domingo, 23 de março de 2014

Lugares Estranhos: Kalkajaka - As Lendas da Montanha Maldita dos Aborígenes


Como uma ilha perdida em um mar verde, uma grande massa de pedras negras se destacam contra o céu do nordeste da Austrália, destoando de tudo a sua volta. Essa é a região das Black Mountains, conhecida pelo povo aborígene como "Kalkajaka" (A "Montanha da Morte" em dialeto aborígene). 

Segundo as tradições, trata-se do lugar mais assustador do mundo, localizado no território de Queensland, a apenas 25 quilômetros ao sul de Cooktown

Os aborígenes evitam esse lugar a todo custo, aludindo a antigas lendas repletas de horror e medo. Os homens brancos se surpreendem com a quantidade de pessoas que tentam explorar essa região e que jamais são vistos novamente, como se tivessem sido engolidos pela terra. Pássaros e animais também evitam essa área erma e silenciosa. Até mesmo aviões raramente cruzam o céu, uma vez que relatos sobre estranhas turbulências e perturbações magnéticas, já causaram inúmeros problemas a aeronaves. Em 1991, um avião à serviço do Bureau de Recursos Minerais voava sobre Black Mountain seguindo para o norte. Utilizando um magnetômetro de hélio e um espectrômetro, a tripulação conduzia testes para averiguar a presença de rochas magnéticas e fazer a medição dos níveis de radiação. Os resultados foram negativos, mas de repente uma repentina turbulência, surgida do nada, derrubou o avião. 

Os mistérios que cercam os desaparecimentos e ocorrências sobrenaturais continuam desafiando os céticos. As pessoas que habitam a região próxima alertam os exploradores: "Qualquer um disposto a explorar Kalkajaka deve estar bem equipado e preparado para enfrentar muitos perigos – desde deslizamentos, areia movediça e cânions, até se deparar com uma infinidade de serpentes venenosas."

As Black Mountains surgem abruptamente na paisagem, como se fosse um colossal monte de carvão, descarregado por milhares de caminhões no meio de uma vastidão de árvore verdejantes, em sua maioria eucaliptos. Essa montanha tem três quilômetros de comprimento, e o que parecem pedaços de carvão são na realidade grandes pedregulhos negros, alguns com até seis metros. Uma estrada tortuosa conduz até o topo. Lá no alto, existe uma parada para descanso com um mirante de onde se pode contemplar a paisagem selvagem. Segundo geólogos, essas montanhas se formaram há cerca de 250 milhões de anos atrás. Elas são o resultado da produção de magma endurecido que gradualmente sofreu erosão, atingindo uma altura máxima de 300 metros. Em face de fatores climáticos, os colossais blocos de basalto negro se deterioraram, esfacelando-se em milhares de peças individuais de todos os tamanho e formas.      


Mas os entusiastas de mistérios tem uma opinião diferente a respeito da formação de Kalkajaka. Embora o processo geológico seja um padrão reconhecido para a formação dessas montanhas, as Black Mountains apresentam características peculiares. É por isso que muitas pessoas afirmam que esse relevo parece ter sido de alguma forma construído por meios artificiais. Alguns vão mais longe, afirmando que restos de uma antiga civilização, datando da aurora da humanidade (ou talvez até mais antiga que o próprio homem) pontilham a região. Os recessos da montanha esconderiam segredos assombrosos: pinturas rupestres representando magníficas cidades e seres estranhos, haveriam ainda ruínas de reinos fantásticos com torres e cúpulas abobadadas, câmaras profundas repletas de artefatos desconhecidos e, é claro, riquezas incríveis.

Segundo os aborígenes, existe um caminho que conduz ao coração da montanha, mas ele é guardado pelos espíritos dos mortos, por demônios abomináveis e milhares de serpentes venenosas que agem como guardiões desses segredos. Lendas antigas e modernas mencionam um portão que leva a um império subterrâneo, um dia habitado por uma espécie de seres muito diferentes da raça humana. Outras estórias mencionam uma raça "reptiliana" servida por humanos degenerados transformados em escravos para servir às suas vontades. Fala-se ainda em tecnologia avançada, de magia utilizando cristais e de coisas desconhecidas que homem algum deveria conhecer.       

Nas tradições orais do povo aborígene, as Black Mountains sempre fizeram parte de narrativas aterrorizantes. Até os dias atuais, vigora um tabu a respeito de tudo que envolve essa região. Os poucos nativos que aceitam falar a respeito dela, afirmam que se trata de um lugar maldito, onde imprevisíveis eventos sobrenaturais tendem a ocorrer. Alguns mencionam presenças indescritíveis, uma sensação palpável de estar sendo observado e de sons misteriosos que não pertencem a nenhum animal conhecido. Comentam que objetos de metal se comportam de modo estranho, sendo atraídos por forças invisíveis, sente-se odores nauseantes e um ruído persistente e enervante no fundo da mente.

