sexta-feira, 6 de junho de 2014

Mesa Tentacular - Point of No Return - Call of Cthulhu no Conflito do Vietnã


E aí pessoal!

Mesa Tentacular está de volta com um resumo da nossa última mesa de RPG no Encontro de aniversário do já tradicional Dungeon Carioca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Para comemorar a data, fizemos algo um pouco diferente nessa edição. Pra falar a verdade, a aventura em questão já tinha sido anunciada antes, mas acabou cancelada, e quando tudo indicava que forças nefastas estavam conspirando para que a aventura não acontecesse, eis que apareceu a oportunidade e ela coincideiu com o aniversário de dois anos do encontro.

Mas o que essa Mesa Tentacular teve de diferente?

Bom, a ideia é que ela fosse diferente não apenas em conteúdo mas em preparação.

Depois de muitas aventuras "convencionais" em Arkham, outras tantas em Nova York e muitas em Londres, precisávamos de um local diferente, de uma época diferente e quem sabe até de um ambiente incomum para lançar os bravos investigadores, que nessa aventura sequer seriam chamados dessa forma comumente usada em Chamado de Cthulhu.

Aqui, os personagens seriam "SOLDADOS" e parte de uma das mais traumáticas e emblemáticas guerras do século XX. Talvez ela não tenha sido a maior Guerra e nem a mais importante, mas sem dúvida o Conflito do Vietnã deixou feridas abertas e ajudou a consolidar o ditado muito verdadeiro de que "A Guerra é um Inferno".


E como nada é ruim o bastante que não possa piorar, que tal adicionar ao tempero exótico da Guerra na Indochina os imprevisíveis Mythos de Cthulhu

Essa era a proposta de POINT OF NO RETURN (Ponto sem Volta), aventura para Call of Cthulhu que escrevi me baseando em várias estórias a respeito dessa horrível guerra que transformou rapazes americanos em máquinas de matar, dispostos a tudo para sobreviver e que sepultou de vez a inocência da América.

Mas qual a proposta de Point of No Return? Como de costume, eu tenciono narrar essa aventura de novo, possivelmente em algum outro evento num futuro próximo, por isso peço desculpas por não ir fundo nas descrições e detalhes, que podem estragar a diversão alheia e arruinar a aventura.

O que posso contar é que "Point of No Return" se passa no tumultuado ano de 1969, e se inicia em Saigon, deslocando-se em seguida para a fronteira com o Camboja.

Uma equipe de jovens soldados americanos, Rangers à serviço da Cavalaria Aérea, recebe ordens de seguir para uma região pacificada. A princípio, eles não sabem qual será a missão, o tenente parece estar escondendo alguma coisa, mas eles ficam sabendo que a operação envolve montar uma estação de rádio e interceptar misteriosas transmissões. Essas chamadas parecem vir de algum lugar da Ponta-R um grande vale usado pelo Exército Americano para manobras e que tem uma reputação nada agradável de ser evitado pelos nativos que o consideram assombrado.

Mas as coisas obviamente não eram tão simples...


É claro que os pobres soldados acabavam descobrindo que a região não estava pacificada e que coisas estranhas pareciam espreitar em uma antiga construção colonial abandonada pelos franceses décadas atrás. O horror da Guerra foi sendo substituído por um horror muito mais primitivo, por uma sensação de que as formas invisíveis que se escondem na selva eram muito mais perigosas do que meros guerrilheiros vietcong armados com AK-47.

Além disso, havia algum segredo militar pairando no ar... o que queriam os membros das Forças Especiais voando em helicópteros pretos? Qual o envolvimento de agentes da CIA (Spooks) com a missão? O que um Batalhão da Legião Estrangeira francesa fazia na área em 1954? Qual o segredo guardado a sete chaves que pode envolver o desaparecimento de um grupo que estudava os efeitos da Guerra Psicológica nos inimigos? 

Muitas perguntas que foram lentamente respondidas a medida que a sanidade rolava solta...

A aventura foi muito divertida e contando com excelentes jogadores rendeu pra caramba! 

Ela também estabeleceu o novo recorde para dano causado por um único jogador: 10d10 pontos de dano (!!!!) com uma metralhadora M60. Isso sem falar de personagens armados até os dentes enfrentando coisas que suportam rajadas de fuzil M16, explosões de granadas de fragmentação e até Napalm.

Bom, chega de falar... aqui estão algumas fotos dos props, handouts e da mesa de jogo.

Props e Handouts da Aventura:

Para essa aventura fiz vários props informativos, para situar os jogadores no contexto da estória e da época. Era um resumo da situação no Vietnã em 1969 do ponto de vista dos militares norte-americanos, um guia das armas e equipamento que eles tinham à disposição e uma lista de gírias e termos usados pelos soldados. 


