quarta-feira, 29 de junho de 2016

Tralhas de RPG: Mapas de Masmorras e Terras Distantes


Olá pessoal, 

Vamos em frente com mais um mergulho em meio às Tralhas de RPG.

Mês passado, eu comentei a respeito das caixas e mais caixas de papéis, pastas, livros, cadernos e material que acumulei ao longo de todos esses anos jogando RPG. Neste artigo vou dedicar algumas linhas para falar a respeito dos mapas que encontrei entre as minhas tralhas.

Deixe eu começar dizendo o quanto mapas são importantes nas minhas mesas. 

Eu adoro estender um mapa sobre a mesa para ilustrar minhas aventuras, mostrar onde os jogadores estão, apontar para onde eles devem ir, salientar alguns pontos do relevo, falar de florestas inexploradas, de ruínas e fortalezas inexpugnáveis, dos perigos de um vale ermo e de cavernas escuras. Um Mapa é como uma janela que permite aos jogadores conhecer o mundo em que seus personagens vivem. Eles abrem os horizontes de uma trama, concedem uma visão única de todas as possibilidades oferecidas pela ambientação e a tornam bem mais envolvente. 

Mapas ao meu ver são essenciais para qualquer jogo. Se você parar para pensar, boa parte das aventuras de RPG envolvem uma viagem através de uma paisagem perigosa e isolada, uma jornada por território inimigo ou uma exploração num cenário incomum. Os personagens sempre estão indo do ponto A para o ponto B. Senhor dos Anéis? Do Condado até Mordor. Star Wars? De Tatooine até a Batalha de Yavin na qual a Estrela da Morte explode. 

Nessas viagens, os heróis fazem descobertas, vivem aventuras e encontram monstros e seres que vivem nos limites da civilização. Mapas ajudam a visualizar não apenas as distâncias, eles são uma referência do que irá tratar a estória e até onde os personagens estão dispostos a ir para encontrar a aventura... 

Quando aparecia aquele mapa nos filmes de Indiana Jones com uma linha vermelha seguindo o caminho do explorador, tínhamos a sensação inequívoca de nos encaminhar para o desconhecido, rumo ao inesperado, prestes a encontrar um cenário exótico.

Mapas são um item comum que acompanha a maioria dos RPG. A maioria dos jogos possui um mapa encartado, mas o que fazer quando a ambientação que você escolheu mestrar não tem um mapa?

Nesses casos, eu costumo fazer meus próprios mapas o que nos leva a esse artigo. O artigo não é a respeito de mapas prontos, sobre isso, eu escrevi faz alguns anos - para ler a respeito basta clicar no link Mapas de RPG.

Aqui estão reunidos alguns mapas de Terras Distantes que eu fiz em papel pardo (meu favorito para essa tarefa, não só pelo tamanho da folha, mas por que ela tem uma coloração amarelada que lembra papel antigo). 

Para escrever esse artigo, separei alguns dos meus mapas favoritos e mais alguns que pertencem a aventuras que mestrei ao longo dos anos. São mapas de Masmorras, florestas, fortalezas, prisões, palácios, castelos etc...

Francamente, a maioria eu nem lembro de onde vieram ou quando os fiz, mas uma boa parte ainda está fresca em minha memória: as armadilhas letais, as passagens secretas, os tesouros escondidos, os inimigos ocultos e os perigos em cada canto. Bateu aquele deja vu, aquela saudade em alguns momentos, mas acho que esse saudosismo é a razão de ser desses artigos.

Enfim, sem mais delonga, eis aqui alguns Mapas das "Minhas Tralhas de RPG".

Ravenloft

Uma das mais saudosas campanhas que narrei se passava em Ravenloft, a Terra das Brumas. Foi uma campanha na aurora do D20 System entre 2002 e 2009 que levou o grupo de sete jogadores do primeiro ao nono nível e por várias terras assustadoras e domínios sinistros.

Infelizmente, o livro básico de Ravenloft não trazia um mapa e o mapa de AD&D 2a Edição tinha sido drasticamente mudado, então, nada mais justo do que ter um mapa para a ambientação.



Esses são os mapas dos Clusters (bolsões) e das Isles of Dread (Ilhas Sinistras) que parecem flutuar no mar de névoas perpétuo.




Theáh (7th Sea)

Théah é o mundo onde se passam as aventuras de 7th Sea, uma ambientação de capa e espada, com direito a pirataria, mosqueteiros, armas de pólvora, heróis, heroínas, vilões e muita aventura.

Infelizmente, o livro básico trazia apenas um mapa na contra-capa do livro. O ideal era ter um mapa grande do continente - uma mistura de nações e reinos baseados na Europa do final do século XV.

De todos os mapas que fiz, esse é um dos que mais gostei. Coloquei uma série de informações sobre a ambientação fazendo de conta que elas foram inseridas ali pelo cartógrafo que fez o mapa.

Meu plano era usar esse mapa como um grande prop da campanha que eu ia narrar. O cartógrafo responsável por criar o mapa teria colocado pistas escondidas que uma vez resolvidas levariam até um vasto tesouro escondido.

Infelizmente, a campanha de 7th Sea nunca decolou, mas o mapa eu fiz questão de guardar. 





Arrakis (Também chamado de Duna)

Muitos anos atrás eu fiz uma campanha baseada na mega saga de Duna, usando primeiro GURPS e depois passando para o BRP.

É uma pena que dessa campanha que chegou a ter umas 6 ou 7 aventuras não sobrou praticamente nada, e olha que eu tinha toneladas de material escavado na internet para contextualizar o visual do jogo - eu usei muita coisa do roteiro de Jodorov com arte de Moebius e alguma coisa do filme. 

Foi uma campanha bem legal com os jogadores sendo membros de uma casa menor do Landsraad, aliados dos Atreides e destruídos pelos Harkonnen. Eles acabavam se unindo aos Fremen em busca de vingança e tocavam o terror em Arrakis como contrabandistas de Spice Melange e depois revolucionários. A campanha não chegou a ter final, mas foi longe o bastante para o pessoal montar em um Verme!

Tudo o que restou foram esses mapas do coração de Arrakis.






Legends of Five Rings


Essa campanha de Five Rings foi bem legal!

Eu comecei jogando (com meu Samurai Caranguejo casca grossa Otomo Narida), mas quando nosso mestre acabou se mudando para outro estado, acabei assumindo os trabalhos e seguindo por mais umas cinco ou seis aventuras.

