sexta-feira, 19 de maio de 2017

Unidade 731 - As Terríveis Fábricas de Morte do Japão


Sob o asfalto das ruas de Tóquio, existe um deposito de restos humanos. 

Os operários que trabalharam em Shinjuku, um movimentado e famoso bairro de Tóquio, em plena urbanização, ficaram horrorizados com o que encontraram. A noticia dessa descoberta, ocorrida em 1989, varreu o país, como uma grande onda. Sentimentos de vergonha, indignação e negação se seguiram. Incapaz de ocultar a verdade por mais tempo, o governo japonês viu-se obrigado a reconhecer o mais terrível segredo da Segunda Guerra Mundial. A poucos metros das obras, esteve localizado um dos muitos laboratórios comandados pelo Tenente-Coronel Shirô Ishii, pai do programa de guerra biológica do Japão: a Unidade 731.

As cobaias humanas empregadas em suas experiências foram transferidas da Base da Manchúria para seu laboratório. No final da guerra, os restos mortais destas pessoas, quase três mil indivíduos, foram enterradas em uma fossa comum, coberta com cimento e lá permaneceram ate ser descoberta em 1989. 

Durante 40 anos, as atividades da Unidade 731 foram o segredo mais bem guardado do Japão.

Os trabalhos da Unidade permaneceram inéditos ate a descoberta, em uma loja de livros usados, de diários contendo anotações feitas por um oficial da Unidade 731. Os documentos, encontrados em 1960, descreviam minuciosamente experiências biológicas e demostravam que as cobaias das experiências de Shiro Ishii e sua equipe eram seres humanos. Para os japoneses, nessa época, o povo chinês não era sequer considerado humano o que validava experimentos imorais do ponto de vista médico.

O jovem Shirô Ishii era um brilhante microbiólogo que foi convocado pelo Exercito Imperial. Com sua carismática personalidade, logo atraiu a atenção dos oficiais veteranos e conseguiu uma rápida promoção de posto ascendendo nas Forças Armadas. Aliando-se com ultranacionalistas do Ministério de Guerra do Japão e com membros da Sociedade Dragão Negro, Ishii fez uma forte pressão a favor do desenvolvimento de Armas Biológicas. Ele defendia que a utilização desse armamento seria vital para que o Japão erradicasse de uma vez por todas populações inteiras de potenciais inimigos. Um de seus planos, contemplava espalhar nuvens de gás venenoso sobre grandes centros urbanos e matar todos habitantes de uma vez só. O projeto previa resultados "rápidos e seguros" segundo sua avaliação.


O Japão não era signatário da Convenção de Genebra que ditava o funcionamento da Guerra e que bania as Armas Químicas utilizadas extensivamente na Primeira Guerra e que deixaram profundas cicatrizes nos combatentes. Para se ter uma ideia, nem mesmo os nazistas aceitavam o emprego de armas químicas, sendo que o próprio Hitler, mesmo no auge do avanço soviético se negou a utilizá-las. Contudo, o Japão não apenas ponderou sobre seu uso, como empregou em seu avanço pela China continental.

Quando o Japão invadiu a Manchúria, em 1931, Ishii vislumbrou uma oportunidade de ouro para colocar em curso seus planos. Com uma grande verba anual e 300 homens, sua primeira missão recebeu o nome secreto de "Unidade Togo". Os membros da Unidade, viajavam com as tropas, coletando dados e informações remetidas diretamente para o Ministério da Guerra. As análises do microbiologista comentavam que o uso de armas químicas e bacteriológicas reduziria as perdas dos japoneses e permitiria um avanço mais rápido. Os relatórios agradaram ao Alto Comando Imperial.

Em 1936, a unidade já havia juntado arquivos extensos e teve o sinal verde para estabelecer uma Base de Operações. Um Campo de Concentração inteiro, conhecido como "Campo de Prisão Zhong Ma" foi entregue aos cuidados de Ishii, o número da Instalação era 731, nome que foi adotado pelo seu Departamento que passou a se chamar Unidade 731. Para expandir o campo e criar as condições ideais de uso, utilizaram mão-de-obra escrava de prisioneiros chineses. No centro, existia um edifício  central, o "Castelo Zhong Ma", que reunia os prisioneiros em um laboratório subterrâneo.

