segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Tratamento Hospitalar - A Medicina que era praticada nos Anos 1920


Voltando ao tema medicina no início do século iniciado pela resenha do seriado "The Knick", que tal a gente falar do que existia nos hospitais e do que era praticado como tratamento de doenças nos anos 1920.

Esse artigo é bem interessante para dirimir dúvidas de narradores que ficam sem saber se determinado procedimento existia ou não na época de sua campanha.

Ao se analisar a evolução da Medicina ao longo dos séculos, um ponto fortemente positivo do século XX em relação aos demais foi o extermínio ou a redução quase completa da incidência de doenças que chegaram a devastar populações inteiras, como cólera, varíola e difteria. Muito embora, a gripe espanhola tenha causado danos devastadores, a incidência dessas epidemias foi menor. Além disso, no século XX, um extraordinário desenvolvimento da cirurgia, das técnicas imunológicas e da genética garantiram uma verdadeira explosão de conhecimentos na área médica.

A Medicina incorporou aspectos da psicologia, a qual ficou mais científica ao explicar o comportamento do homem.

Foram descobertas muitas substâncias que dominam o organismo e o advento dos antibióticos que representaram um salto na prevenção de doenças causadas por bactérias.

A cirurgia asséptica levou a passos grandes e deu lugar aos transplantes de órgãos e à vídeo-cirurgia de invasão mínima.

Câncer

Apesar do desenvolvimento de técnicas cirúrgicas capazes de extrair tumores, o temor ao câncer, doença já conhecida desde a antiguidade, aumentou consideravelmente, tendo-se em vista a imprevisibilidade de descoberta para a cura da doença. Estudos estatísticos comprovaram que neste século, a freqüência de casos de câncer tem aumento consideravelmente e, além disso, o órgão-alvo tem mudado; antes de 1900 o câncer de pulmão era raro, hoje é um dos mais frequentes, sendo também elevado o número de casos de câncer de colo e mama.

A grande conquista do século XX contra o câncer foi sem dúvida a quimioterapia. O uso de componentes arsenicais no combate ao câncer começou a ser empregado a partir da descoberta de substâncias químicas na Primeira Guerra e da confirmação na Segunda, de que alguns compostos podiam reduzir o crescimento de células malignas em curto tempo.

Mais tarde foi comprovada a eficácia de um derivado do ácido fólico na inibição de leucemia aguda em crianças. Desde então, uma série de compostos químicos têm sido desenvolvidos de plantas e micróbios, cada um agindo em diferentes estágios de transformação e proliferação de células malignas. A principal limitação no tratamento do câncer diz respeito à ação danosa dos medicamentos sobre as células normais. O principal objetivo da quimioterapia é encontrar agentes com toxicidade mínima capazes de agir seletivamente nos tumores malignos.

Antibióticos


Paul Ehrlich descobriu, no início do século XX, uma "cápsula mágica" que matava germes no corpo sem destruir células que eram responsáveis pela síntese do composto efetivo no tratamento da sífilis, mas os princípios que ele anunciou não rumaram para uma efetiva batalha contra os micro-organismos.

Michael Heidelberger, décadas depois, trabalhou em pneumococos (agente causador da pneumonia) investigando um soro especifico para cada tipo de germe, mas sem muitos resultados. Em 1917, Charles Heidelberger e W.A. Jacobs relataram que a sulfanilamida era eficaz contra bactérias, mas nenhum investigador atentou-se para esse fato. Na Alemanha, Gerhard Domagk, também testou a atividade antibacteriana em várias colorações, relatando o prontosil, que ataca o streptococo em camundongos. A introdução da química em terapias foi então alterada devido a muitas infecções que causavam até a morte. Trefouel na França mostrou que o prontosil causou no corpo produção de sulfanilamida, uma substância com atividade antibacteriana. Estudos subsequentes descobriram derivados: sulfapiridina, sulfaguanidina e drogas para tratamento de infecções urinárias.

Outras drogas antibacterianas forma desenvolvidas. Foi provado nesse momento o efeito do Isoniazid contra o bacilo da tuberculose, causando uma revolução do tratamento da mesma.

Pasteur observou antagonismos entre bactérias. Investigadores tentaram impedir o crescimento de uma espécie de bactéria por cultura ou extratos, mas os resultados foram incertos ou também produziram toxinas.

Entretanto, publicações dos séculos XIX e XX indicaram que bactérias mais fortes e fungos também destruíam certas bactérias. Em 1912, denominaram essa bactéria Penicilium notatum. Em 1921, foi provado que o Penicilium destruía os bacilos e impedia os estafilococos.