Sempre senti falta de um mapa em Five Rings e fiz esse para ajudar o grupo a explorar a grandiosidade de Rokugan. Ironicamente, a maior parte da campanha se passou no sul do continente, de modo que nem precisaria ter feito um mapa completo, mas aí está ele.




The Iron Empire and Dread Sea

Esse mapa foi para uma campanha de Beasts and Barbarians, uma ambientação no estilo Sword and Sorcery se passando em um continente conhecido como Dread Sea Dominions.

Eu mestrei umas dez aventuras nessa ambientação, mesclando muita coisa que eu tirava de histórias do Conan, inclusive uma adaptação da clássica Torre do Elefante e da saga Conan Rei.

Como Beasts and Barbarians é uma ambientação aberta que dá apenas uma pincelada no mundo, inclui uma série de coisas que não existem originalmente. O mais legal é que quando postei esse mapa anos atrás (nos tempos do Orkut ainda!) o autor da ambientação, Umberto Pignatelli veio conversar comigo a respeito da Campanha.




Dungeons e Interiores:

Bom, o que dizer de masmorras?

Depois de ter mestrado tantas aventuras, é natural que eu tivesse muitos mapas de Masmorras. Mas eu não esperava que fossem tantos...

Encontrei mapas de dungeons em cadernos, folhas avulsas, blocos quadriculados, trechos de aventura, etc... desses realmente não lembro de todos, sequer se usei, mas com certeza tem algumas coisas que eu usei repetidas vezes, passagens secretas e armadilhas principalmente fora

m reaproveitadas.

Muita, muita, muita coisa mesmo!

A maioria obviamente é de D&D, já que o jogo pressupõe que você vai explorar muitas masmorras, lembre-se "Masmorras" está no nome do jogo (Dungeons). São mapas de Forgotten, de Ravenloft, de Dark Sun, Greyhawk, Dragonlance, Al Qadim (muitos!!!)...

Mas há muito mais coisas além do bom e velho D&D. 

Achei mapas de cidades fantasmas e cemitérios que usei em Deadlands, a planta baixa de asilos e ruínas usadas em Call of Cthulhu, o mapa de um subterrâneo que usei séculos atrás quando narrei uma série de aventuras com Caçadores Caçados, um mapa do sistema de metrô de Nova York usado em Kult, um palácio inteiro que construí para Conan D20, além de vários mapas mais contemporâneos de Numenera, Savage Worlds e Warhammer Fantasy.

Como disse, é muita coisa, para não ficar repetitivo, inclui apenas alguns nas fotografias. 




























Então é isso...


Ah sim, antes de terminar quero indicar para todos os que gostam de desenhar mapas de Terras fantásticas e Reinos fictícios esse livro: How to Draw Fantasy Art & RPG Maps de Jared Blando.

Caras, esse é um dos livros mais legais para dar ideias de como criar seus próprios mundos de maneira realista e plausível. 

Ele apresenta um belíssimo passo a passo de como construir os reinos, posicionar as cidades de acordo com a ocupação da terra, distribuir recursos e construir um mapa geograficamente coerente com rios, cadeias montanhosas, mares, florestas, pântanos e desertos em posições adequadas.

Na boa, alguns autores de ambientações poderiam se beneficiar muito lendo esse livro para fugir dos estereótipos geográficos que são verdadeiras armadilhas de clichês.

Vale a pena dar uma olhada, sobretudo para quem gosta de criar seus próprios mundos de fantasia. 

E para todos os amantes de Cartografia de Fantasia, assistam esse vídeo e as continuações em que um mapa de fantasia é construído em detalhes.



Opa faltou a Trivia das Antigas:

1) Como eram assinalados nos mapas as estátuas e as passagens secretas no D&D?

2) Qual o nome da colossal cidade subterrânea dos Drows, a raça de elfos negros que habitava Forgotten Realms e que deu origem a uma caixa que custava absurdos 30 dólares nos tempos do AD&D?

3) Quem sou eu? Rastejo pelo chão das Masmorras, catando tudo o que cai, sou translúcido e os aventureiros enxergam através de mim. Quando me batem vibro e não faço nem um som, mas se me tocar você não poderá se mover. Com certeza alguns já me representaram como um dado.

4) Você sabe dizer em que ambientação ficavam os seguintes lugares?

a) Taladas
b) Estuary of the Silt
c) Castle Forlorn
d) Kingdon of Verbobonc
e) The Golden City of Huzuz
f) The Rock of Braal

5) Toril o mundo de Forgotten Realms possui vários continentes análogos a culturas e civilizações da Terra. Você seria capaz de lembrar o nome dos continentes que representam o Extremo Oriente, o Oriente Médio e a América Colonial? 

Respostas no próximo artigo Tralhas de RPG.

domingo, 26 de junho de 2016

O Lobisomen de Bedburg - A Chocante Confissão de Peter Stumpf


Dependendo em quem você quiser acreditar, Peter Stumpf foi um sujeito extremamente perturbado, alguém com uma doença mental não diagnosticada, uma vítima das Guerras Religiosas entre Católicos e Protestantes, ou um Lobisomem agindo sob o comando do próprio Demônio.

Pouco se sabe a respeito das origens ou da vida pregressa de Peter Stumpf, e o que o levou a eventual confissão de que ele seria responsável pela morte de dúzias de inocentes. 

O que nós sabemos a respeito de Stumpf é que ele era um fazendeiro na pequena cidade alemã de Bedburg no final do século XVI. Ele provavelmente levava uma vida árdua, semelhante a outros tantos aldeões nessa época de grandes provações e poucas recompensas.

O sujeito foi capturado em 1589 após uma série de horríveis crimes ocorridos nas cercanias de Bedburg, brutais até para aquele período de extrema violência. À princípio, acreditava-se que os sangrentos assassinatos eram o resultado do ataque de animais selvagens, provavelmente lobos que vagavam pela região coberta de florestas.

Stumpf se tornou suspeito dos crimes depois de ter sido visto andando pela floresta à noite, justamente quando um grupo de caçadores contratados para eliminar a alcateia procuravam pelas feras. Os caçadores rastreavam um enorme lobo negro até uma área isolada da floresta, e perderam suas pegadas. Logo em seguida, eles avistaram Stumpf com roupas sujas de sangue e em atitude suspeita. O fazendeiro não soube explicar porque estava vagando pela floresta àquela hora da noite. Também afirmou que não havia visto lobo algum, o que para os caçadores era impossível, uma vez que o animal deveria ter passado direto por ele.

