quarta-feira, 22 de junho de 2016

A Morte vem de Cima - Anatomia dos Horrores Caçadores



"A lua despontava atrás da montanha e o céu começava a escurecer em tons de azul escuro. O fogo diante do altar ardia furioso lançando fagulhas no ar. Com o último grito para o céu, o sacerdote ergueu os braços e implorou para que seus Deuses Negros enviassem seu Mensageiro das Estrelas. A vítima amarrada diante dele gritava e se contorcia com os braços estendidos. De repente um silvo alto se fez ouvir e o som de imensas asas, abafado pela gargalhada do maníaco e pelos gritos de horror da vítima".

Os Caçadores Alados são servos de Nyarlathotep, criaturas possivelmente criadas pelo Caos Rastejante para servir como mensageiros, para transportar cultistas a lugares distantes ou como o próprio nome sugere; caçar aqueles que desagradam o Deus Exterior. Segundo o profano Nameless Cults, Nyarlathotep comanda uma revoada de Horrores Caçadores que habitam os recessos da "Dimensão além dos Limites", uma região acessada apenas através de portais e passagens.

Ainda conforme este mesmo Tomo, as criaturas são invocadas a cada mil anos para uma revoada na qual eles são lançados sobre alguma terra, cidade ou local que desagradou especialmente a Nyarlathotep. Sabe-se que eles foram responsáveis por destruir a cidade de S'alush que um dia foi habitada pelo Povo Serpente e a Nação Onírica de Iquanoc onde eles quase exterminaram os lendários Pássaros Magah. Na Terra, a revoada teria sido convocada a voar sobre o Reino Africano de Assum, no atual Moçambique, massacrando homens, mulheres e crianças que haviam virado as costas ao Culto da Língua Sangrenta (um dos Avatares mais temidos de Nyarlathoteop).

O Necronomicon descreve a magia que permite invocar os Horrores Caçadores, sempre à noite e quando desponta a lua cheia no firmamento. Para conduzir o ritual, o feiticeiro precisa consumar o sacrifício de uma vítima senciente e realizar uma série de complexos cálculos de hiper-geometria. A vítima é colocada em um altar de pedra e quando o Horror surge, ele demanda o corpo para si, devorando-o vorazmente. A magia se conduzida corretamente abre um portal dimensional para o Limiar, que permite o acesso do Horror. Ao contrário do que muitos acreditam, a criatura não se materializa ou viaja pelo Espaço Exterior. As páginas do Necronomicon chamam a atenção para os vários detalhes que cercam esse ritual, aludindo para uma série de perigos inerentes à sua realização. Os símbolos, os cálculos, as oferendas, as frases de poder e os gestos do realizador devem ser perfeitos, do contrário o Horror convocado simplesmente irá devorar o sacrifício e o feiticeiro antes de retornar a sua Dimensão. Alguns livros incompletos ou com uma tradução dúbia podem ignorar certos elementos, o que pode induzir a erros fatais. Mais de um feiticeiro terminou nas garras ou na goela de um Horror Caçador em face de seu despreparo ou descuido.



Chamados de "Caçadores de Sangue" em algumas culturas (no México e no Peru pré-Colombiano), os Horrores podem ser enviados em missões de assassinato. Para isso, o invocador precisa de algumas gotas de sangue da vítima pretendida. O Horror estende sua língua bífida e reconhece através do olfato quem ele deverá matar. Quando compelido a cumprir esse tipo de tarefa, o Horror Caçador voa direto para o local onde se encontra o alvo designado (contanto que este possa ser achado antes do nascer do sol). A criatura não irá parar para nada e ao chegar ao local concentrará seus esforços em eliminar seu alvo, podendo remover violentamente obstáculos que se interponham no seu caminho. Uma vez cumprida sua missão, a criatura alça voo e retorna para o Limiar.  

Apesar de sua disposição temperamental, Horrores Caçadores já foram usados como montaria por Feiticeiros extremamente poderosos - ou suficientemente tolos para tentar essa façanha. Se a Magia de Invocação incluir o Ritual de Vinculação, o Horror se torna incapaz de ferir quem o invocou até o nascer do sol ou até o realizador apagar uma fogueira acesa com ingredientes especiais - necessária para o ritual. Nesse meio tempo, o Feiticeiro consegue subjugar a criatura, permitindo a ele montar em suas costas escamosas. Eibon de Milab, o "Guardião dos Arquivos" e o Necromante reptiliano Haon-Dor de Bendal-Dolun teriam realizado o feito considerável de cavalgar Horrores Caçadores. Eibon teria utilizado um imenso Horror para viajar além das esferas do Tempo e Espaço em pelo menos uma ocasião. Contudo, é tolice acreditar que tais bestas possam ser adestradas ou mesmo domadas. O próprio Nyarlathotep quando assume forma humana, por vezes é visto cavalgando um Horror Caçador ou sendo carregado em uma liteira por ele.

Por vezes, aqueles que conseguem dominar essas criaturas as utilizam como seus arautos, encarregando-os de levar consigo artefatos de poder, mensagens importantes ou mais frequentemente, ameaças, já que poucas coisas podem ser mais intimidadoras que um Horror Caçador.


Horrores são especialmente suscetíveis a luminosidade solar. De fato, qualquer forma de iluminação os irrita, mas apenas exposição direta ao sol é capaz de realmente feri-los. Horrores presentem quando o sol está prestes a surgir e imediatamente retornam para sua dimensão de origem. Se incapazes de fazê-lo, eles tentam se refugiar em cavernas, túneis e galerias onde podem se proteger na escuridão. Ao que tudo indica, eles podem viajar através do vácuo espacial, mas não o fazem temendo a exposição a fontes luminosas. Ao serem confrontados com lanternas ou tochas, os Horrores respondem agressivamente, atacando quem estiver segurando essas fontes luminosas para eliminar o incômodo. Faróis de automóveis e holofotes também enfurecem estes predadores noturnos os levando a um frenesi de destruição.

