quinta-feira, 4 de maio de 2017

Experiências Bizarras - Os mais estranhos experimentos médicos da Ahnenerbe


Uma vez que estamos lidando com nazistas, é claro, que a maldade da Ahnenerbe teria de se estender a uma das mais sinistras facetas da guerra: os experimentos com seres humanos. Experimentos estes que foram realizados em laboratórios e centros médicos controlados por eugenistas e médicos com ideias bizarras.

A Ahnenerbe incorporou a um dos seus muitos Departamentos o Institut für Wehrwissenschaftliche Zweckforschung ("Instituto de Pesquisas Científico Militares"), que tinha a tarefa de lidar com todo tipo de pesquisa e desenvolvimento militar no campo médico científico. Foi ele quem deu início a toda uma gama de horrendos experimentos com prisioneiros de Campos de Concentração. Boa parte desses projetos tiveram resultados dúbios e objetivos questionáveis, ainda que todos tivessem em comum seu caráter impiedoso e o profundo desrespeito pela vida humana, o que estava em concordância com o credo nazista, que não considerava a maioria dos prisioneiros sequer seres humanos.

Uma das mais notórias atividades da Ahnenerbe em testes médicos com cobaias humanas era o projeto para determinar os limites físicos de pilotos que voariam nos avançados caças da Luftwaffe. Uma série de experimentos conduzidos pelo Diretor da Ahnenerbe, Wolfram Sievers e coordenado pelo infame médico da SS, Dr. Sigmund Rascher, utilizou cobaias de campos de concentração. O próprio Heinrich Himmler assinou as ordens para a realização dos testes já que os alemães consideravam perigosos demais realizá-los em voluntários. Rascher recebeu acesso ilimitado aos prisioneiros para seus experimentos dementes. Alguns destes experimentos envolviam colocar as cobaias em câmaras portáteis à vácuo que pareciam caixas de tortura medievais onde a pressão sofria variações súbitas. O objetivo era simular a descompressão de pilotos em vôos de altitude extrema.


Os prisioneiros eram trancados nessas câmaras e mudanças drásticas de pressão atmosférica eram simuladas. Os "médicos" examinavam então a reação que a falta de oxigênio impunha nas pessoas submetidas a tais condições. Não é de se surpreender que a maioria das vítimas sujeitas a esse tratamento simplesmente não sobrevivesse a mais de uma ou duas simulações. Para os pesquisadores, pouco importava, eles tinham muitas outras cobaias à disposição, ademais, no fim do experimento eles podiam realizar autópsias e verificar os resultados. Testemunhas que presenciaram essas experiências afirmam que Rascher era especialmente cruel em suas buscas científicas e que não se importava com os resultados negativos. Quando Himmler ofereceu que, como recompensa pelos serviços de cobaia, as vítimas tivessem suas penas de execução comutadas para prisão perpétua, Rascher o dissuadiu dizendo que os prisioneiros poloneses e russos usados nos testes não mereciam piedade: "Você não solta um camundongo que passou por um teste, você o disseca", ele teria dito.

Sobreviver a esses horríveis testes, no entender de Rascher significava apenas prolongar a tortura, uma vez que o cientista então se dedicava exaustivamente a tentar compreender o que tornava algumas cobaias mais resistentes que outras. O médico da Amnenerbe era um dos mais temidos pesquisadores do período, o que não é pouca coisa, considerando a hoste de cientistas loucos que serviam aos interesses nazistas.


A sede de conhecimento de Rascher ultrapassava, e muito, seu comprometimento ético e moral. Pode-se dizer que ele fazia o que estivesse ao seu alcance para responder suas perguntas e não importando como, se dedicava a sacrificar qualquer coisa, ou qualquer um, para obter suas conclusões. Em um de seus experimentos, mais de 300 prisioneiros foram usados em um teste que visava descobrir quanto tempo um piloto poderia sobreviver após ser abatido sobre o mar gelado. As cobaias eram expostas a condições de temperatura congelantes por períodos de até 14 horas, nuas, molhadas e no interior de câmaras frigoríficas. Rascher monitorava através de eletrodos as condições e antes da cobaia sucumbir, ele as retirava e reanimava usando métodos pouco-ortodoxos, como utilizar água escaldante ou colocá-lo no meio de duas mulheres.

Outro experimento medonho envolvi atirar nos prisioneiros no peito ou pescoço para testar uma substância chamada Polygal, feita de extrato de beterraba e maçã que serviria para coagular o sangue e conter hemorragias. A droga era administrada na forma de cápsulas e era um produto que Rascher acreditava, deveria revolucionar o tratamento de ferimentos a bala ou cirurgias. Em alguns casos, a vítima tinha um membro amputado sem nenhum anestésico, com o objetivo de replicar as condições brutais de um ferimento de batalha. O Polygal era então ministrado e os médicos tomavam notas se ele era eficiente e quanto tempo demorava para a hemorragia ser debelada. Na maioria das vezes, isso não acontecia e a vítima sangrava até a morte diante dos olhares dos médicos.

