segunda-feira, 6 de julho de 2015

O Incorruptível Corpo em Isleta Pueblo


Todas as coisas vivas um dia morrem.

Mórbido como pode parecer, essa frase não tem nada de estranho ou errado. Essa é uma parte inevitável de um ciclo natural. Nós nascemos, gradualmente envelhecemos, morremos e nossos restos se tornam poeira a medida que desaparecem.

Algumas culturas antigas não temem a morte, pois dizem com muita propriedade que "a morte é a única certeza da vida" ou que "cada minuto de vida, leva mais perto da morte". Para alguns esses pensamentos servem como lembrança de nossa transitoriedade nesse mundo e estimulam as pessoas a viver cada segundo como se fosse o último.

Entretanto, existem casos misteriosos que desafiam, ao menos em parte, esse ciclo implacável de morte e corrupção.


Um duradouro enigma em algumas partes do mundo diz respeito ao inexplicável fenômeno de cadáveres que simplesmente se recusam a apodrecer e se decompor. Estes permanecem intactos por anos e anos após a morte da pessoa. As Igrejas Católica e a Ortodoxa se referem a esses restos humanos como "Corpos Incorruptíveis" (Incorruptibilium), e acreditam que eles resistem às depredações do tempo em face de sua santidade ou da intercessão divina. De fato, tal predicado é considerado como um importante fator para a beatificação e a ascenção de um indivíduo à santidade. Não apenas os cadáveres, mas também os objetos enterrados com eles resistem de modo prístino a passagem do tempo, sendo vistos como relíquias divinas, permanecendo em perfeitas condições livres de degradação, sujeira e até mesmo poeira. 

 Há uma clara distinção entre o estado de incorruptibilidade e mumificação, embalsamamento ou qualquer outra forma de preservação criada pelo homem. Cadáveres embalsamados podem se manter preservados por muito tempo após a morte, mas os métodos utilizados envolvem manipulação e a aplicação de compostos químicos. A preservação artificial deixa marcas óbvias: palidez, rigor e outros indicativos visuais e olfativos que podem ser facilmente percebidos. Já os corpos incorruptíveis permanecem imaculados, idênticos a como eram quando vivos. Eles possuem a mesma flexibilidade, o mesmo rubor e em muitos casos não possuem sequer o característico odor da decomposição. Algumas pessoas acreditam que esse grau de preservação sópode ser resultado direto de forças sobrenaturais. Seja qual for a causa desse mistério, corpos preservados tem deixado as pessoas perplexas há séculos.


Um dos mais interessante casos de preservação conhecidos ocorreu na Igreja de Isleta Pueblo, no etsado do Novo México. O santuário foi construído originalmente no ano de 1613, e é uma das mais antigas igrejas dos Estados Unidos. A estória se inicia em meados de 1700 com um frei missionário chamado Juan Jose de Padilla que foi enviado para o território do Novo México para erguer uma missão. Padre Padilla era um homem muito simples e admirado pelos paroquianos. Durante uma viagem a uma fazenda ele foi atacado por bandoleiros, esfaqueado e abandonado para morrer na estrada. Seu corpo foi recuperado e levado para Isleta Pueblo, onde foi enterrado sob o altar principal da igreja em 1756. Padre Padilla ficou pacificamente sepultado ali até um incidente 19 anos mais tarde. Durante uma missa, o piso da igreja, junto com o altar, começou a ruir e desmoronar sem razão aparente, acompanhado de estranhos ruídos vindos de baixo. As pessoas presentes não conseguiam entender o que estava acontecendo, até que o corpo de Padre Padilla, surpreendentemente brotou do chão consagrado.      

Quando os surpresos paroquianos e sacerdotes examinaram o cadáver, eles se surpreenderam ao descobrir que se tratava do Padre Padilla. Alguns que o haviam conhecido em vida se espantaram ao perceber que ele estava igual ao dia em que morreu. O corpo estava flexível, corado e segundo testemunhas quente ao toque. Mesmo os trajes estavam perfeitamente limpos e intactos. Para todos os efeitos, ele parecia estar vivo. Confuso com o que encontrou, o sacerdote pediu a presença de autoridades clericais para examinar o cadáver. Estes vieram imediatamente, mas não conseguiram encontrar uma explicação racional para aqueles restos extraordinariamente bem preservados. Na falta de uma explicação concreta, a igreja decidiu reenterrar o corpo, dessa vez vestindo Padre Padilla como um monge e concedendo a ele um sepultamento franciscano. Alguns acreditavam que o Padre havia retornado como protesto por ter sido enterrado sem que as formalidades de sua ordem fossem atendidas. O novo enterro iria evitar novos incidentes. Mas não funcionou!