A exposição direta ao espectro solar causa uma queimadura na criatura e suas escamas começam a se desfazer. Se confrontado com o Sol em todo seu esplendor, o corpo do Horror se desfaz imediatamente em uma nuvem de poeira negra-esverdeada de odor nauseante. A luminosidade também causa cegueira e por vezes um Horror pode perder o rumo e se chocar com obstáculos ou com o próprio chão. Uma vez destruído, o corpo da criatura se desintegra rapidamente não restando nenhum sinal de sua existência.

Os Horrores Caçadores tem a forma de víboras colossais, muito embora alguns os descrevam também como vermes dendriformes ou imensas moreias de corpo sinuoso. Em comum, o fato que eles são seres de corpo longilíneo filamentoso, medindo entre 10 e 12 metros de comprimento, da grotesca cabeça até a cauda afilada. Há relatos de espécimes com mais de 15 metros e de alguns especialmente colossais medindo mais de 20 metros. Seu corpo musculoso é sustentado por um esqueleto formado pela coluna vertebral, costelas, maxilar e um maciço crânio. A pele dos Horrores é resistente, recoberta de escamas lisas, geralmente de uma coloração negra ou cinza escura que vai clareando na direção da barriga que pode ter um tom de cinza mais claro, marrom ou amarelo esmaecido. Composto de uma matéria alienígena, ele co-existe em seu plano dimensional simultaneamente, pulsando em nossa realidade, o que explica as descrições deles, por vezes se assemelharem a uma sombra tremeluzente ou um borrão veloz.


A cabeça é estranhamente desproporcional, em forma de cunha, com um par de olhos avermelhados que brilham com uma inteligência sobrenatural. A boca dos Horrores é larga, dotada de dentes pontiagudos, destacando-se duas peçonhas enormes usadas para perfurar seus oponentes como uma lâmina de picareta. Ao redor da boca, alguns Caçadores possuem uma série de tentáculos menores que se encarregam de capturar e conter as vítimas, empurrando-as para a bocarra. Estendendo o maxilar, o Horror pode engolir um homem adulto, muito embora, eles prefiram potencializar os ferimentos usando suas presas para dilacerar as vítimas capturadas e só então consumi-las. A língua dos Horrores é bífida como a das serpentes terrestres, negra e fria, servindo para sondar o ambiente e obter informações.

Apesar de sua aparência animalesca, Horrores Caçadores são incrivelmente inteligentes, dotados de capacidade cognitiva e poder de raciocínio tão apurado quanto um ser humano médio. Isso garante a eles a faculdade de planejar e traçar estratégias durante suas caçadas. Alguns Caçadores são capazes de compreender idiomas e de estabelecer uma comunicação rudimentar, exprimindo algumas palavras de forma sibilante. Contudo, raramente eles tem algo a dizer. Seres absolutamente anti-sociais, eles raramente são vistos em grupo, exceto quando a Revoada é convocada pelo Caos Rastejante. Não se sabe como ocorrem os ritos de acasalamento, embora alguns teóricos compreendam que existem apenas fêmeas da espécie - informação contestada por outros estudiosos dos Mitos Ancestrais. Ainda que sejam similares em aparência às serpentes terrestres, não há nada na biologia dos Horrores que possa corroborar essa suspeita, para todos os efeitos eles são seres absolutamente alienígenas.  

Uma das características mais marcantes dos Horrores Caçadores diz respeito a sua locomoção. Tratam-se de seres alados, com imensas asas membranosas semelhantes a dos morcegos terrestres, com uma envergadura com mais que a metade de seus corpos pulsantes. Embora a maioria dos Horrores possuam duas asas que se projetam de seu dorso, alguns espécimes apresentam apenas uma grande asa semelhante a um guarda-chuva que se debate de forma estranha para permitir longos saltos - mas não o voo! Horrores se deslocam a uma velocidade considerável em nossa atmosfera, podendo empreender perseguição a aviões de pequeno porte ou helicópteros civis. Além da velocidade, eles são capazes de desempenhar manobras aerodinâmicas que lhes permite operar vôos rasantes, mergulhos, giros ou simplesmente pairar no ar. No chão, eles se movem através de "saltos", nos quais o corpanzil se enrola, lançando-se como uma mola na direção desejada em um movimento brusco que cobre dezenas de metros. Há relatos de Horrores dotadas de pequenos braços esguios com fortes tendões capazes de agarrar e manipular objetos. Estes espécimes, entretanto são extremamente raros podendo constituir algum tipo de mutação.


Os Horrores atacam de duas maneiras: projetando seu corpo no intuito de esmagar os oponentes sob seu considerável peso ou então com uma mordida perfurante. Ambos os ataques são devastadores contra inimigos menores, fazendo deles oponentes perigosíssimos. Em alguns casos, eles tentam capturar suas presas dando voltas em torno da vítima que pode ter todos os ossos de seu corpo esmigalhados pela potente constrição. Usando essa mesma manobra, eles podem subjugar suas vítimas e carregá-las para o ar em um impulso, seja para levá-las até seus mestres ou simplesmente soltá-las quando estiverem em uma altitude mortal.

É possível que as muitas lendas a respeito de serpentes aladas, desde aquelas presentes no folclore do Oriente Médio e Grécia, passando pelas Serpentes emplumadas da Cultura Inca-Asteca, a Serpente do Arco-Iris haitiana e até os Dragões Chineses se refiram a avistamentos de Horrores Caçadores. Em todos os casos, tais seres são vistos com um misto de veneração e terror.

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