quinta-feira, 29 de maio de 2014

RPG do Mês: Unhallowed Metropolis - Horror num mundo arruinado pela morte


Texto baseado (e acrescido) da excelente resenha escrita por Pookie

1905 foi o ano em que os mortos se ergueram e marcharam contra os vivos.

Nações inteiras que não estavam preparadas para o supremo horror foram devastadas pelas hordas de cadáveres animados. Foi uma época de dor e sofrimento, quando metrópoles inteiras foram engolidas pelos mortos que a tudo pisotearam. O progresso, a esperança, as aspirações da humanidade... muitos perderam tudo isso. 

Mas a Sociedade e a Civilização sobreviveram, ao menos, em alguns cantos do globo. 

Na Grã-Bretanha a declaração de um regime de Lei Marcial foi imprescindível para proteger o maior de todos os Impérios. Aos poucos, os súditos sobreviventes descobriram que apesar das colossais dificuldades, ainda valia  apena viver e lutar pela sua terra nem que fosse para viver apenas mais um dia. Levaria décadas, mas lentamente a Britânia começou a reclamar de volta  das garras dos mortos seu Império conspurcado. Muralhas foram erguidas para evitar novos ataques dos andarilhos insepultos, o veneno do solo e a poluição do ar passou a ser tolerada com o uso de máscaras de gás individuais e a ciência apresentou meios de sobreviver e contra atacar à altura. 


Em grande parte, a retomada das cidades e a pacificação de regiões inteiras se deveu à Força de Segurança Doméstica - conhecida como Deathwatch. Esses bravos homens e mulheres, se ofereceram para a mais nobre das missões: proteger o Império, as cidades e o povo, da maior ameaça que a humanidade jamais conheceu. A "Praga", como muitos chamam pode ter acabado com o mundo anterior, mas aquele era o momento de construir um Novo Mundo e de olhar a morte nos olhos e dizer "Basta". Os soldados da Deathwatch são a última linha de defesa contra o mal. Equipados com emissores de raios, armamento pesado, vestindo armaduras de proteção e empregando apetrechos exclusivos, eles são celebrados como verdadeiros campeões da humanidade. "Onde a Deathwatch vai, os mortos são pacificados", ao menos é o que se diz.

Nos duzentos anos após a praga ter se iniciado, a Grã-Bretanha experimenta um momento de redescoberta das suas raízes. Os súditos do Império voltam seus olhos com reverência para os valores de seus antepassados, admirando suas conquistas e façanhas. Assim nasceu a Era Neo-Vitoriana.

É claro, ainda há uma infinidade de perigos! Informes do mundo exterior mencionam concentrações de mortos animados ainda ativos se movendo nas ruínas do velho mundo. Dirigíveis pairam sobre as áreas inseguras, explorando os restos e nunca é uma visão bonita descobrir um covil de cadáveres ou de humanos que se entregaram a barbárie. 

Do outro lado do canal, há ainda a ameaça de nações inimigas com seus próprios objetivos e planos de conquista. O risco de uma Guerra Mundial entre as potências torna-se cada vez maior sobretudo quando as reservas de recursos naturais foram reduzidas consideravelmente. A diplomacia ainda tenta contornar essas questões, mas onde as negociações falham, há espaço para a atuação de espiões, agentes duplos e assassinos. 


Isso sem falar da aura de terror crescente, e dos boatos sobre outros tipos de mortos. Comenta-se a respeito de vampiros e outras coisas blasfemas espreitando na escuridão. Será que existe uma hierarquia entre os mortos vivos ou isso não passa de mera superstição sem fundamento? Multiplicam-se também estórias sobre carniçais vagando pelo sistema de trens subterrâneos e no esgoto de Londres. E o que dizer do boato que eles são uma nova e temível espécie que anseia pela carne dos vivos? 