Depois disso, outros tipos forma descobertos rapidamente. Streptomicina contra tuberculose. Cada antibiótico possuia suas atividades potenciais, mas também limitações. Com o tempo, essas bactérias foram adquirindo resistência, necessitando de novas drogas. Além disso, comprovou-se que cada bactéria era sensível a um tipo de antibiótico.

Diálise renal

Um dos mais corajosos produtos do século XX foi a renovação de um órgão doente através do transplante por um órgão saudável de outra pessoa. O transplante renal foi dos que conseguiram maior sucesso, mas isso não foi possível sem que o paciente com o rim doente ficasse esperando enquanto se avaliava o rim do doador.

Em 1913, criou-se o primeiro rim artificial, utilizado primeiramente em cães. Esse método foi muito útil para os humanos, envolvendo o uso de tubos com anticoagulantes e aparato para que o rim fosse substituído. Em 1945, o procedimento foi utilizado com sucesso em humanos.

Hipertensão

A primeira pessoa a medir a pressão sanguínea foi o padre Stephen Hales, em 1733, enfiando um tubo oco no pescoço de um cavalo enquanto anotava até onde o sangue numa coluna de vidro.

Em 1876, Ritter Von Bash, criou um instrumento que podia medir a pressão sanguínea de um humano. Ele media, após a compressão do braço, a pressão quando se sentia o primeiro pulsar, era no caso a pressão sistólica. Só em 1905, com Korotkoff, criou o uni-estetoscópio e descobriu que quando o pulso desaparecia, estabelecia a pressão da diástole. Investigadores descobriram no inicio do século XX. um complexo enzimático de mecanismo hormonal para regulação da pressão sanguínea em que os rins, as adrenais e o sistema nervoso possuíam importante participação. Tratamentos para controle de pressão sanguínea alta até então eram dieta, operação nos rins, adrenais, artérias, no sistema nervoso simpático e o uso de agentes químicos reguladores.

Imunologia


Nessa área, os cientistas conseguiram explicar porque as pessoas que contraem certas infecções como a varíola, tornam-se resistentes a ela quando expostas novamente ao agente infeccioso. Essa explicação foi importante, sobretudo, para se estudar formas de indução de resistência antes que a doença ocorresse.

A descoberta de que nosso organismo era capaz de combater agentes estranhos pôde ser diretamente relacionada aos insucessos freqüentes das cirurgias de transplantes de órgãos; o organismo tende a reagir ao órgão enxertado como reagiria a um agente infeccioso qualquer que nele penetrasse.

Em 1930, foi descoberto que as proteínas moleculares responsáveis pela resposta imunológica do organismo estavam presentes na fração gama globulina do sangue, sendo capazes de um grande número de interações funcionais (por exemplo com o vírus da poliomielite e com as toxinas do tétano e da difteria). Essa descoberta foi essencial para a criação dessas vacinas.

Virologia

A invenção do microscópio eletrônico no inicio do século XX permitiu o exame da estrutura dos vírus com grandes detalhes e o estudo de suas relações com as células que infectam. Além disso, as pesquisas também avançaram no sentido de se buscar a compreensão dos fenômenos de multiplicação e mutação vir ais.

O vírus que causa a paralisia infantil foi isolado pela primeira vez em 1909 e, em 1954 foi desenvolvida nos Estados Unidos a primeira vacina contra a doença, garantindo, nos anos seguintes, redução considerável de sua incidência.

Descobriu-se também que a rubéola, embora na prática raramente fosse fatal em crianças e adultos, se contraída durante a gravidez, o bebê poderia sofrer sérios danos permanentes ou morrer. O isolamento do vírus da rubéola na década de 1920 ajudou a desenvolver uma vacina eficaz que passou a fazer parte das políticas de imunização de vários países.

Cardiologia


Nos primeiros anos do século XX, Willem Einthoven descobriu um instrumento que permitiu acompanhar a marcação da atividade elétrica do coração humano, o eletrocardiograma. Com isso foi possível determinar a taxa cardíaca e seu ritmo. Assim, aumentou-se a preocupação com o estudo das coronárias, promovendo uma redução na taxa de mortes por doenças cardíacas graças a prevenção.

Estudos na primeira metade do século XX sobre pressão alterada e sopros no coração em animais, ocorrendo naturalmente ou de forma induzida geraram os primeiros fundamentos para a moderna cardiologia e para a cirurgia cardíaca.