Muitas dessas informações eu tirei do suplemento Tour of Darkness, que embora contenha regras para o sistema Savage Worlds é muito rico em recursos para o narrador interessado em conduzir uma aventura se passando nas selvas do Vietnã. 


Aqui está uma página do "Guia para o Soldado recém chegado ao Vietnã" descrevendo o equipamento utilizado pelos militares em campo. 


Esse é o Mapa da Ponta-R que ficava em poder do Oficial Comandante, o Tenente Myers. Ele contém as marcações da região e era essencial para o grupo se achar durante a estória. O símbolo amarelo e preto é o distintivo da Cavalaria Aérea, o grupo desembarcado em helicópteros nas selvas e do qual os personagens faziam parte.

A corrente de identificação (dogtag) embora seja do Exército Brasileiro se tornou um prop bacana para que o grupo conseguisse identificar um dos soldados desaparecidos.    


Eu usei fotografias de NPCs e de veículos nessa aventura. Esses recursos são valiosos para fazer os jogadores terem uma ideia do que estão vendo e com quem estão tratando.


E eu gostei especialmente desse mapa do Vietnã/ Camboja e do mini-poster da Legion Étrangere que dão um ar de antigo na estória.

Fichas dos Personagens:


Para criar os personagens eu parti de uma premissa. Usar os estereótipos mais frequentes explorados em filmes sobre o Conflito do Vietnã. Assim ficaria bem mais fácil para os jogadores interpretar os personagens simplesmente assimilando coisas que eles viram em filmes e seriados.


As fichas foram feitas no Word e ficaram com aquele estilo "dossiê militar". Usei uma fonte que copiava máquina de escrever para parecer antigo e a foto de soldados de verdade deu o toque final. 


Basicamente o grupo de soldados contava com seis estereótipos de soldados americanos: o médico desiludido, o universitário idealista que foi voluntário, o rapaz negro do sul dos EUA querendo sair de casa, um sujeito psicótico em busca da aventura de sua vida, um ex-pantera negra que luta contra o sistema e um Sargento durão que quer salvar seus recrutas. 

Acho que essa combinação funcionou bem e favoreceu o Roleplay.

O Isqueiro


E como sempre, toda aventura tem aquele prop que a gente mais gosta. No caso de "Point of No Return", meu prop favorito foi esse isqueiro Zippo

Imprimi o brasão das Forças Especiais (a caveira com dois M16 cruzados) e colei nele para ficar personalizado. Eu adorei o ditado das Forças Especiais: "Mess with the Best/Die with the Rest" (Mexa com os melhores/ Morra com o resto). 


O mais legal é que o isqueiro deveria funcionar como uma pista para a aventura, a prova de que a CIA estava agindo na área e mais do que isso...


... ele escondia uma peça chave para resolver um dos mistérios da aventura.


Uma espécie de mapa devidamente dobrado e guardado em seu interior. A melhor parte é que o próprio grupo desmontou o isqueiro e acabou achando a pista.

Local do Jogo:


Já que essa era uma aventura especial, fizemos uma pequena decoração de guerra usando uns tecidos com camuflagem verde militar.


Eu já tinha esses panos e acho que eles ajudaram a criar um certo grau de imersão. Ajudou muito também a trilha sonora da aventura com músicas dos anos 1960 - Creedence Clearwater, Rolling Stones, Jimmy Hendrix, The Doors... gravei um pen drive com umas 20 músicas.



Tínhamos também o DM DJ com sons de floresta, chuva, explosões, tiroteio, batalha, helicóptero e afins. Nem usamos tanto, mas é um recurso bacana para ter de vez em quando. 



Ah sim, sem falar que eu dei um jeito de me vestir à caráter para narrar essa parada. Ok, podem sacanear, mas eu me divirto com essas coisas ridículas de vez em quando. Podia ter sido bem pior, por um instante eu cogitei usar pintura de camuflagem no rosto.





E parte do grupo entrou na brincadeira e acabou vestindo camisas verdes.

Essa foto eu tirei no meio da aventura quando o grupo se preparava para iniciar a jornada através do Horror. Do lado esquerdo mais próximo para o fundo o soldado idealista ("esse maldito hippie"), o Doutor desaparecido, o técnico de rádio e do lado direito temos o Sargento, o ex-Pantera Negra revoltado com o sistema e o sujeito psicótico que o exército achou por bem equipar com uma M60.


A aventura foi bem divertida. Embora tenha sido um pouco longa, foi uma daquelas estórias bacanas de narrar e (espero) legais de tomar parte.

E não... não estou ganhando por merchandising.


E no saldo final da aventura tivemos um soldado covardemente executado, um irremediavelmente insano perdido nas selvas do Camboja, e outros quatro que também não acabaram muito bem, mas que sobreviveram para contar a estória.

Então foi isso... mais uma tarde agradável na companhia dos Mythos de Cthulhu no Dungeon Carioca.

Make Love, not War, man!

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