Se nada disso fosse suficiente para multiplicar os boatos, a própria natureza parece conspirar contra a presença de visitantes. Muitas das estórias sobre aventureiros que visitam as Black Mountains terminaram de forma trágica. Estima-se que centenas de pessoas simplesmente sumiram enquanto vagavam pelas montanhas. Os corpos de muitos foram resgatados, a maioria vítima de acidentes envolvendo quedas fatais, mas eventualmente circunstâncias mais estranhas. 

Ao menos é nisso que acreditam os frequentadores do Lion Den Inn, um dos pubs mais populares da Península de Cape York. O bar em Cooktown é o ponto de encontro de habitantes, de aborígenes, bem como dos ocasionais turistas que são atraídos pela aura de mistério que permeia a região. O Lion Den é um ótimo lugar para ouvir estórias contadas por pessoas como Pete Fitzgerald, que vive na cidade há mais de 40 anos.  

"Mesmo que você seja um cético, como eu me considero, é impossível descartar todas as coisas esquisitas que acontecem nas Black Mountains. Eu vi com meus próprios olhos gente sendo resgatada em completo desespero depois de se perder e passar alguns dias vagando sem rumo. Participei de pelo menos três grupos de busca, formados por voluntários para resgatar pessoas perdidas, e posso dizer que senti algo estranho ao visitar essa montanha" conta Fitzgerald para quem quiser ouvir, entre um gole de cerveja e outro. 

"Há estórias ainda mais antigas a respeito de uma tribo inteira de aborígenes que se escondeu para fugir de inimigos e que desapareceu sem deixar vestígios. Falam de animais que evitam a área... pois bem, eu vi cães usados por grupos de resgate ganindo e uivando, só de chegar perto do Kalkajaka. Um desses animais, chegou a atacar seu treinador e quando se soltou dele, correu para um despenhadeiro e saltou lá embaixo. E isso não é estória, eu vi acontecer!".

Segundo Fitzgerald e outros frequentadores do pub, os aborígenes temem a montanha por conhecer intimamente os seus segredos. "Mas boa sorte ao tentar tirar deles qualquer estória sobre o Kalkajaka. Eles evitam até falar esse nome, alguns sequer olham na direção das montanhas". 

Claro que muitas das estradas construídas e a infraestrutura assentada nos anos 1950 foi trabalho de nativos, mas estes se recusavam categoricamente a passar a noite nas proximidades da montanha. Mesmo hoje em dia, a população de aborígenes em Cooktown e arredores é pequena em comparação a outros territórios. Mesmo os nativos mais integrados a cultura britânica e afastados de suas próprias tradições, respeitam os costumes tribais no que tange às Black Mountais.          

Uma das únicas lendas compartilhadas pelos aborígenes a respeito do Kalkajaka, diz que quando o mundo ainda era jovem e a raça humana apenas engatinhava, viviam naquelas montanhas membros de uma tribo maligna conhecida como "Devoradores de Carne". Esta tribo praticava rituais terríveis, adoravam demônios que viviam no interior da montanha e ofereciam a eles sacrifícios em troca de conhecimento e magia. Tão grande era o terror que despertavam nas tribos vizinhas que estas concordaram em pagar um tributo aos feiticeiros, enviando-lhes mulheres e crianças para que estes satisfizessem seus apetites. Um dia, uma vítima escapou e não havendo ninguém para oferecer em seu lugar, as tribos falharam em fazer a sua oferta. Sentindo que sua autoridade estava sendo desafiada, os Devoradores desceram a montanha na direção de um vilarejo. Lá capturaram várias vítimas que encontraram adormecidas e os arrastaram consigo para seu refúgio. 

Sabendo que as tribos jamais teriam paz enquanto vivessem nas Montanhas Negras, elas decidiram deixar tudo para trás e partir. Apenas a fome poderia acabar com os Devoradores, a lógica é que se lhes fossem negado sacrifícios para aplacar o desejo dos Demônios, estes iriam se voltar contra eles. As tribos então partiram para longe, onde não poderiam ser alcançadas. Desde então, homens e animais passaram a evitavam o Kalkajaka e os Devoradores de Carne desapareceram. Mas ao contrário dos homens que podem morrer, os demônios que vivem dentro da montanha continuam vivos e não perdem a chance de agarrar vítimas.