Mais tarde, os caçadores teriam contado uma estória ainda mais incrível, na qual teriam testemunhado Stumpf se transformar de lobo em homem bem diante de seus olhos. Mas essa estória só foi relatada durante o julgamento que se deu semanas mais tarde.


Os caçadores acompanharam o fazendeiro até sua casa e retornaram para Bedburg antes do amanhecer. Três dias se passaram e uma ovelha foi encontrada morta no campo. Os caçadores foram até o lugar para verificar se um lobo era o culpado. Na ocasião, os homens foram acompanhados pelo Magistrado da Cidade e casualmente comentaram com ele sobre o sujeito estranho que haviam encontrado andando pela floresta.

Impressionado, o Magistrado exigiu que eles o acompanhassem até a casa de Stumpf. Ao chegar lá, encontraram o fazendeiro de cama, supostamente doente, sofrendo de horríveis dores de cabeça. O Magistrado o entrevistou e quando Stumpf não foi capaz de explicar onde esteve na noite anterior ou oferecer um álibi sólido, acabou preso. Na casa, os homens encontraram roupas sujas de sangue e Stumpf não soube explicar de quem era o sangue já que ele não tinha ferimentos. O fazendeiro não reagiu, simplesmente se entregou de bom grado e foi escoltado para Bedburg.

Na cidade ele foi "questionado" por outros dois magistrados. De acordo com a fonte principal detalhando os eventos, um documento intitulado "A Amaldiçoada Vida e Morte de Stubbe Peeter" redigido por George Bores; após ser esticado na tábua pelas autoridades, ele confessou seus crimes medonhos: 

"De sua própria boca ele relatou todo mal que havia feito em sua vida, e tornou conhecido o fato de ter cometido enormes vilanias".     

Segundo os Autos do Processo contra Peter Stumpf, na época com 37 anos de idade, havia muito o que confessar. Sob severa tortura ele contou que aos 12 anos deu início ao serviço das artes negras e da feitiçaria, tornando-se Servo do próprio Demônio. O fazendeiro continuou relatando como Beelzebub em pessoa o presenteou com um cinturão mágico que lhe permitia "assumir a forma de um lobo, forte e poderoso, com olhos que enxergavam na escuridão, garras afiadas e presas cruéis que ele usava para retalhar suas vítimas". Como lobo ele podia correr pelas florestas e campinas sem que ninguém desconfiasse de sua identidade e assim matar impunemente.

Quando perguntado a respeito do paradeiro desse cinturão mágico, Stumpf insistiu que o deixara cair pouco antes de ser encontrado pelos caçadores na floresta. Sem os poderes do cinturão ele se sentia incompleto, o que se refletia nas dores lancinantes de cabeça que o atormentavam - uma punição do diabo por ele ser descuidado.


Após uma busca na Floresta, na qual nenhum cinturão mágico ou não vou encontrado, Stumpf relatou que o diabo o havia contatado à noite e dito que esconderia o objeto para que ele não caíssem nas mãos de ninguém. O Diabo havia ficado furioso com seu servo por ele ter sido capturado e por ter revelado suas nefastas barganhas.

Embora soe ridículo e fantástico, o relato foi corroborado por testemunhas que surgiram de todas as partes afirmando "sempre terem desconfiado de algo diabólico" a respeito do fazendeiro. Isso e a palavra de dois caçadores que posteriormente "lembraram" ter visto a transformação do lobo em homem, foram suficientes para construir todo um caso contra ele.

O fazendeiro revelou em seu julgamento diante de uma platéia aterrorizada que usou o cinturão ao longo de muitos anos com o intuito de se transformar em um Licantropo. Ao usar esse terrível poder, Stumpf explicou que se sentia compelido a consumir sangue e carne. Um desejo incontrolável de saciar sua sede matando bezerros recém nascidos, às vezes com os próprios dentes, para beber seu sangue ainda quente. Mais tarde, ele passou a matar e devorar vítimas humanas.

Exatamente quantas pessoas Stumpf teria matado não ficou claro para o tribunal. Em alguns momentos ele dizia que haviam sido 7, depois aumentava para 10 e finalmente surgiu com a soma de 14. Depois afirmou que 14 eram apenas as crianças, o que incluía seu filho Johan de quem ele havia devorado os miolos crus em meio a um frenesi assassino. Sua longa lista de atrocidades incluía ainda o assassinato de duas mulheres grávidas, cujos fetos ele também teria canibalizado.

Perante os juízes explicou que o Cinturão causava um apetite sexual voraz o que o obrigava a cultivar amantes, buscar prostitutas e quando estas faltavam, atacar mulheres. Várias delas teriam engravidado dele, dando origem a crianças que segundo o fazendeiro cresceriam para virar lobisomens. Stumpf chegou a nomear três mulheres com quem teria tido relações sexuais que residiam em Bedburg, sendo que uma delas chamada Katherina Trompin teria parido uma criança com cabeça de lobo e corpo de bebê. Trompin foi presa e acusada de conluio com feitiçaria, muito embora um exame tenha atestado que ela era virgem e que portanto não poderia ter tido um bebê. Não obstante ela acabou sendo julgada junto com outra mulher de nome ignorado que seria amante do fazendeiro.

Após quatro semanas de julgamento e descrições chocantes, Stumpf foi sentenciado à morte.

É até possível que Stumpf tenha cometido crimes brutais. Assassinos em série sempre estiveram presentes ao longo da história, aflorando em todas as sociedades humanas. Também é bem provável que ele tenha confessado esses crimes, conforme consta nos autos oficiais de seu processo. Criminosos dessa natureza, por vezes tendem a buscar um tipo macabro de "reconhecimento" após sua captura. É como se eles quisessem ter seu "trabalho" conhecido pelo maior número de pessoas. É preciso compreender entretanto que uma confissão não significa muito... por vezes, assassinos em série, mesmo nos dias atuais inventam vítimas que não existem, resultado de suas fantasias e ansiedades. Além disso, as torturas podem ter resultado em confissões fictícias para ganhar a clemência dos verdugos.  


Porém, também já foi especulado que o fazendeiro possa ter sido simplesmente uma vítima do conturbado cenário político da época com histeria a respeito de lobisomens e outras criaturas sobrenaturais. Bedburg, integrava uma região dominada pelos Protestantes, expulsos em 1587 pelo Conde Werner von Salm-Reifferscheidt-Dyck e seus soldados Católicos. Alguns sugerem que Stumpf fosse Protestante como muitos dos que residiam na área, e que ele pode ter sido usado como exemplo para os demais. 