Os escolhidos para os testes humanos eram chamados de "marutas", que significa troncos. Numerados em ordem crescente até o número 500, os prisioneiros eram "bandidos", "criminosos" e "pessoas suspeitas". Eram bem alimentados e faziam exercícios regularmente, somente porque sua saúde era vital para a obtenção de bons resultados científicos. Os marutas entretanto não duravam muito tempo nas instalações. "troncos eram podados"segundo a terminologia da Unidade 731. 

Quando os médicos necessitavam de um cérebro humano para uma experiência, ordenava que os guardas obtivessem o órgão. Enquanto o prisioneiro era pego por um dos guardas, que segurava seu rosto contra o chão, o outro quebrava-lhe o crânio com um machado. O órgão era retirado grosseiramente e levado rapidamente ao laboratório de Ishii. Os restos mortais do prisioneiro sacrificado eram lançados no crematório do campo. A morte era trivial, ocorrendo com frequência alarmante.

As primeiras experiências centraram-se no estudo das doenças contagiosas, como o antraz e a peste bubônica. Não por acaso, armas biológicas, estão entre os mais terríveis instrumentos de destruição em massa concebidos pelo homem. Com baixo custo e de fácil produção, são capazes de dizimar o inimigo, envenenar colheitas, e deixar gerações doentes ou deformadas, isso para os  que conseguem sobreviver aos seus efeitos danosos. Os custos, no entanto, são infinitamente menores que o armamento nuclear por exemplo, e sem a necessidade de grandes desdobramento de tropas oiu construção de instalações.


O propósito de Ishii era buscar as armas perfeitas com o intuito de exterminar não apenas soldados inimigos, mas toda uma espécie. Um de seus objetivos era combinar elementos que afetassem apenas chineses. Sua ambição era criar um composto que pudesse ser disseminado no ar e que matasse chineses rapidamente, sendo absolutamente inócuo aos japoneses.

Nesse intuito, ele realizava testes. Muitos testes. 

Em um dos seus experimentos, cerca de 200 guerrilheiros chineses foram infectados com bactérias da peste bubônica. Doze dias depois, os infectados contorciam-se com febres de 40 graus e delírios. Um desses guerrilheiros conseguiu sobreviver por 19 dias antes que lhe fizessem uma autopsia enquanto ainda estava vivo. Vários tipos diferentes de cepas da peste foram modificadas para obter aquela que poderia afetar apenas um grupo de indivíduos. 

Mas havia coisas ainda piores: febre amarela também era muito interessante para Ishii que ordenou a um laboratório a produção de milhares de tonéis contendo mosquitos que seriam geneticamente modificados. Também havia um departamento conhecido como "Circo de Pulgas" que visava manipular pulgas comuns para que se tornassem portadoras de doenças infecciosas letais. A ideia seria lançar barris de pulgas de aviões e deixar que elas contaminassem a população civil de cidades. Finalmente cobertores com tifo e cólera seriam entregues a moradores de área urbana e hospitais. Estudos de estatísticas foram realizados nesse sentido, e apenas os altos riscos de infectar os japoneses conteve esses planos perversos.

Guerra Química também era extensivamente pesquisada nos Laboratórios da Unidade 731. Alguns prisioneiros foram expostos a gás de fosfina, sarim, gás mostrada e outros tipos de substâncias letais por contato ou aspiração. Em outros experimentos foi aplicado cianureto de potássio, que segundo os cientistas, poderia ser utilizado na população para extermínio em massa disfarçando sua administração como vacinas preventivas. 

A crueldade estava em toda parte, manifestando-se em experimentos que pareciam não ter nenhum propósito, exceto proporcionar aos cientistas um deleite sádico. Alguns prisioneiros foram submetidos a descargas elétricas de 20.000 volts ou afogamento em câmaras simplesmente por que os médicos careciam de órgãos de indivíduos mortos dessa maneira para seus testes. Os prisioneiros que sobreviviam a esse tratamento, ficavam à disposição para receberem injeções letais ou para serem dissecados vivos. Cada morte era registrada por membros da unidade, tabulada e quantificada de maneira detalhada com uma eficiência sinistra.