No início dos anos 40, André Cournande e Dickinson W. Richards em Nova York evidenciaram um método para a medida da pressão do coração humano. Além disso, várias drogas foram descobertas contra doenças cardíacas. Enfim, essas descobertas foram essenciais para o desenvolvimento da cardiologia. Assim, entendendo as bases moleculares das doenças cardíacas surgiram benefícios para principalmente duas áreas (arteriosclerose e arritmias).

Cirurgia Cardíaca

Por um longo período o coração era considerado fora dos limites da cirurgia.

Até que em 1896, Ludwig Rehn reparou uma laceração num coração. Primeiramente, descobriram-se métodos sobre a anestesia para uma operação no tórax, até que se introduziram gases anestésicos na traquéia, obtendo êxito em 1948, quando Robert Cross fez uma cirurgia de enxerto de tecido na aorta de um paciente. Em 1952, Hufnagel implantou uma válvula sintética em um paciente. Em 1956 foi permitida a visualização da cateterização cardíaca ou seja do interior do coração através da injeção de substâncias radiopacas. Além disso, houve grande avanço das cirurgias para correção de anomalias congênitas.

Gastroenterologia

Raramente um campo da ciência desenvolve-se da noite para o dia, mas pode-se dizer que a gastroenterologia moderna nasceu na manhã de 6 de junho de 1822, quando o Dr. William Beaumont tratou uma grave ferida de um paciente que deixou seu estômago exposto através da parede abdominal. Os vários experimentos conduzidos por Beaumont provaram a presença do ácido clorídrico no suco gástrico, estabeleceram a intima relação entre o estado emocional, a secreção gástrica e a digestão, ou seja, abriram as fronteiras para pesquisas fisiológicas na gastroenterologia.

Em 1902, William Bayliss e Ernest Starling descobriram que uma substância química do tecido intestinal (a que eles chamaram de secretina) era capaz de estimular a secreção pancreática. Esse fato revolucionou as ciências biológicas ao provar que a função de um órgão pode ser regulada por substâncias químicas.

Em 1905, Bayliss criou a palavra hormônio (do grego: provocar atividade) que designava todas as classes de mensageiros químicos como a secretina do mesmo tempo. John Edkins demonstrou a presença de uma substância química estimuladora da secreção gástrica no estômago de cães, a que ele nomeou gastrina.

Endocrinologia



Talvez a mais famosa contribuição para a endocrinologia foi o isolamento da insulina por Frederick Banting e Charles Best em 1921.

Na década de 20 foram descobertos os princípios da estimulação dos órgãos sexuais pela glândula pituitária. Pouco depois, as estruturas químicas dos hormônios sexuais femininos foram delineadas e sua relação com o ciclo menstrual explicada. Baseado nisso, os contraceptivos orais foram, posteriormente, introduzidos na década de 50.

A descoberta, após 1900, que substâncias da camada interna das glândulas adrenais aumentavam a pressão sanguínea, possibilitou aos médicos diagnosticarem os efeitos dos tumores das adrenais e levou ao entendimento do mecanismo de hipertensão.

Com o acúmulo de mais informações, a glândula pituitária foi vista como sendo a estação central de controle de todas as outras glândulas endócrinas.

Oftalmologia

Na virada do século, muitas das ferramentas básicas da oftalmologia já eram conhecidas. As estruturas microscópicas do olho na saúde e na doença eram bem conhecidas, mas detalhes completos de como o olho funciona ainda não tinham sido estudados. Em termos de tratamento, havia uma cirurgia grosseira para eliminação de cataratas e alguns procedimentos para o glaucoma.

Por volta de 1900, urna operação razoavelmente satisfatória substituiu a antiga técnica em que a catarata era simplesmente empurrada para fora da linha da visão. No século XX a remoção da lente era feita consideravelmente de modo mais prático com o advento da anestesia local. Com o passar dos anos, o aperfeiçoamento dos instrumentos e das técnicas cirúrgico fez com que a cirurgia se tomasse mais segura e eficaz.

Ortopedia

Por muitas décadas, ortopedistas eram médicos e cirurgiões interessados em doenças e deformidades músculo-esquelética, tais como escoliose, infecções dos ossos e articulações, paralisia devido à poliomielite, defeitos congênitos, além de fraturas e deslocamentos.

Em 1908, Erich Lexer relatou, aparentemente, grande sucesso com transplante de toda articulação do joelho de uma pessoa para outra, mas este procedimento nunca foi assumido por outros ortopedistas, provavelmente porque resultados tardios não confirmavam as expectativas. Em 1911, Russel Hibbs revolucionou o tratamento de escoliose e tuberculose espinhal por criar uma cirurgia de fusão espinhal que continua a ser aperfeiçoada e modificada.