Aqueles que defendem essa teoria utilizam como evidência o fato de que a execução de Stumpf contou com a presença de nobres, dignatários e até de Príncipes da Alemanha que vieram de longe para assistir a execução - algo estranho para a nobreza da época. Trata-se de algo incomum, uma vez que os nobres preferiam se manter distantes desse tipo de execução por considerar o martírio algo desagradável e pedestre. É possível, entretanto, que os alegados crimes fossem tão fantásticos que mesmo a aristocracia demonstrou interesse em conhecer o homem por traz deles.

Seja lá qual for a verdade sobre os crimes, o que não faltam são detalhes sobre a brutal maneira como Peter Stumpf foi executado. 

A amante de Stumpf e Katherina Trompin foram condenadas a morrer queimadas na fogueira. Tratadas como feiticeiras elas foram enforcadas antes de serem amarradas em postes e terem o corpo incendiado com óleo. O fim de Stumpf seria muito mais elaborado. Para o Lobisomem de Bedburg os Juízes escolheram uma das maneiras mais cruéis de execução - ser partido na Roda

Dessa maneira, em 31 de outubro de 1589, Stumpf foi enfiado numa gaiola de ferro transportada por uma carruagem até a cidade de Colônia, o maior burgo da região. Durante seu caminho até a praça da cidade os cidadãos gritavam e jogavam objetos nele. A princípio o Lobisomem reagiu xingando os populares, mas depois de quase ser linchado, se satisfez em sentar quieto.

Na praça ele foi amarrado com cordas a uma roda de madeira, pulsos, tornozelos e pescoço firmemente imobilizados em ângulos que causavam uma dor excruciante. A primeira parte do suplício foi marcada pelo uso de alicates afiados de metal em brasa que arrancaram pedaços inteiros de pele e músculos de suas pernas e braços para deixar os ossos expostos. Então, usando uma machadinha, o carrasco com grande habilidade quebrou os ossos separando os membros do tronco, um a um.     



Depois de morrer, a cabeça de Stumpf foi decepada com a mesma machadinha e separada do corpo. Seu corpo e membros destroçados foram colocados na mesma pira em que ardiam suas concubinas, mortas na véspera.

Quanto a cabeça de Stumpf, ela foi fincada em um mastro preso na roda da tortura, uma placa com o desenho de um lobo foi pregada logo abaixo dela. Ela foi disposta no centro da praça para apreciação pública, como um alerta a todos os bruxos e feiticeiros. 

A cabeça do "lobisomem" teria desaparecido duas noites depois, dando margem a todo tipo de rumor e lenda a respeito de um fantasma humano com cabeça lupina vagando pelas ruas de Colonia. O Fantasma do Lobisomem de Bedburg assombrou a cidade por muitos anos, fazendo com que cidadãos buscassem a benção de São Hervé que tradicionalmente protege as pessoas contra o ataque de lobos. São Hervé ganhou uma capela nas proximidades de onde ocorreu a execução, o que fez com que o Fantasma deixasse de ser visto.    

Hoje, não é possível saber se Peter Stumpf foi ou não o responsável pelos horrendos crimes que assombraram Bedburg. Mas seu nome sobrevive, cercado de infâmia e horror, considerado por muitos como um dos mais notórios criminosos de seu tempo, uma época de superstição, brutalidade e violência.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

"Me tirem desse inferno" - A bizarra fita encontrada no porão do Hospital Sadovich


O artigo a respeito do Hospital Psiquiátrico de Sadovich atraiu bastante a atenção dos leitores do Mundo Tentacular.

Algumas pessoas comentaram a respeito dessa macabra instituição, dizendo que na internet pode ser achado um vídeo que teria sido encontrado no hospital depois dele ter sido fechado.

Jeferson 88, um de nossos colegas, enviou por e-mail o link do vídeo a seguir, que eu achei realmente interessante (pra não dizer bizarro!).

Se bem me lembro, eu já tinha assistido esse vídeo faz uns anos. Ele circulou pela internet e dividiu opiniões. Alguns afirmaram que se tratava de uma montagem grosseira, outros que era parte do trailer de um filme chamado "Entity", enquanto alguns suspeitam que seja apenas um vídeo amador.

Eu pesquisei na internet a respeito da sequência, que tem duração de 1:15 e a estória por trás dela é bem esquisita.

Ao que parece ela foi postada originalmente por um usuário chamado AndreiBlack num fórum de discussão sobre creepypastas no final de 2011, dali, se espalhou rapidamente chegando ao You Tube, nos meses seguintes e tornando-se viral.

Segundo um site, AndreiBlack seria alguém ligado a Artemi Boulechev um conhecido explorador urbano que supostamente invadiu as ruínas do Hospital de Sadovich em Março de 2011. Boulechev teria sido um dos primeiros indivíduos a explorar o local que na época, havia acabado de ser condenado - o incêndio havia ocorrido em dezembro de 2010, três meses antes. Na época o Hospital ainda estava relativamente desprotegido, mas já havia rumores sobre o misterioso subterrâneo.

Bouchelev teria sido um dos pioneiros, possivelmente até o primeiro a ganhar acesso ao porão lacrado desde a década de 1990. Segundo boatos ele teria feito outras três visitas às ruínas, em pelo menos uma oportunidade acompanhado de amigos. Em todas suas "visitas", ele subtraiu do interior das instalações aquilo que podia carregar: documentos, remédios e objetos que se tornaram rapidamente itens desejados por colecionadores de coisas estranhas na Rússia e na Europa.

Entre os itens resgatados por Bouchelev estariam várias gravações e fotografias com o relatório de experiências realizadas em Sadovich, além é claro, fitas de vídeo contendo imagens dos quartos e das instalações. A maioria das fitas não continha nada de estranho ou interessante, eram basicamente filmagens de segurança ou de rotina. 

Contudo, um pacote de fitas com uma etiqueta escrita "Apenas para o Nível 5 - Não fazer cópias" era bem mais interessante. 

O "Nível 5" seria a designação usada pelos médicos e pesquisadores mais importantes trabalhando em Sadovich, aqueles envolvidos em Projetos e Experimentos secretos. Para se ter uma ideia a mau afamada Experiência de Privação do Sono teria sido conduzida pela mesma equipe do "Nível 5", bem como experimentos visando privação de sentidos em tanques de imersão, lavagem cerebral e reconstrução de memórias.

As fitas obtidas por Bouchelev eram absurdamente bizarras! 