A qualidade do trabalho, assim como sua personalidade magnética, garantiram a Shirô Ishii um crescente poder. Em 1939, ele conseguiu recursos para mudar suas instalações para um local ainda maior, tão vasto quanto o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau na Alemanha Nazista. O novo quartel general da Unidade 731 situava-se em Pingfan, na Manchúria. O objetivo era ter um "estoque de cobaias" ainda maior sempre disponível. Linhas de trem seriam usadas para o deslocamento dos prisioneiros, mas quando estas ferrovias foram destruídas, Ishii disse que não importava se eles tivessem de ir andando para suas instalações: "Esses troncos podem caminhar".


O complexo de Pingfan possuía 6 quilômetros quadrados e abrigava edifícios administrativos, laboratórios, galpões, uma prisão para indivíduos submetidos aos teste, um edifício de autópsias e dissecação e três fornos crematórios. Um campo localizado em Mukden, detinha os prisioneiros de guerra americanos, britânicos e australianos, que também eram usados nas experiências. Os japoneses também pensavam em criar doenças que afetassem aos caucasianos.

Nessa época, uma das preocupações do Exército Imperial era o frio. As baixas temperaturas diminuíram o rendimento militar durante os rigorosos invernos da Manchúria. Por esse motivo, informações sobre os efeitos da hipotermia foram pedidas a Unidade 731 resultando em algumas das mais horrendas experiências. Alguns prisioneiros eram deixados nus, ficando sujeitos a temperaturas abaixo de zero e seus membros a seguir eram golpeados com paus até que se produzissem sons secos e metálicos indicando que o processo de congelamento estava terminado. Em seguida, os corpos eram "descongelados" através de técnicas experimentais usando substâncias químicas até fogo.

Em seu livro Factories of Death (Fábricas da Morte), Sheldon Harris, professor de história da universidade da Califórnia, descreve outras experiências, como a suspensão de indivíduos de cabeça para baixo, para determinar quando morreriam asfixiados. Até a quase indescritível prática de injetar ar nas veias dos prisioneiros para acompanhar a evolução das embolias. Em outros indivíduos, era injetada urina de cavalo em seus rins para verificar supostos efeitos de antitoxinas.

Sem nenhum sentimento de culpa, Ishii redigia regularmente documentos nos quais descrevia os resultados de suas experiências. Nestes relatórios, dizia que os teste eram realizados em macacos. O uso de seres humanos como cobaias era mantido em segredo.

Perto do fim da Segunda Guerra Mundial, Ishii, então Tenente-Coronel, fez um pacto com seus subordinados para manter as experiências em segredo após a Guerra. Pingfan e outros Centros foram destruídos com cargas explosivas ou bombardeados pelo próprio exército. Ishii e seus homens regressaram para casa no anonimato restabelecendo as atividades da Unidade 731 nos arredores de T'óquio em uma escala bem menor. 

Porém, nada passa despercebido pelos serviços de inteligência. Apesar das precauções de Ishii, os aliados reuniram numerosos dossiês sobre os principais microbiólogos japoneses. Os estrategistas dos Estados Unidos apreciavam as vantagens táticas da guerra biológica, pois os agentes biológicos poderiam ser introduzidos inadvertidamente nos campos de guerra. Sabiam que Ishii havia realizado tais práticas em diversas ocasiões na China, Coréia e em outros lugares através de testemunhos obtidos quando o país foi liberado.


Os aliados estavam ansiosos para obter detalhes das experiências e das técnicas utilizadas por Ishii. Em particular, procuravam os relatórios das experiências com seres humanos, aos quais atribuíam um grande valor. No final da guerra, os cientistas de Fort Detrick, Maryland onde ficavam as instalações de Guerra Biológica dos Estados Unidos, iniciaram uma série de entrevistas com técnicos japoneses.

Uma vez constatados os fatos, um médico informou ao Departamento de Guerra de Washington que "informações posteriores reforçavam a conclusão de que o grupo dirigido por Ishii violou as normas de guerra". O relatório informava ainda: "esta opinião não é recomendação para que o grupo seja acusado".