        
Naturalmente tudo isso parece nada mais do que superstição, mas a maioria dos habitantes de Cooktown comenta que as montanhas realmente tem uma aura perturbadora. Eles citam os ruídos incomuns que são ouvidos à noite: o som de lamentos, choro, melodias alienígenas e tremores que parecem vir do chão. Eles dizem que esses sons abafados parecem exercer alguma influência sobre as enormes pítons, as traiçoeiras serpentes venenosas, únicos animais a habitar as Black Mountains. O consenso é que as montanhas são perigosas, melhor portanto, ficar longe delas.

Rob Neubarth, que é atualmente o Guarda Florestal de Cooktown já esteve em Kalkajaka muitas vezes e conta:

A maioria das pessoas que explora as montanhas, prefere fazê-lo durante o dia e são raros os que passam a noite por lá. Alguns contam que parece existir uma aura inquietante pesando sobre as montanhas, algo que causa uma angústia quase sobrenatural. Pessoas se queixam de dores de cabeça e náusea, apenas depois de ficar algumas horas por lá. Além disso, as trilhas são ingrimes e pedregosas, não havendo um único lugar adequado para montar acampamento. No topo, a única vegetação que proporciona alguma sombra são as árvores retorcidas e os arbustos cheios de espinhos. Os blocos de pedra lisa esquentam horrivelmente e esse calor fica retido durante a noite. É possível sentir através da sola dos sapatos o calor que vem do chão. Nos recessos escuros na montanha se ergue um fedor cáustico de enxofre que domina o lugar, e não há vento que o afaste. Mas o pior é a escuridão, quando a noite vai chegando e as sombras das montanhas se projetam nas pedras. Tudo fica muito escuro. Você não enxerga um palmo diante do nariz e mesmo as lanternas parecem não iluminar a escuridão.

Rob fez parte de diversos grupos de busca e resgate e sempre que encontra viajantes e turistas interessados em explorar as Montanhas tenta dissuadi-los de acampar no local:

Acampar em Kalakajaka é uma péssima ideia, mesmo para campistas experientes. Não há água, não há iluminação e o terreno é péssimo. Além disso há serpentes venenosa que não se intimidam com a luz das fogueiras. Se uma pessoa for mordida lá em cima, será muito difícil chegar à cidade à tempo de ser socorrida. Quem escala essa montanha disposto a passara noite, só vai conseguir sair de lá quando amanhecer. 


O guarda florestal diz que não acredita em histórias sobrenaturais, mas segundo ele, Kalkajaka oferece um terreno extremamente perigoso e desafiante. O tipo do lugar onde o menor descuido pode resultar em um acidente fatal.

Outro morador de Cooktown e um dos maiores pesquisadores a respeito das Montanhas Negras é Hans Lowel, que afirma ter explorado o local várias vezes. Hoje um sexagenário, Hans desistiu de suas aventuras e se dedica a compilar os mitos e lendas aborígenes sobre a região. Ele afirma que os mistérios das montanhas vão muito além de meros rumores espalhados por nativos supersticiosos e exploradores bêbados.

"Existem registros que mencionam eventos inexplicáveis por essas bandas", conta ele sorrindo enquanto mostra alguns antigos papéis amarelados cuidadosamente guardados em caixas de arquivo no seu apartamento. Um desses papéis é o relatório de um policial de Cooktown, o Sargento McGuillian, escrito há mais de 70 anos.

Segundo o relatório de McGuillian os casos estranhos começaram logo depois da chegada dos primeiros colonos que se estabeleceram na região. O primeiro acidente fatal reportado, data de 1877; a vítima foi um homem chamado Grayner, que estava explorando as montanhas e caiu em um fosso. Seu corpo foi encontrado dias depois, "a cabeça torcida em um ângulo estranho" segundo testemunhos da época e "seus ossos estavam todos partidos". Algum tempo depois, um ladrão de banco chamado Sugarfoot Jack e dois comparsas se esconderam nas Black Mountais, após um tiroteio. As autoridades procuraram pelos bandidos, mas tudo o que encontraram foi um acampamento arruinado que tinha sido abandonado. Na pressa, os bandidos haviam deixado para trás até o dinheiro do roubo e seus cantis de água. Os policiais encontraram sinais de luta e rastros de sangue que terminavam abruptamente num despenhadeiro. Treze anos depois, o delegado de Cooktown desapareceu nas montanhas enquanto procurava um prospector que também havia sumido. Grupos de busca encontraram rastros que conduziam para uma ravina e no fundo dela acharam uma mochila que pertencia ao policial, mas nada de seu paradeiro. Os rumores a respeito de ouro nas Black Mountains atraíram vários prospectores no começo do século e muitos deles simplesmente foram engolidos pela montanha. Os números não são oficiais, mas algo entre 25 e 70 pessoas teriam sumido durante esse período. 