Embora o Polygal jamais tenha sido produzido em massa, as cápsulas criadas por Rascher levaram a uma outra criação desse gênio louco, as infames Cápsulas de Cianureto. As cápsulas aliás foram muito testadas pelos nazistas antes de serem distribuídas aos oficiais como uma maneira indolor de cometer suicídio. Ironicamente, Himmler cometeu suicídio ingerindo uma delas.


Outros experimentos investigados por Rascher e sua equipe envolviam curas para doenças e antídotos para armas biológicas. É claro, para testar substâncias que inibissem os efeitos desses elementos, era preciso expor as cobaias a patógenos, venenos e compostos químicos letais, o que resultava, normalmente, em mortes dolorosas.

Demonstrando que mesmo no óbito não havia descanso, boa parte dos cadáveres de cobaias eram enviadas para dissecação. Isso incluía a coleta de órgãos, pele, cabelo e ossos. O horrendo laboratório de Rascher doou durante a guerra mais de uma centena de esqueletos, pertencentes a judeus, para que Antropólogos Sociais do Reich os apresentassem publicamente. A coleção macabra do médico contava ainda com centenas de vidros nos quais repousavam órgãos humanos preservados em fluídos conservantes. Metros e metros de pele humana, usada até mesmo como decoração, quilos de dentes e unhas acondicionadas em tonéis e outros itens sinistros.   

Outra área tratada com interesse pelos médicos nazistas era a manipulação de embriões, na qual o infame Josef Mengele se destacou, operando no também pérfido Campo de Extermínio de Auschwitz. As pesquisas de Mengele, apelidado de Anjo da Morte, voltavam seu interesse principal para o estudo dos gêmeos idênticos. Em suas pesquisas ele realizou experimentos com centenas de pares de gêmeos, a maioria crianças. Essas experiências buscavam mudança da cor dos olhos e explorar a possibilidade de estabelecer elos por conexão psíquica. Um dos testes conduzidos pelo médico media a reação de um gêmeo a sensações de dor e desconforto físico infligido no outro.


Outros experimentos eram mais médicos em essência. Um experimento envolvia contaminar um gêmeo com uma doença infecciosa, como tifo ou malária, e realizar transfusões de sangue doado pelo irmão para tentar curá-lo. Havia também tentativas de implantar partes amputadas de um gêmeo no outro e verificar o grau de rejeição. Outro teste tentava juntar os dois gêmeos em um único corpo como se fossem congênitos. Os testes de Mengele pareciam a obra de um sádico, mas ele alegava que estes experimentos poderiam ter aplicação militar. Os soldados poderiam receber órgãos e curar doenças infecciosas, aumentando assim sua resistência. Um dos planos dos médicos nazistas supostamente envolvia clonagem e engenharia genética. No entanto, não existe um consenso a respeito de quais seriam os objetivos desses experimentos com gêmeos. Quando um dos gêmeos morria, o outro era sacrificado com um injeção de clorofórmio no coração, para que os dois pudessem ser dissecados para análise comparativa. Os arquivos destes testes em sua maioria foram destruídos quando os campos começaram a ser abandonados pelos nazistas. Aparentemente o teor profano desses experimentos era tão abominável, que os médicos sabendo o que os aguardaria se fossem descobertos, trataram de queimar todos os resultados. 

A aplicação de experimentos com seres humanos, conduzidos pelos nazistas não se limitou a estabelecer vínculos psíquicos, alterar o código genético, testar anticoagulantes e obter antídotos. Todos os projetos médicos visavam um fim comum: melhorar a forma humana e criar um tipo de super-soldado. Os médicos nazistas acreditavam que a maneira mais adequada de criar soldados invencíveis seria refinar um processo que produzisse um povo "ariano puro". Um Projeto batizado de Lebensborn envolveu incentivar a procriação entre espécimes ideais, para que "impurezas raciais" fossem removidas e uma "raça superior" sobreviesse.


A Ahnenerbe acreditava que isso também teria enorme efeito na mente humana, desbloqueando capacidades psíquicas que teriam se perdido em face da diluição do sangue puro com o de raças inferioras. Em algumas ocasiões, crianças que eram consideradas como espécimes perfeitos de acordo com o critério delirante dos nazistas eram sequestradas e levadas para alojamentos especiais do Projeto Lebensborn. A seleção era simples: crianças nascidas com olhos azuis, cabelos claros e feições nórdicas tinham preferência e eram levadas de seus pais para os orfanatos administrados pela Ahnenerbe. Lá, elas receberiam uma criação condizente com os padrões educacionais dos nazistas e quando chegasse o momento seriam ordenadas a casar e procriar com os parceiros para eles selecionados. Dentro de algumas gerações, esperava-se que a purificação do sangue, feita dessa maneira, fortaleceria os genes arianos.