Padre Anton Docher
Em 1819, o caixão de Padre Padilla emergiu do piso onde havia sido enterrado pela segunda vez. Novamente por intermédio de um fenômeno inexplicável que fez tudo vir a superfície de maneira repentina. Embora tivessem se passado 44 anos desde o primeiro incidente, o cadáver de Padre Padilla continuava imaculado. Nem ele e nem suas humildes roupas monásticas haviam se degradado. Os restos foram examinados uma vez mais e nenhuma explicação foi obtida. O corpo foi então depositado em um caixão de vidro e deixado em exposição para os fiéis por alguns anos. Para qualquer um que visse o corpo, parecia que ele estava simplemsente tirando uma soneca.      

Com tanto tempo tendo se passado desde a morte de Padre Padilla, e sem apresentar qualquer sinal de ter sido artificialmente preservado, a igreja o proclamou como incorruptível. Além das condições perfeitas, era surpreendente que do cadáver frequentemente emanava um perfume de flores, de orvalho ou de terra molhada. Em 1875, a igreja declarou que o estado do cadáver era um milagre e Isleta Pueblo se converteu em destino de perigrinação. Alguns acreditavam que tocar as vestes do padre tinha efeitos curativos.   

Nas décadas seguintes testemunhas relataram ter visto o fantasma de Padre Padilla rondando as dependências da igreja. Alguns disseram ter visto a figura vagando pelo jardim e pelo cemitério ao lado do templo. 134 anos depois do primeiro incidente, o franciscano francês Padre Anton Docher que cuidava da igreja, relatou ouvir batidas vindas do subsolo de Isleta Pueblo. O som persistente dos estrondos era tão incômodo que não o deixava dormir. Seguindo o ruído ele descobriu que este vinha do porão que fora coberto com tábuas de madeira. Os estranhos sons eram tão claros que ele decidiu chamar alguns homens para arrebentar as tábuas e escavar no lugar. Diz a lenda que durante os trabalhos, os homens localizaram várias ossadas desconhecidas, possivelmente pertencentes a um cemitério indígena que havia existido ali muito antes da construção da Igreja. Ainda segundo a lenda, a descoberta macabra desencadeou uma série de incidentes inexplicáveis e diabólicos. Passos eram ouvidos quando não havia ninguém, vozes, coisas se quebravam e incêndios começavam do nada.

Para piorar, Padre Docher e os operários envolvidos na escavação contraíram uma doença que lhes causou uma estranha gangrena e alucinações. Docher teria se curado depois de vivenciar um sonho no qual Padre Padilla lhe ensinou uma oração para exorcisar o templo da presença de espíritos malignos. Depois de liberar o templo, Docher e os homens se curaram miraculosamente.

A estória foi colhida pelo escritor John Nester, autor de livros sobre parapsicologia que nos anos 1920 tratou o fenômeno de Isleta Pueblo como um caso impressinante de atividade espiritual - mais tarde, o fenômeno foi reconhecido como um legítimo poltergeist

Docher, um nativo e John Nester
O fransciscano viveu até os 78 anos, e quando faleceu em 1928, foi enterrado na Igreja. Os restos de Padre Padilla foram depositados novamente no piso da Igreja que passou por uma reforma completa. Em 1969, o piso foi quebrado e um grupo de clérigos examinou a cripta atestando que não apenas o corpo de Padilla, mas também o de Docher estavam perfeitamente preservados. Não foram permitidos exames subsequentes nos restos ou a presença de testemunhas para corroborar o fato.

Alguns supersticiosos acreditam em uma curiosa Profecia que começou a se disseminar em meados da década de 1940. Segundo estes, se um dia o corpo incorruptível sepultado em Isleta Pueblo se deteriorar, o acontecimento marcará o nascimento do Anticristo e o início de seu reinado sobre a Terra. Aqueles que defendem a profecia acreditam que Padre Padilla em vida foi um Homem Santo, acometido por visões e premonições muitas delas incompreensíveis para um homem de sua época. Ele teria deixado documentos registrando suas visões a respeito dos dias negros da humanidade, as guerras mundiais, terremotos e tragédias. As passagens mais significativas falariam da vinda de um Inimigo de Deus. Apesar dos rumores, tais documentos jamais foram vistos e sua existência é altamente contestada.

Finalmente, há boatos de que autoridades eclesiásticas realizam visitas a Isleta Puebla em busca de qualquer sinal visível de deterioração no corpo. A cada década os cadáveres incorruptíveis seriam exumados: os trajes verificados e tudo passaria por um cuidadoso escrutínio. Em 2006, circularam boatos de que as autoridades descobriram sinais de deterioração, mas que tudo foi devidamente abafado para não causar comossão.

A Igreja nega veementemente essas estórias, mas desde 1928 o corpo de Padre Padilla não é visto publicamente.

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