O deslocamento do disco intervertebral foi reconhecido como sendo causa comum de dores na parte inferior da coluna em 1911. Uma hérnia de disco foi removida pela primeira vez em 1934.

Neurologia


Na primeira década do século XX, a estrutura e função das fibras e células nervosas foram esclarecidas pelas investigações de Camillo Golgi e Santiago Ranión. Os métodos de cultura de tecido criada em 1907 para determinar como as fibras nervosas regeneravam após uma lesão tornaram-se uma ferramenta essencial para pesquisa em outras áreas, como cirurgia vascular e virologia.

Charles Sherrington e Edgar Adrian receberam um Prêmio Nobel em 1932 por suas investigações em reflexos, impulsos nervosos e no mecanismo da sensação. Posteriormente George Wald e Ragnar Granit também receberam prêmio Nobel por suas descobertas na fisiologia da visão.

Nos últimos vinte anos, as neurocirurgias têm sido utilizadas não só para a remoção de tumores e aneurismas, mas também para o alívio da dor, redução de tremores e comportamentos anormais, e modificações benéficas dos mecanismos hormonais no tratamento do câncer.

Cronologia da Medicina no Século XX

1901 – O japonês Jokichi Takamine isola a epinefrina (adrenalina).

1902 – O francês Charles Robert Richet descobre a anafilaxe (sensibilidade anormal do paciente a tratamento com soro) e a forma de testa-la.

1904 – O norte-americano William Crawford Gorgas desenvolve o modo de erradicar a febre amarela, até então o combate a doença era realizado com doses de quinino.

1905 - Protótipos de máquinas de Raio X manuais passam a ser usadas em grandes hospitais e centros médicos. As máquinas são perigosas e expõem os pacientes a doses altas de radiação, mesmo assim a descoberta é significativa para a medicina.

1906 – O austríaco Clemens von Pirquet define a sintomatologia da alergia. Óxido Nítrico ainda é usado como agente anestésico, apesar de testes com etileno e acetileno. Cocaína também é utilizada largamente, mas seus riscos induzem a criação de um derivado sintético a Novocaína.

1907 – O geneticista norte-americano Thomas Hunt Morgan estuda como as características da mosca-das-frutas são transmitidas às crias. Percebe, então, que essas características passam de pai para filho gravadas em pedaços de cromossomos.

1909 – A palavra gene é criada pelo botânico dinamarquês Wilhelm Ludvig Johannsen. Ele quis usar uma expressão curta para designar os pedaços de cromossomos identificados por Thomas Morgan.

1910 - Vacinas para catapora e sarampo passam a ser usadas para inocular populações. Testes preliminares demonstram seu sucesso, mas elas são vistas com reservas em várias partes do mundo. 

1912 – O norte-americano Paul Ehrlich usa a acriflavina como anti-séptico. O inglês Frederick Hopkins descobre a importância das vitaminas na prevenção e tratamento de raquitismo, escorbuto e beribéri. 

1913 – Aprofundando o estudo das vitaminas, o bioquímico norte-americano Elmer Cerner McCollum demonstra que elas são essenciais à saúde. Vitaminas passam a ser vendidas em farmácias.

1914 – O francês Aléxis Carrel faz a primeira operação cardíaca bem-sucedida em um cachorro.

1916 – O romeno Toma Ionescu faz a primeira simpatectomia (remoção de parte do sistema nervoso simpático), para aliviar a angina pectoris. É descoberto o processo de refrigeração do plasma sanguíneo para transfusões.

1920 – O norte-americano Harvey Williams Cushing desenvolve técnicas de cirurgia cerebral.

1921 – Os franceses Albert Calmette e Camille Guérin preparam a vacina BCG contra a tuberculose. O alemão Friedrich Dessauer faz a utilização terapêutica dos raios-X.

1922 – Começa a ser usada no tratamento da diabetes a insulina artificial. O francês Aléxis Carrel descobre a função dos glóbulos vermelhos do sangue.

1924 – A insulina é purificada pelo médico canadense Frederick Grant Banting e seu assistente Charles Herbert Best. Eles extraem a substância diretamente do pâncreas de um cachorro.

1928 – Por puro acaso, o bacteriologista escocês Alexander Fleming descobre a penicilina, o primeiro antibiótico. Por esquecimento, ele deixa sem proteção um caldo de micróbios que estava criando no laboratório. No dia seguinte, vê que um pouco de mofo tinha crescido em alguns pontos do caldo e que, nesses locais, os micróbios estavam mortos. Purificando o mofo, observa que é capaz de liquidar diversos tipos de bactérias.

1930 – O norte-americano Max Theiler desenvolve vacina contra a febre amarela.

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