Elas continham cenas de experimentos chocantes realizados em Sadovich em meados da década de 1980. A qualidade das filmagens não era das melhores, mas tudo indicava que elas eram originais e haviam sido esquecidas em meio a centenas de outras que foram empacotadas em caixas, pouco antes das instalações serem fechadas. As fitas mostrariam o resultado de algumas experiências, inclusive internos sendo lobotomizados, homens e mulheres beirando a desnutrição recebendo doses maciças de drogas e passando por brutais cirurgias cerebrais.    

O próprio Bouchelev ficou apavorado, temendo que se fosse pego com tal material poderia ser preso pelas autoridades russas. Apesar dos riscos existentes, as fitas eram valiosas e para o cliente certo renderiam uma boa soma em dinheiro.

Segundo fontes, Bouchelev conseguiu vender três das cinco fitas para uma pessoa interessada em Berlim e negociou as outras duas com um colecionador de itens da Guerra Fria na Hungria, mas na última hora as negociações falharam. Ele deixou uma das fitas com um amigo, o tal AndreiBlack em Budapeste e retornou para a Rússia com a fita restante - aquela que, na sua opinião, poderia render mais dinheiro. Entretanto, ao chegar a Rússia ele acabou sendo preso e processado por invasão. Ao que parece, ele vinha sendo procurado desde que suas aventuras nos subterrâneos do Hospital Sadovich o tornaram famoso. A fita que estava em seu poder foi confiscada e supostamente destruída pelas autoridades.

A fita restante, que ficou na Hungria, ao que tudo indica é a que continha o trecho na internet. Ele foi divulgado por AndreiBlack por motivos ignorados, alguns acreditam como forma de protestar contra a prisão de Bouchelev. Uma vez que não se sabe a verdadeira identidade de AndreiBlack não há como saber se ele divulgou o material na integra ou se haveria mais alguma coisa na fita.

Para quem está curioso, aqui está o vídeo:


O que encontrei a respeito do vídeo em si foi que: 

A data da filmagem é de 10/04/83 período em que o Hospital estava em pleno funcionamento.

Para alguns, as imagens mostram o resultado de um experimento conduzido pelo "Nível 5" tencionando despertar Capacidades Telecinéticas em pacientes servindo como cobaias. Alguns acreditam que os soviéticos estavam bem adiantados nas pesquisas a respeito de faculdades mentais e que nessa época já acumulavam um vasto banco de dados sobre o assunto. 

Se essa teoria for levada à sério, podemos inferir que eles tiveram certo grau de sucesso, pois vemos claramente o indivíduo manifestar atividade telecinética fazendo objetos se moverem sozinhos. Além disso, no trecho final o próprio sujeito parece levitar ainda que desacordado. 

Muitas pessoas afirmam que as imagens são parte do filme Entity, lançado no início de 2013, que se passa no Hospital Psiquiátrico de Sadovich. Para alguns o video foi divulgado previamente para aumentar o interesse pelo filme, outros no entanto afirmam que o diretor de Entity, Steve Stone, meramente inseriu a cena que já estava disponível na internet em seu filme.

De acordo com a maioria das fontes, o indivíduo que aparece na filmagem é fluente em russo. Ele se limita a gritar na maior parte das imagens, mas há momentos em que repete as palavras "me deixem sair", "quero ir embora" e "Me tirem desse inferno!". 

Aos 42 segundos da gravação, ele diz as palavras: "eu vou morrer aqui, vou morrer e vocês não ligam. Vou morrer e ninguém vai saber", isso antes de um ataque epilético na cama e do trecho em que ele levita.

Com tudo isso, qual a conclusão? Verdade ou Farsa?

Quem sabe... Tudo indica que a filmagem não passe de um enorme HOAX, mas mesmo isso não apaga o efeito de assistir a sequência pela primeira vez. Ela é extraordinariamente bem feita, sem mencionar perturbadora.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

A Morte vem de Cima - Anatomia dos Horrores Caçadores



"A lua despontava atrás da montanha e o céu começava a escurecer em tons de azul escuro. O fogo diante do altar ardia furioso lançando fagulhas no ar. Com o último grito para o céu, o sacerdote ergueu os braços e implorou para que seus Deuses Negros enviassem seu Mensageiro das Estrelas. A vítima amarrada diante dele gritava e se contorcia com os braços estendidos. De repente um silvo alto se fez ouvir e o som de imensas asas, abafado pela gargalhada do maníaco e pelos gritos de horror da vítima".

Os Caçadores Alados são servos de Nyarlathotep, criaturas possivelmente criadas pelo Caos Rastejante para servir como mensageiros, para transportar cultistas a lugares distantes ou como o próprio nome sugere; caçar aqueles que desagradam o Deus Exterior. Segundo o profano Nameless Cults, Nyarlathotep comanda uma revoada de Horrores Caçadores que habitam os recessos da "Dimensão além dos Limites", uma região acessada apenas através de portais e passagens.

Ainda conforme este mesmo Tomo, as criaturas são invocadas a cada mil anos para uma revoada na qual eles são lançados sobre alguma terra, cidade ou local que desagradou especialmente a Nyarlathotep. Sabe-se que eles foram responsáveis por destruir a cidade de S'alush que um dia foi habitada pelo Povo Serpente e a Nação Onírica de Iquanoc onde eles quase exterminaram os lendários Pássaros Magah. Na Terra, a revoada teria sido convocada a voar sobre o Reino Africano de Assum, no atual Moçambique, massacrando homens, mulheres e crianças que haviam virado as costas ao Culto da Língua Sangrenta (um dos Avatares mais temidos de Nyarlathoteop).

O Necronomicon descreve a magia que permite invocar os Horrores Caçadores, sempre à noite e quando desponta a lua cheia no firmamento. Para conduzir o ritual, o feiticeiro precisa consumar o sacrifício de uma vítima senciente e realizar uma série de complexos cálculos de hiper-geometria. A vítima é colocada em um altar de pedra e quando o Horror surge, ele demanda o corpo para si, devorando-o vorazmente. A magia se conduzida corretamente abre um portal dimensional para o Limiar, que permite o acesso do Horror. Ao contrário do que muitos acreditam, a criatura não se materializa ou viaja pelo Espaço Exterior. As páginas do Necronomicon chamam a atenção para os vários detalhes que cercam esse ritual, aludindo para uma série de perigos inerentes à sua realização. Os símbolos, os cálculos, as oferendas, as frases de poder e os gestos do realizador devem ser perfeitos, do contrário o Horror convocado simplesmente irá devorar o sacrifício e o feiticeiro antes de retornar a sua Dimensão. Alguns livros incompletos ou com uma tradução dúbia podem ignorar certos elementos, o que pode induzir a erros fatais. Mais de um feiticeiro terminou nas garras ou na goela de um Horror Caçador em face de seu despreparo ou descuido.



