localizava na floresta pode motivar uma visita ao local em busca das ruínas da cabana. Que tipo de preparativos o grupo precisa realizar antes de se embrenhar na mata?

É possível que nessa etapa ocorra um pequeno vislumbre do horror ou uma ameaça aos investigadores. Um ataque por parte dos antagonistas é plenamente justificável uma vez que o grupo está se aproximando da verdade. Esses obstáculos entretanto, jamais podem ser mais significativos do que o encontro climático reservado para o fim do cenário.

Seja como for, a coleta de pistas acaba por levar os investigadores a uma conclusão e ao confronto que serão comentados na terceira (e última parte) dessa série.

Um comentário:

  1. Os três exemplos de cenários diferentes usados para exemplificar as diferentes etapas do desenrolar de um cenário ficaram ótimos! Realmente fizeram grande diferença na qualidade do post! Essa série "Cthulhu 101" vai ajudar muita gente!

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