Enquanto isso, a Capital do Império, a maior e mais bela das cidades reconstruídas, ainda precisa ser patrulhada constantemente, pois há aproveitadores, radicais e renegados dispostos a mergulhar o Império no Caos. As câmaras dos crematório ardem consumindo os cadáveres para conter a praga, enquanto ordens e sociedades secretas dedicadas a procurar e recuperar tesouros vasculham os níveis mais baixos da sociedade atrás de seus prêmios. Cientistas forçam os limites da ética com suas incríveis descobertas no campo da Alquimia e das Ciências Embriônicas. Destes, o Dr. Frankenstein chocou o mundo com suas teorias a respeito de vida artificial reanimada, enquanto Nichola Tesla causou espanto ao mostrar todas as utilizações de seus raios, suas armas e seus capacitadores de energia. Se hoje há um mínimo de segurança nas grandes metrópoles é graças aos arcos voltaicos que crepitam nos céus pelas magníficas Torres de Tesla.  

Apesar da Grã-Bretanha continuar sendo uma Monarquia Parlamentarista, uma nova aristocracia surgiu a medida que a anterior foi deposta. Os Industriais se tornaram incrivelmente ricos graças a suas inovações, essenciais para a manutenção do Império: Energia, Defesa, Construção, Infraestrutura, Transporte... Conglomerados e Impérios Financeiros se formaram a partir da necessidade dos novos tempos. Dinheiro é capaz de comprar tudo no Império, desde drogas que prolongam a vida, passando por melhores acomodações e é claro, espaço exclusivo nas cidades super populosas. Os ricos vivem no alto, bem longe do fedor e da podridão dos níveis inferiores. 


É claro, a nobreza continua existindo e mais de um industrial anseia por adicionar um belo título ao seu nome. A Tradição ainda é muito importante na Nova Era Vitoriana, assim como as aparências. Nesse ambiente de ostentação e riqueza, a corrupção está em todo canto e fazer inimigos aqui pode ser mais perigoso do que enfrentar as hordas atrás das muralhas. Alguns dizem que pilares da sociedade estariam mancomunados com Lordes Nosferatu, que planejam viver para sempre e que patrocinaram a criação de humanos deliberadamente infectados com a semente do vampirismo, as trágicas figuras conhecidas como Dhampiri. Se isso é verdade ou não, quem pode dizer ao certo?   
        
Para os trabalhadores e operários vivendo nos níveis inferiores, nas favelas superlotadas, a política pouco importa. As fábricas que cospem fumaça e fuligem e tornam os céus escuros, foram responsáveis pelo enriquecimento dos industriais, mas também causaram doenças e inquietação nas classes menos favorecidas. Rebeldes e dissidentes insatisfeitos tentaram protestar, mas as forças de segurança coibiram qualquer ato de desafio às leis. Líderes de movimentos foram presos ou desapareceram sem deixar vestígio, mas há grupos operando na clandestinidade, planejando sabotagens, greves e atentados para sacudir os alicerces do Império. Eles são chamados de rebeldes ou terroristas, mas para alguns são os verdadeiros heróis do povo, os responsáveis por construir a base para a revolução vindoura. 

O CID (Departamento de Investigação Policial) e a Divisão Psíquica (outra grande inovação dos últimos anos) buscam descobrir quem são essas pessoas e remover as maçãs podres do barril. Trabalhar com a Lei e Ordem na sociedade Neo-Vitoriana exige muito dos agentes que tem de lidar com os casos mais imprevisíveis, não apenas com os ocasionais animados, mas com tráfico de drogas, roubo de cadáveres e contrabando de carne de procedência e origem ignoradas. O horror está em cada esquina e não é à toa que muitos desses homens desistem depois de alguns meses.


E é nesse ambiente insalubre, escuro e venenoso que a Metrópole Profana abre as suas portas e oferece a chance de explorar seus incontáveis segredos. 

Bem vindos a Unhallowed Metropolis

Esse é, em linhas gerais, o pano de fundo para a ambientação desse curioso RPG. Ele combina elementos de horror, sobrevivência, intriga e investigação num futuro alternativo em que o passado é copiado em detalhes por uma sociedade de saudosistas da Era Vitoriana.

Parece meio maluco? Pode até ser, mas acredite é uma ambientação muito interessante e incrivelmente rica que permite ao narrador contar estórias estranhas e surpreendentes.

Fique conosco para conhecer mais a respeito no próximo artigo que se concentra nas regras da ambientação.

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