Chamados de "Caçadores de Sangue" em algumas culturas (no México e no Peru pré-Colombiano), os Horrores podem ser enviados em missões de assassinato. Para isso, o invocador precisa de algumas gotas de sangue da vítima pretendida. O Horror estende sua língua bífida e reconhece através do olfato quem ele deverá matar. Quando compelido a cumprir esse tipo de tarefa, o Horror Caçador voa direto para o local onde se encontra o alvo designado (contanto que este possa ser achado antes do nascer do sol). A criatura não irá parar para nada e ao chegar ao local concentrará seus esforços em eliminar seu alvo, podendo remover violentamente obstáculos que se interponham no seu caminho. Uma vez cumprida sua missão, a criatura alça voo e retorna para o Limiar.  

Apesar de sua disposição temperamental, Horrores Caçadores já foram usados como montaria por Feiticeiros extremamente poderosos - ou suficientemente tolos para tentar essa façanha. Se a Magia de Invocação incluir o Ritual de Vinculação, o Horror se torna incapaz de ferir quem o invocou até o nascer do sol ou até o realizador apagar uma fogueira acesa com ingredientes especiais - necessária para o ritual. Nesse meio tempo, o Feiticeiro consegue subjugar a criatura, permitindo a ele montar em suas costas escamosas. Eibon de Milab, o "Guardião dos Arquivos" e o Necromante reptiliano Haon-Dor de Bendal-Dolun teriam realizado o feito considerável de cavalgar Horrores Caçadores. Eibon teria utilizado um imenso Horror para viajar além das esferas do Tempo e Espaço em pelo menos uma ocasião. Contudo, é tolice acreditar que tais bestas possam ser adestradas ou mesmo domadas. O próprio Nyarlathotep quando assume forma humana, por vezes é visto cavalgando um Horror Caçador ou sendo carregado em uma liteira por ele.

Por vezes, aqueles que conseguem dominar essas criaturas as utilizam como seus arautos, encarregando-os de levar consigo artefatos de poder, mensagens importantes ou mais frequentemente, ameaças, já que poucas coisas podem ser mais intimidadoras que um Horror Caçador.


Horrores são especialmente suscetíveis a luminosidade solar. De fato, qualquer forma de iluminação os irrita, mas apenas exposição direta ao sol é capaz de realmente feri-los. Horrores presentem quando o sol está prestes a surgir e imediatamente retornam para sua dimensão de origem. Se incapazes de fazê-lo, eles tentam se refugiar em cavernas, túneis e galerias onde podem se proteger na escuridão. Ao que tudo indica, eles podem viajar através do vácuo espacial, mas não o fazem temendo a exposição a fontes luminosas. Ao serem confrontados com lanternas ou tochas, os Horrores respondem agressivamente, atacando quem estiver segurando essas fontes luminosas para eliminar o incômodo. Faróis de automóveis e holofotes também enfurecem estes predadores noturnos os levando a um frenesi de destruição.

A exposição direta ao espectro solar causa uma queimadura na criatura e suas escamas começam a se desfazer. Se confrontado com o Sol em todo seu esplendor, o corpo do Horror se desfaz imediatamente em uma nuvem de poeira negra-esverdeada de odor nauseante. A luminosidade também causa cegueira e por vezes um Horror pode perder o rumo e se chocar com obstáculos ou com o próprio chão. Uma vez destruído, o corpo da criatura se desintegra rapidamente não restando nenhum sinal de sua existência.

Os Horrores Caçadores tem a forma de víboras colossais, muito embora alguns os descrevam também como vermes dendriformes ou imensas moreias de corpo sinuoso. Em comum, o fato que eles são seres de corpo longilíneo filamentoso, medindo entre 10 e 12 metros de comprimento, da grotesca cabeça até a cauda afilada. Há relatos de espécimes com mais de 15 metros e de alguns especialmente colossais medindo mais de 20 metros. Seu corpo musculoso é sustentado por um esqueleto formado pela coluna vertebral, costelas, maxilar e um maciço crânio. A pele dos Horrores é resistente, recoberta de escamas lisas, geralmente de uma coloração negra ou cinza escura que vai clareando na direção da barriga que pode ter um tom de cinza mais claro, marrom ou amarelo esmaecido. Composto de uma matéria alienígena, ele co-existe em seu plano dimensional simultaneamente, pulsando em nossa realidade, o que explica as descrições deles, por vezes se assemelharem a uma sombra tremeluzente ou um borrão veloz.


A cabeça é estranhamente desproporcional, em forma de cunha, com um par de olhos avermelhados que brilham com uma inteligência sobrenatural. A boca dos Horrores é larga, dotada de dentes pontiagudos, destacando-se duas peçonhas enormes usadas para perfurar seus oponentes como uma lâmina de picareta. Ao redor da boca, alguns Caçadores possuem uma série de tentáculos menores que se encarregam de capturar e conter as vítimas, empurrando-as para a bocarra. Estendendo o maxilar, o Horror pode engolir um homem adulto, muito embora, eles prefiram potencializar os ferimentos usando suas presas para dilacerar as vítimas capturadas e só então consumi-las. A língua dos Horrores é bífida como a das serpentes terrestres, negra e fria, servindo para sondar o ambiente e obter informações.

Apesar de sua aparência animalesca, Horrores Caçadores são incrivelmente inteligentes, dotados de capacidade cognitiva e poder de raciocínio tão apurado quanto um ser humano médio. Isso garante a eles a faculdade de planejar e traçar estratégias durante suas caçadas. Alguns Caçadores são capazes de compreender idiomas e de estabelecer uma comunicação rudimentar, exprimindo algumas palavras de forma sibilante. Contudo, raramente eles tem algo a dizer. Seres absolutamente anti-sociais, eles raramente são vistos em grupo, exceto quando a Revoada é convocada pelo Caos Rastejante. Não se sabe como ocorrem os ritos de acasalamento, embora alguns teóricos compreendam que existem apenas fêmeas da espécie - informação contestada por outros estudiosos dos Mitos Ancestrais. Ainda que sejam similares em aparência às serpentes terrestres, não há nada na biologia dos Horrores que possa corroborar essa suspeita, para todos os efeitos eles são seres absolutamente alienígenas.  