Desejando impedir que os soviéticos obtivessem as informações coletadas por Ishii, os Estados Unidos fizeram um pacto com o próprio. Era necessário no entanto superar um importante obstáculo. As experiências precisavam ser ocultadas, deveriam ser o "maior dos segredos", o mais obscuro deles. Os prisioneiros de guerra que regressavam, davam terríveis depoimentos sobres as experiências que foram realizadas neles próprios. Se estes depoimentos se tornassem conhecidos, a opinião pública ficaria indignada e exigiria medidas drásticas. Portanto, investiram em uma saída: Encobrir os fatos.

Os procuradores do tribunal de crimes de guerra foram orientados para que investigassem superficialmente os fatos. Prisioneiros de guerra foram coagidos a guardar segredos. Foi oferecida imunidade a todos os membros da Unidade 731, em troca de informações e cooperação total. Iniciava-se ali um dos maiores acobertamentos da guerra. Rumores sobre as experiências surgiam de tempos em tempos, mas jamais eram corroborados, outrossim, tratados como exagero.

Com a descoberta, em 1989, dos corpos enterrados nos subterrâneos de Tóquio, a história veio a tona e os ex-combatentes começaram a relatar suas experiências.

"Jamais esquecerei", declarou furiosamente Joseph Gozzo, antigo engenheiro de aviação, que atualmente vive em San José, Califórnia. Enquanto esteve preso num Campo de Prisioneiros na Manchúria, foi usado em experiências onde teve bastões de vidro introduzidos no seu reto. "não posso acreditar que o nosso governo os tenha deixado livres", disse.

Em 1986, o ex-prisioneiro de guerra Frank James relatou suas lembranças a um Comitê do Congresso dos Estados Unidos. "Éramos apenas pequenas peças de um jogo, sempre soubemos que existia um encobrimento", disse James.

Outro ex-prisioneiro, Max McClain, lembra que junto com seu companheiro de cela, George Hayes, eram colocados em filas para receberem injeções. Dois dias depois, Hayes lamentava-se: "Mac, não sei o que esses desgraçados me deram, mas sinto-me muito mal". Naquela mesma noite, dissecaram Hayes.


A audiência durou apenas metade de um dia e somente um dos 200 sobreviventes foi convocado para prestar depoimento. O responsável pelos arquivos do exército declarou que os documentos obtidos sobre as atividades de Ishii haviam sido devolvidos ao Japão, ainda na década de 1950. Surpreendentemente, não haviam se preocupado em fazer fotocopias dos documentos secretos.

Na intenção de ocultar a verdade, Estados Unidos e Japão, negaram que tais atrocidades tivessem ocorrido, apesar disso, uma serie de relatórios tornaram-se públicos. Em um arquivo do quartel general do General McArthur, costa que a investigação da Unidade 731, foi realizada sob ordens da junta de Chefes do Estado Maior. Lá constava a seguinte linha: "é essencial guardar segredo absoluto na intenção de proteger os interesses dos Estados Unidos". Finalmente, em 1993, o segredo oficial tornou-se publico com a abertura dos relatórios das experiências biológicas da Segunda Guerra Mundial.

Depois da Guerra, muitos dos responsáveis pelas experiências japonesas tiveram sorte, sendo tratados com respeito e deferência. Vários deles graduaram-se em Universidades de Medicina na América e um deles chegou a dirigir uma companhia farmacêutica japonesa. Outros ocuparam cargos que foram desde a presidência da Associação Medica japonesa ate a vice-presidência da Green Red Cross Corporation. Um membro da equipe de congelamento chegou a tornar-se um importante empresário da industria frigorifica japonesa. 

Shirô Ishii morreu em 1959 sem mostrar nenhum sinal de arrependimento e sem ser condenado pelos seus atos terríveis.

Por este pequeno preço os governos britânicos e norte-americano, obtiveram exaustivos detalhes dos efeitos da guerra biológica nos seres humanos. Receberam também, relatórios de autopsia ao vivo, dissecações em fetos e bebes, além de um meticuloso estudo sobre sintomas da peste, do tifo, doenças veneras, varíola, gangrena, salmonelíase, escarlatina, tétano, coqueluche e inúmeras doenças atrozes.

A Guerra, alguém já disse, é o Inferno.

São em tempos como esse que o pior do ser humano vem a tona para aterrorizar as gerações posteriores e colocar em cheque nossa frágil noção de civilização. A Unidade 731 e seu legado grotesco nos assombra como uma lembrança constante da maldade e indiferença humana. Uma lembrança que não pode ser calada e muito menos esquecida.