Mas alguns dentro da Ahnenerbe achavam que esse método seria muito demorado. Em busca de resultados imediatos, um programa desenvolvido para criar super-soldados e desenvolver capacidades psíquicas passou a pesquisar uma droga experimental chamada de D-IX. Tomada na forma de cápsulas, ela tinha em sua fórmula um cocktail que misturava cocaína, um potente estimulante chamado pervitine e um forte analgésico chamado eucodal. Basicamente, a droga era uma espécie de super anfetamina. O objetivo do D-IX era aumentar o foco, concentração, diminuir apreensão, reforçar o heroísmo e auto-confiança, bem como levantar a resistência e força físicas, negar a dor e reduzir fome, sede e necessidade de descanso. A droga foi usada em testes com prisioneiros no Campo de Concentração de Sachsenhausen e os primeiros resultados foram promissores. Logo ele passou a ser distribuído em segredo para algumas unidades militares. Os soldados recebiam as cápsulas acreditando que eram complexos de vitaminas.

Os testes demonstravam que o D-IX aumentava dramaticamente os níveis de atenção e resistência, permitindo que soldados marchassem até 120 quilômetros antes de desmaiarem, embora a droga causasse dependência química e psíquica. A despeito disso, capsulas de D-IX continuaram a ser distribuídas para utilização das tropas em escala cada vez maior. De fato, especialistas acreditam que os laboratórios farmacêuticos a serviço dos nazistas, o Complexo da Bayern inclusive, tencionavam fazer uma produção em massa da droga para ser usada na defesa após a Invasão da Normandia. Documentos atestam que dados os resultados satisfatórios, havia um plano de suprir a super droga para toda força militar nazista até o final de 1945. Felizmente, a vitória aliada evitou que tal coisa acontecesse.  


Embora o D-IX tenha de fato existido e tenha provado sua eficácia, haviam outros experimentos ainda mais sinistros sendo pesquisados pelas divisões médicas a serviço dos nazistas. Um historiador norte-americano chamado Jeff Strasberg escreveu um livro com o título "A Arma Final" a respeito de experimentos médicos dos nazistas. Segundo o livro, em 1945, tropas americanas cercaram um complexo secreto de pesquisas no qual fizeram estranhas descobertas. As tropas encontraram em um laboratório subterrâneo cadáveres de soldados soviéticos em diferentes estágios de dissecação que haviam recebido "melhorias cirúrgicas" através de próteses de aço no lugar de ossos, incluindo uma cobaia humana que havia recebido costelas de aço inoxidável. Embora os documentos e diários tenham sido destruídos, estava claro que os médicos estavam tentando criar enxertos metálicos para reforçar os ossos dos soldados. Além disso, haviam sido encontrados vários cadáveres de anões que estariam sendo treinados como pilotos para aviões menores e com menor consumo de combustível. Os americanos teriam capturado pelo menos dois laboratórios similares, contudo a maioria dessas bases de pesquisa estariam localizadas na parte oriental da Alemanha que caiu nas mãos dos soviéticos. Strasberg comenta que após a Segunda Guerra, os soviéticos tentaram realizar experimentos semelhantes com enxertos e que provavelmente a base para essas pesquisas veio de cientistas e material apreendidos durante a guerra.      

Mas não para por aí...

Ainda mais aterrorizantes são os rumores persistentes de que os nazistas estavam envolvidos com métodos para reviver animais mortos e até mesmo cadáveres humanos para fins militares. Um interessante documento a respeito disso, foi encontrado em 28 de abril de 1945, quando Tropas Aliadas capturaram um depósito de munições chamado Bernterode, na região da Turingia na Alemanha. A medida que alguns oficiais americanos exploravam um túnel que levava para a fábrica, eles descobriram uma parede falsa. Quando a misteriosa parede falsa foi colocada abaixo, revelou uma vasta câmara contendo uma enorme coleção de objetos de arte roubados e relíquias valiosas, bem como bandeiras, flâmulas e uniformes militares de oficiais. Em uma câmara anexa, encontraram ainda quatro enormes caixões, com três deles contendo os restos mortais de Frederico, o Grande, Rei da Prússia no século XVII, bem como os restos do Marechal von Hindenburg e de sua esposa. O quarto caixão estava vazio, mas tinha o nome Adolf Hitler gravado em uma placa de bronze. Embora não se saiba para que esses restos mortais eram guardados, é possível que membros da Ahnenerbe tivessem planos de realizar a clonagem dessas pessoas quando acumulassem conhecimento suficiente para o procedimento. O próprio Mengele havia pesquisado genética e uma de suas áreas de estudo contemplava a clonagem humana.