Uma das características mais marcantes dos Horrores Caçadores diz respeito a sua locomoção. Tratam-se de seres alados, com imensas asas membranosas semelhantes a dos morcegos terrestres, com uma envergadura com mais que a metade de seus corpos pulsantes. Embora a maioria dos Horrores possuam duas asas que se projetam de seu dorso, alguns espécimes apresentam apenas uma grande asa semelhante a um guarda-chuva que se debate de forma estranha para permitir longos saltos - mas não o voo! Horrores se deslocam a uma velocidade considerável em nossa atmosfera, podendo empreender perseguição a aviões de pequeno porte ou helicópteros civis. Além da velocidade, eles são capazes de desempenhar manobras aerodinâmicas que lhes permite operar vôos rasantes, mergulhos, giros ou simplesmente pairar no ar. No chão, eles se movem através de "saltos", nos quais o corpanzil se enrola, lançando-se como uma mola na direção desejada em um movimento brusco que cobre dezenas de metros. Há relatos de Horrores dotadas de pequenos braços esguios com fortes tendões capazes de agarrar e manipular objetos. Estes espécimes, entretanto são extremamente raros podendo constituir algum tipo de mutação.


Os Horrores atacam de duas maneiras: projetando seu corpo no intuito de esmagar os oponentes sob seu considerável peso ou então com uma mordida perfurante. Ambos os ataques são devastadores contra inimigos menores, fazendo deles oponentes perigosíssimos. Em alguns casos, eles tentam capturar suas presas dando voltas em torno da vítima que pode ter todos os ossos de seu corpo esmigalhados pela potente constrição. Usando essa mesma manobra, eles podem subjugar suas vítimas e carregá-las para o ar em um impulso, seja para levá-las até seus mestres ou simplesmente soltá-las quando estiverem em uma altitude mortal.

É possível que as muitas lendas a respeito de serpentes aladas, desde aquelas presentes no folclore do Oriente Médio e Grécia, passando pelas Serpentes emplumadas da Cultura Inca-Asteca, a Serpente do Arco-Iris haitiana e até os Dragões Chineses se refiram a avistamentos de Horrores Caçadores. Em todos os casos, tais seres são vistos com um misto de veneração e terror.

domingo, 19 de junho de 2016

Depósito de Loucos - As Experiências no Hospital Psiquiátrico de Sadovich


Em dezembro de 2010, quarenta e duas pessoas morreram em um incêndio no Hospital Psiquiátrico de Sadovich na região ocidental da Sibéria, Rússia. Grupos de resgate trabalharam arduamente no local por três semanas tentando recuperar corpos carbonizados dos escombros. A demora na remoção se deu pelo fato de que os próprios responsáveis pelo hospital não sabiam ao certo quantos pacientes estavam sob os seus cuidados.

Os corpos a medida que eram removidos da estrutura foram levados para o hospital da Vila de Lurka onde se iniciou o complicado trabalho de identificação. 

O acontecimento foi considerado num primeiro momento um trágico acidente. 

Mas a medida que as investigações e os trabalhos de busca avançavam, fatos perturbadores começaram a vir à tona. Dentre os 42 mortos, 40 eram internos da instituição uma parcela muito desigual em comparação aos dois funcionários falecidos, o que indicava que o staff pouco fez para ajudar a evacuação dos pacientes. Além disso, a maioria dos mortos foi vítima de asfixia provocada pela densa fumaça inalada, como apuraram os exames de necrópsia. As chamas foram responsáveis pela morte de relativamente poucas vítimas. Um bom número de internos estavam trancados em seus quartos ou em áreas comuns cuja entrada era barrada por grades e trancas. Mais aterrorizante é que 18 dos mortos estavam presos por algemas, cordas e até correntes que ficavam soldadas a grilhões nas paredes. Eles sequer tiveram a chance de escapar.


Embora o número total de vítimas tenha sido fixado em 37, ativistas dos Direitos Humanos até hoje suspeitam que o número possa ser muito maior. Algumas fontes afirmam que o Hospital Psiquiátrico de Sadovich comportava mais de 150 internos, apesar de sua lotação de 60.

Especialistas concluíram que o fogo teve início em uma das salas de recreação. Um dos internos na véspera teria subtraído um isqueiro pertencente a um dos membros do staff. Acredita-se que nas mãos do paciente, este tenha sido usado para atear fogo um um armário que estocava material de limpeza altamente inflamável. Isso explicaria como as chamas se espalharam tão rapidamente e porque foi praticamente impossível deter o incêndio que em apenas duas horas consumiu a antiga estrutura de três andares.

O governo russo criticou o fato do hospital não possuir um plano de evacuação ou de combate a incêndio. A opinião pública também reagiu com indignação diante da tragédia. Os responsáveis pela instituição explicaram que havia um plano para transferir os pacientes e demolir o prédio para a construção de um prédio mais moderno. O incêndio chamou a atenção para a situação caótica dos Hospitais Psiquiátricos na Rússia: entre 2005 e 2011, nada menos do que quatro instituições passaram por incêndios com vítimas fatais.  


Sadovich era uma Instituição Antiga com uma longa e tumultuada história.

Fundada em 1931 com o nobre intuito de hospedar pacientes mentalmente perturbados e oferecer tratamento psiquiátrico de qualidade, ele jamais atingiu essa meta. Ele foi construído para atender a demanda por uma instituição hospitalar na região, já que o manicômio que existia previamente foi destruído ironicamente em outro incêndio. Logo Sadovich se converteu meramente um abrigo para loucos, reclusos, excêntricos e indesejados apelidado de "O Depósito de Loucos da Sibéria".

Infelizmente, em seus primeiros anos de funcionamento, Sadovich se tornou algo mais: o destino para muitos dissidentes e presos políticos considerados como inimigos da Revolução. Sendo a Sibéria e seus Gulags o frequente destino de indivíduos que desagradavam o sistema, um número indeterminado de pessoas teria sido enviado para o confinamento mesmo sem sofrer de qualquer doença mental. O Hospital se notabilizou por receber membros do partido que caíam em desgraça e acabavam presos. As instalações receberam milhares de pacientes durante seu 85 anos de funcionamento, em parte porque vagas abriam facilmente.