3 comentários:

  1. Existem casos italianos de Guerra Estranha na Segunda Guerra Mundial ?

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  2. O maior horror nisso foi o lado vencedor do conflito querer tirar vantagem de pesquisas realizadas sem nenhum pudor à barbárie. Não existe bonzinhos na guerra

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  3. "Após a guerra, 12 dos colegas de Shirō Ishii chegaram a ser capturados pelos soviéticos e julgados, em dezembro de 1949. Apenas cinco dias foram necessários para a condenação. O depoimento do chefe de uma das divisões da Unidade 731, Kawashima Kyoshi, não deixava muita margem para dúvidas sobre o que acontecia por lá.
    — Você nos dirá o que sabia sobre os experimentos feitos pela Primeira Divisão em pessoas vivas? — perguntou o interrogador.
    — Os prisioneiros mantidos na prisão interna do Destacamento 731 foram usados em várias pesquisas em preparação a guerra biológica. O objetivo das pesquisas era: aumentar o efeito tóxico de germes letais de várias doenças infecciosas e estudar métodos de empregar esses germes em seres humanos. Eu mesmo nunca estive presente em nenhuma desses experimentos e não estou em posição para dar quaisquer detalhes — respondeu o militar japonês.
    — Como esses experimentos eram realizados?
    — Eles eram realizados na prisão. Além da prisão, havia laboratórios especiais em que experimentos foram também realizados em seres humanos.
    — Quantos prisioneiros a prisão havia sido projetada para manter a cada momento?
    — De 200 a 300, mas poderia manter até 400.
    — Quantos prisioneiros eram enviados à prisão do destacamento no curso de um ano?
    — Não tenho estatísticas nesse momento e não sei os números exatos, mas aproximadamente 400 a 600 por ano.
    — Depois que uma pessoa foi infectada por um germe específico, ela recebia tratamento médico na prisão do destacamento ou não?
    — Ela recebia.
    — Se depois que se recuperava, o que acontecia a ela? como regra, depois que era curada, ela era usada em outros experimentos.
    — E isso prosseguia até a pessoa morrer?
    — Sim.
    — E toda pessoa que chegava ao Destacamento 731 estava condenada a morrer?
    — Sim. Eu sei que em todo o período em que a prisão existiu, nem um único prisioneiro emergiu dela vivo.
    E esse foi o julgamento soviético, em que os condenados receberam de 2 a 25 anos de trabalhos forçados num gulag na Sibéria – uma pena incomumente leve, em se tratando de crimes tão horrendos, perpetrados sobre prisioneiros russos, em meio ao jugo do tirânico Joseph Stalin. Por quê? Informações dão conta de que os soviéticos conseguiram um bocado de informações que lhes interessavam. Até hoje não sabemos bem qual é o nível do programa de armas biológicas russo, e a queda da União Soviética não foi suficiente para que as lideranças por lá abrissem seus arquivos da época da Guerra Fria no que diz respeito a temas espinhosos como experimentação humana. Sabe-se que há um laboratório, criado em 1921 e na ativa até hoje, às vezes chamado apenas de Laboratório 1, Laboratório 12 ou Kamera (russo para “câmara”), que desenvolveu armas biológicas para a KGB (polícia secreta soviética) e as testou em prisioneiros dos gulag no passado.
    Decerto as informações fornecidas pelos japoneses – e que não constam dos autos do rápido julgamento soviético – ajudaram na leniência. Já o julgamento americano dos criminosos da Unidade 731, bem ... Não houve um julgamento americano.
    Numa ação que faz até a Operação Paperclip parecer excessivamente honesta, o general Douglas MacArthur, responsável pela reconstrução do Japão durante a ocupação pelos Aliados, fez um acordo secreto com os médicos da equipe de Ishii – inclusive o próprio – para conceder imunidade em troca dos dados colhidos nos experimentos humanos. A ideia era alavancar o desenvolvimento de armas biológicas nos Estados Unidos, centrada em Fort Detrick, unidade do Exército em Maryland, tendo por base pesquisas que jamais poderiam ter sido conduzidas com liberdade similar em solo americano. Uma hipocrisia sem limites para a ciência sem limites."
    Ciência Proibida - Salvador Nogueira

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