quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Pickman Exposto - Uma biografia do fascinante Artista do Macabro



Artigo originalmente publicado em 30 de Setembro de 2009

Richard Upton Pickman é sem dúvida um dos personagens mais memoráveis criados por H.P. Lovecraft. Protagonista do fantástico conto "Pickman's Model", Richard era um pintor cujo apuro artístico o conduziu através de uma busca incessante por inspiração. Sua musa inspiradora, no entanto, era a morbidez, que finalmente despertou nele terríveis necessidades e deu início a horrenda transformação de homem em Ghoul.

O texto a seguir simula uma matéria de revista de arte em que a carreira de Pickman é examinada.

Arte do Bizarro

Um ensaio sobre o polêmico Richard Pickman

No panorama da arte atual, a polêmica ganhou destaque graças a expoentes como Francis Bacon e Anuard Janeau. Mas um dos mais controversos artistas americanos surgiu bem antes.

Richard Upton Pickman nasceu em Providence, estado de Rhode Island, coração da Nova Inglaterra no ano de 1884. Um jovem artista de invejável técnica, ele se tornou conhecido pelas telas retratando paisagens ermas e panoramas igualmente lúgubres. Pickman era descrito como um jovem excêntrico, fascinado pela obscura história colonial de sua cidade, vizinha da infame caça às bruxas. Ele costumava vagar sozinho pelas florestas escuras, em busca de inspiração, preferindo explorar locais insalubres como cemitérios isolados e velhas casas em estado de completo abandono. Os poucos amigos para os quais confidenciou esses "passeios da infância" se recordam dele narrá-los com um ar de enorme nostalgia. Tais experiências desenvolveram em Pickman uma profunda sensibilidade para retratar o incomum e um olho clínico para o bizarro.

Pickman era dotado de um talento natural para as artes. Em seus passeios levava sempre um caderno no qual desenhava aquilo que via e que despertava seu interesse. As ruínas de uma antiga casa colonial, as urzes selvagens crescendo em um jardim sem reparos ou as lápides rachadas de um velho cemitério colonial.

Quando completou 18 anos, deixou Providence para estudar na Universidade de Minneiska em Wisconsin. Naquela época, Minneiska já era frequentada por artistas fascinados pelo romantismo e pela decadência. O contato com poetas aficionados pela poesia melancólica de Lord Byron alçou seus instintos mórbidos a um novo patamar. Contudo o realismo cru das telas de Pickman fez com que ele fosse evitado mesmo pelos colegas de curso.

Ao completar os estudos, Pickman se estabeleceu na cidade de Boston. Imediatamente ele começou a produzir seus trabalhos na pequena casa que alugava em North End. É dessa época a série de telas à óleo conhecidas como "Sacrifício" em que Pickman apresenta sua visão da religiosidade. Várias dessas obras foram criticadas e encontraram enorme resistência por parte do público. Em uma mostra realizada na famosa Galeria Tuttle, um dos quadros de Pickman chegou a ser vandalizado por um vistitante escandalizado pela sua representação da natividade.

A arte de Pickman chocava, mas continuava a atrair a atenção do público. Sua série seguinte com clara inspiração nas técnicas de Henry Fuseli e Gustav Doré foram mais bem sucedidas, contudo não garantiram ao jovem artista fama ou retorno financeiro.

Embora o público tenha recebido suas obras friamente, comenta-se que algumas de suas telas foram adquiridas por colecionadores de arte. Pickman teve uma vida modesta, ocasionalmente vendo-se obrigado a dar aulas para pintores aspirantes a fim de complementar seu orçamento.

Existem rumores que certa vez, ele foi contratado para retratar uma senhora da alta sociedade. O resultado, no entanto, insultou a mulher de tal forma que sua contratante enterrou a pouca reputação que ele havia cultivado ao longo de anos. Por um tempo Pickman fez parte do Clube de Arte de Boston, mas eventualmente foi forçado a se desligar da associação por pressão de alguns de seus colegas que se diziam chocados pelas telas obscenas que ele produzia.

Uma tela em especial, chamada "Os Vermes da Terra" foi adquirida pelo notório ocultista de Arkham, Cabot Jenkins pouco antes deste ser assassinado. Houve rumores que o igualmente polêmico ocultista britânico, Alesteir Crowley considerou Pickman para retratá-lo. Segundo alguns, Crowley confidenciou que apenas o jovem pintor seria capaz de captar a sua verdadeira essência. Verdade ou não, é pouco provável que Pickman e Crowley tenham se encontrado pessoalmente.