Um dos casos mais famosos envolve um fazendeiro chamado Harry Owens, proprietário do Rancho Oakley Creek. Em 1924 ele subiu as montanhas à cavalo, em busca de um novilho que havia se desgarrado. Quando Owens não voltou, seu capataz, George Hawkins, alertou a polícia, e foi em busca do patrão. Quando as autoridades se juntaram a busca, Hawkins também havia desaparecido. Dois aborígenes que trabalhavam para a polícia como rastreadores encontraram rastros que conduziam a uma caverna natural. Os dois aborígenes entraram na caverna rochosa, mas apenas um voltou aterrorizado. Ele balbuciou coisas sem sentido e disse ter sido perseguido por monstros horríveis que viviam dentro da caverna. Em 1947, dois exploradores britânicos decidiram mapear essas cavernas a fim de determinar o que havia acontecido anos antes. Encontraram várias pinturas rupestres nas paredes e vestígios de que as cavernas haviam sido habitadas num passado remoto por nativos, mas não acharam nenhum sinal das pessoas que desapareceram em seu interior. Nas décadas seguintes os rumores continuaram, viajantes ocasionais sumiam ou morriam em Kalkajaka, o que ajudou a consolidar a sua fama de assombrada.

Os mistérios das Black Mountains, no entanto, podem ter uma explicação mais razoável: Aqueles que não conseguem encontrar a trilha através do labirinto de pedras, simplesmente não conseguem retornar. Se perder nesse terreno é especialmente perigoso já que não há comida ou água para garantir a sobrevivência por muito tempo. Além disso, as serpentes venenosas são um perigo constante. A paisagem escura e desolada pode desencadear a perda de orientação e qualquer descuido, como por exemplo cair em um recesso pode ser fatal. Uma vítima despencando em uma fissura natural, pode simplesmente desaparecer e jamais vir a ser achado. Os sons estranhos ouvidos podem ser decorrentes de rochas se partindo com o calor acachapante ou o assovio furioso do vento dentro das cavernas.

Mas diante de tantas estórias e lendas, é virtualmente impossível afastar o temor despertado por Kalkajaka. 

2 comentários:

  1. eu com essa curiosidade enorme, devo passar longe de um local assim,pois não sei se resistiria ao ímpeto de explorar rs. Ótima postagem!

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  2. Olá mundo tentacular, tudo bem? Eu gostaria de mostrar uma informação a respeito dos mythos de Cthulhu que achei e escolhi esse post por ser o mais recente aparentemente. Trata-se de um trecho do site: tissuc.chez.com/textes/A_Telecharger/Burton_Lovecraft_Necronomicon.txt (Suposto site que diz sobre um suposto testemunho do escritor do necronomicon), falando sobre um deus chamado Mlandoth. “É claro que os deuses mais antigos, os protótipos de todos os deuses do homem, eram conhecidos e adorado antes da existência dos homens, e é ainda mais claro que os deuses mais antigos todos procedem de a uma fonte. Essa fonte é às vezes chamado Mlandoth, e todos os deuses são, mas variado manifestações e extensões do Uno. Mas se Mlandoth é um lugar, ou uma entidade consciente,ou um turbilhão inconcebível de forças desconhecidas e propriedades fora do cosmos perceptíveis, não é conhecido com certeza. Certainaly Ngyr-Khorath, a coisa louca e monstruosa que assombrou esta região do espaço antes do sistema solar foi formado e assombra ainda, é apenas um redemoinho locais da vastidão que é Mlandoth. E não é fábula "Ymnar, o perseguidor escuro e sedutor de toda a inteligência terrestre," apenas o braço de Ngyr-Khorath, órgão criado à imagem da vida terrena e da consciência para corromper que a vida e conduzi-lo à sua própria destruição?
    E nem sequer grande Yidhra, que nasceu de e com a vida da Terra e que, pelos éons entrelaça infinitamente com todas as formas de vida terrestres, ensinar reverência para Mlandoth?”
    Há, na internet, outros pequenos textos relacionados a Mlandoth e outro deus chamado MRIL Thorion, eles dizem sobre ambos terem se juntando num único ser e criar tudo que existe, outros afirmam (obviamente, como o próprio mundo tentacular) que Azathoth foi quem fez isso. Acho esse caso digno de um post.

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