Mas embora as razões sejam mera especulação, é possível que os nazistas estivessem em busca de algo ainda mais profano. Nos anos 1950, autores sérios acreditavam que um dos experimentos nazistas mais obscuros tentava reviver soldados para que pudessem lutar novamente. Em 1950, a Revista Life publicou um longo artigo a respeito da obsessão nazista em estudar cadáveres e tentar reanimá-los usando para isso técnicas médicas nada ortodoxas. 

O artigo não dizia que os nazistas tentavam criar um exército de soldados zumbis para reforças as suas fileiras, mas dava a entender que haviam estudos sérios no sentido de examinar os corpos e buscar a reanimação daqueles que ainda tivessem certa integridade.

Outra possibilidade defendida por alguns teóricos de conspirações é que esses soldados não seriam necessariamente zumbis no senso de terem sido trazidos de volta à vida, mas poderiam ser simplesmente pessoas "zumbificadas".  Isso pode significar experiências com procedimentos médicos visando diminuir a inteligência e aprimorar os instintos primitivos, transformando homens comuns em selvagens assassinos. Soldados perfeitos para uma guerra longa e brutal.

É provável que essas histórias de super-soldados com partes de metal e reanimados dos mortos por uma ciência bizarra, não passe de lenda. Mas quando se trata da Ahnenerbe e de seus planos, é impossível saber ao certo. A tendência de embelezar e acrescentar elementos aos mitos já existentes de uma sociedade misteriosa e sem dúvida maligna, certamente existe. Há poucas evidências concretas para amparar a veracidade da maioria dessas teorias, isso é fato. Por outro lado, a Ahnenerbe esteve profundamente envolvida com dezenas de projetos bizarros no campo do desenvolvimento de armamentos, em ocultismo, sobrenatural e experimentos médicos, então, quem sabe no que mais eles poderiam estar metidos.

Com o fim da Segunda Guerra, a enigmática Ahnenerbe foi dissolvida e a maior parte de seus documentos e arquivos acabaram sendo destruídos pelos seus próprios membros numa tentativa de despistar os Aliados. Muitos de seus agentes tentaram fugir ou cometeram suicídio quando o Reich desmoronou. Com poucas evidências restando para compreender a verdadeira extensão dos projetos da Ahnenerbe, a especulação pura e simples ganhou espaço e se tornou frequente. Essa falta de evidências, junto com o teor sinistro das muitas histórias contadas a respeito de Sociedades Secretas dentro do Regime Nazista fizeram com que o Mito crescesse nos anos seguintes.  


Com tantos projetos secretos e conspirações o folclore sobre a Ahnenerbe continua se espalhando a ponto de hoje ser difícil separar ficção e realidade. A Sociedade é hoje compreendida como uma força tenebrosa que se sobressaia mesmo dentro de um enorme complexo voltado para o mal. Ela era o pior do pior.

Há algo na ameaça, nos mistérios e nos projetos dos nazistas que alimentam, acendem e mexem com a nossa imaginação. Eles não deixam de nos fascinar, ainda que, ao mesmo tempo causem uma onda de asco e repulsa pelo que eram e por tudo que representaram. Tudo o que podemos esperar é que condições similares para o surgimento de um mal semelhante ao que varreu a Alemanha, jamais se repitam. Mas é preciso estar preparado, como dizem, o preço da liberdade é a eterna vigilância. Se tal coisa acontecer novamente, que haja pessoas dispostas a se interpor em seu caminho e fazer o que é certo. Por um momento dramático, o mundo foi arrastado para a beirada de um precipício e esteve prestes a ser lançado nas suas profundezas escuras.

E nem é bom imaginar o que teria acontecido então.

4 comentários:

  1. Mais um texto bem pesquisado e bem-feito ! Parabéns !

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  2. Acho que a maior parte do que se fala sobre o 'ocultismo nazista' é folclore, mito, exageros. O que houve no nazismo foi tirania e opressão. Aliás, a mesmíssima coisa, diabólica, perversa, que Stalin, Lênin, Fidel Castro, Maduro, fizeram e ainda fazem com seu próprio povo. Pode não haver lendas sobre "experimentos tenebrosos", mas há as histórias reais (realíssimas!) de gente que fugiu de tais revoluções... a mídia simplesmente não mostra.
    Assim, a praga nazista é o que usam como espantalho, quando na verdade ainda hoje existem tiranos e monstros destruindo países, matando pessoas de fome, perseguindo, detonando... a Venezuela é logo ali, por exemplo...

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