Apesar de ser considerado um Hospital de referência, Sadovich sempre teve de lidar com rumores desabonadores que criticavam uma infraestrutura precária, maus tratos e lotação. Por vezes, ele não tinha condições de oferecer nada além de uma sopa rala para os internos. Sobravam, no entanto, acusações ainda piores a respeito do que acontecia atrás de seus muros. 

Muitos acreditam que entre 1940 e 1950, o Hospital Psiquiátrico de Sadovich se tornou o palco para experimentos moralmente questionáveis de Recondicionamento Comportamental. Os pacientes serviam como cobaias para todo tipo de experiência psicológica. Entre os muitos experimentos supostamente realizados nas instalações, ocorriam testes com drogas psicotrópicas e hipnóticas, lavagem cerebral através do uso de substâncias químicas, cirurgias visando modificação de personalidade, testes com lobotomia e implantação de memórias falsas. Ao longo de todo período do regime soviético, o abuso político da psiquiatria foi flagrante e as cortes de justiça podiam condenar presos a um recondicionamento psicológico, ou seja, tratamento compulsório em um manicômio.

A partir de 1960, Sadovich passou por uma profunda transformação. Ele se converteu em um centro de referência para médicos soviéticos, especialistas em experimentos envolvendo memória e análise de sonhos. Em 1962, as instalações receberam melhorias e foi construído um campo de prisioneiros externo, além de instalações subterrâneas com um ambulatório, necrotério e um grande depósito. Dizem que além dessas instalações, construiu-se também celas para o isolamento dos internos.


Alguns sugerem que foi em Sadovich que a notória Experiência de Privação do Sono pode ter sido realizada no todo ou ao menos em parte. Se você não sabe do que se trata, click AQUI.

Um psiquiatra que trabalhou nas instalações enquanto ela era controlada pelo governo soviético, o controverso Professor Lev Andropov - envolvido também com o perturbador "Projeto Kamera" na década de 1970, relatou em uma entrevista, que muitas experiências eticamente questionáveis foram conduzidas secretamente em Sadovich. O Hospital recebia um fluxo constante de internos que eram utilizados em experiências sancionadas pelo governo.

Andropov contou que a direção do Hospital tinha carta branca para a realização de experimentos conforme a necessidade. Em dado momento, as instalações contaram com um programa de troca de informações com especialistas chineses e coreanos que possibilitou avanços expressivos em lavagem cerebral. Em uma estimativa feita por Andropov, mais de duas mil lobotomias teriam sido realizadas nas instalações.

Dada a distância e isolamento do Hospital, a maioria das coisas que ocorriam lá, eram simplesmente ignoradas por medo, conivência ou descaso.


Nos dias finais da União Soviética, os recursos para as Pesquisas realizadas em Sadovich diminuíram expressivamente. Muitos dos projetos foram descontinuados e as instalações voltaram a comportar apenas um hospital psiquiátrico. Quando a URSS se fragmentou, a instituição foi fechada e os pacientes transferidos. Contudo, a necessidade de haver um Hospital Psiquiátrico na região fez com que ele fosse reaberto menos de um ano depois sob uma nova direção disposta a esquecer seu passado grotesco.

Após o incêndio que decretou o fim do Hospital Psiquiátrico de Sadovich, uma nova onda de boatos teve início.

Durante os trabalhos de resgate dos corpos, os grupos de busca teriam encontrado uma passagem que permitia o acesso ao complexo subterrâneo expandido em meados de 1961. Até então, acreditava-se que todos os acessos a essas câmaras e salas haviam sido lacrados em 1997, data da última grande reforma e remodelação do prédio. Na ocasião, até mesmo as escadas foram bloqueadas, com paredes de tijolos erguidas em corredores e passagens, de modo a não permitir que ninguém entrasse no complexo.

Muitas estórias circularam a respeito do que os grupos de resgate teriam encontrado nos três andares inferiores que desciam rumo ao subsolo. Alguns afirmam que as gavetas do necrotério ainda continham cadáveres do período em que o lugar era palco de experimentos bizarros. Outros mencionam que o laboratório continha uma coleção absurda de cérebros e outras partes da anatomia humana preservados em frascos e vidros.



Em outro aposento haveria um estoque assombroso de drogas e todo tipo de componente farmacológico, testados exaustivamente pelos médicos nos pacientes de Sadovich. Entre estes comprimidos estariam metaqualones de incrível potência, drogas hipnóticas, tonéis de LSD, inibidores do sistema nervoso central e até mesmo variantes da heroína que os soviéticos planejaram disseminar na América nos anos 1960 através de expoentes da contra-cultura.

Mais importante, o subterrâneo do Hospital, até então inacessível ainda conteria os arquivos de décadas de experiências realizadas clandestinamente. Os prontuários com os nomes de todos que passaram pela instituição, e qual foi o destino deles. Filmes, fotos, documentos e relatórios com os resultados de experimentos bizarros e informações sigilosas que por anos ficaram armazenadas nos porões da instituição.

Logo que esses boatos começaram a ser compartilhados, dezenas de Exploradores Urbanos convergiram para a Sibéria decididos a vasculhar as entranhas de Sadovich em busca desse "rico tesouro". Não demorou para que o governo russo intervisse, negando a existência de qualquer coisa incomum ou valiosa nos subterrâneos do antigo hospital. Mas à essa altura, os rumores já haviam atingido a internet com força total, atraindo um público cada vez maior de interessados.

Muitas pessoas se gabavam de ter conseguido explorar as ruínas do hospital, emergindo de lá com provas documentais de seu passado aterrorizante. Quaaluds extremamente potentes atingiram o mercado negro do submundo de Moscou, sendo negociados a peso de ouro pela máfia russa. No site Silk Road, ativo na Deep Web, itens retirados de Sadovich teriam atingido altas cifras em negociações com colecionadores mundo afora.


Não demorou para que providências mais drásticas fossem tomadas.

As ruínas foram definitivamente fechadas pelo governo russo e cercadas com um muro construído pelo Exército às pressas. Hoje, soldados ficam aquartelados na área para coibir a presença de curiosos e penetras. Desde 2011, mais de 20 estrangeiros foram deportados acusados de invasão e um número não divulgado de cidadãos russos, presos e processados.

Em fevereiro de 2014, divulgou-se que o exército teria realizado uma grande operação nas ruínas com o intuito de remover de uma vez por todas material que ainda estaria no depósito. Alguns dão conta que mais de 20 caminhões abarrotados de caixas e material médico foram transportados para a Base da 36a Divisão do Exército em Ulan Ude.

O Exército não comentou a respeito desses rumores.