A fama de Pickman entre estudiosos das "ciências ocultas" é confirmada por cartas escritas por ele próprio: "Sinto uma grande proximidade com esse círculo de pessoas ditas exóticas. Talvez pelo fato delas poderem compreender o que quero demonstrar em minhas obras." escreveu certa vez ao seu marchand.


Em 1925, Pickman vendeu o quadro "Salomé" ao poeta Edward Pickman Derby (um parente distante) que por sua vez o ofereceu a noiva Asenath Waite, pouco antes deles casarem. Waite foi reconhecidamente uma estudiosa de ocultismo e uma mulher "a frente de sua época". O quadro segundo consta ganhou um lugar de honra na propriedade do casal em Crownshield.

A produção artística de Pickman sempre foi questionada. Para alguns ele raramente terminava uma obra, para outros seu ateliê na Rua Grimanci, uma vizinhança com artistas, vivia cheio de telas. Alguns afirmam que o pintor manteve por algum tempo um loft no Centro de Boston e que lá passava a maior parte de seu tempo. Esses mesmos colegas insinuaram que várias telas de Pickman teriam sido guardadas nesse estúdio secreto e que ainda aguardam ser descobertas.

No ano de 1926, Richard Upton Pickman desapareceu de sua casa em Boston, junto com várias de suas telas. Alguns acreditam que ele tenha cometido suicídio, pois sua carreira estava estagnada há tempos. Outros acreditam que o pintor tivesse simplesmente desistido da carreira artística indo buscar em outra atividade a aquiescência do público.

Uma explicação mais bizarra foi concedida pela medium Anita Gershwin em 1932 que afirmou enigmaticamente que "Pickman havia atingido outro estado de consciência, algo que ele apenas conseguia arranhar em suas provocantes obras".

A verdade talvez nunca se venha a saber pois nunca mais se ouviu falar de seu paradeiro.

Nas décadas que se seguiram ao misterioso desaparecimento, algumas telas assinadas pelo artista continuaram aparecendo. Todas elas com a marca registrada do peculiar pintor: a aura de morbidez e opressão. Se as telas foram pintadas por um falsário ou não, é matéria de discussão. Especialistas divergem apontando para um estilo similar, mas concordam com a existência de elementos novos nas técnicas.


Pickman representa apenas suma nota de rodapé na história da pintura norte-americana quando foi redescoberto nos anos 60 por expoentes da contra-cultura.

Em 1967, o famoso agitador cultural, Noah Crysholm organizou uma mostra com quadros de Pickman que fez enorme sucesso. O estilo visceral de Pickman talvez fosse demais para a sua época, mas nos turbulentos anos 60, regados a rebeldia e extravagância eles encontraram reconhecimento.

Em 1969, um quadro de Pickman, chamado de "A Ceia dos Malditos" foi adquirido pelo demonologista e fundador da Igreja de Satã, Anton LaVey. Em 1973, uma das obras de Pickman em exposição no Museu de Arte Moderna de Boston foi danificada por um ex-seminarista que atirou ácido na tela. O homem, considerado mentalmente perturbado alegava que a obra era uma afronta aos olhos de Deus. Apesar da ação drástica, a tela continuou em exposição por mais alguns meses até simplesmente desaparecer.

Em 1981, Pickman ganhou evidência uma vez mais através das cartas enviadas pelo assassino em série conhecido como "O Açougueiro de North Compton". O matador, responsável por oito vítimas afirmava em uma das várias cartas que enviou à polícia, que matava para homenagear gênios como Richard Pickman. A carta provocou mais uma febre de Pickman na Nova Inglaterra e motivou uma polêmica exposição chamada de inoportuna pelas famílias das vítimas.

Mais recentemente, Pickman é um nome conhecido entre colecionadores e marchands. Ele parece ter especial apreciação no mercado oriental com colecionadores japoneses consumindo avidamente suas telas e dispostos a pagar verdadeiras fortunas por obras de um artista tão obscuro.

Com tantas reviravoltas em sua carreira, Pickman parece ainda despertar controvérsia e interesse. É bem possível que sua obra seja resgatada uma vez mais, e volte a igualmente chocar e maravilhar.

5 comentários:

  1. ja procurei tanto esse conto e não acho =(

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    1. É um conto relativamente curto, mas puta que pariu !

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    2. Você deve procurar pelo livro "O Chamado de Cthulhu" do H. P. Lovecraft, que reúne esse e mais alguns contos celebres do autor.

      Um link para baixar o livro (em várias versões, inclusive em PDF):
      http://lelivros.love/book/baixar-livro-o-chamado-de-cthulhu-h-p-lovecraft-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

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  2. Slc, algumas linhas chegam ser mais macabras, mas fiquei impressionado com o texto, muito bom.

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