sexta-feira, 14 de julho de 2017

Profanação em Turim - Roubo de Relíquia Sacra repercute na Itália


A Polícia italiana relatou um estranho crime ocorrido na semana passada envolvendo os restos de São João Bosco, um padre que viveu no século XIX e foi responsável pela fundação de um Centro de Caridade voltado para auxiliar crianças em Turin. Depois da morte de Bosco em 1888, seguiu-se um grande movimento popular para sua beatificação, o primeiro estágio para a canonização como santo. O Papa Pio XI defendeu o processo de canonização que foi concluído em 1934. 

O movimento criado por Don Bosco, como ele passou a ser chamado, deu origem a Ordem dos Salesianos. Eles continuam atuando não apenas na Itália, mas com sedes em todo mundo patrocinando a construção de escolas e centros de apoio à crianças e adolescentes. Esses centros de educação e proteção de menores necessitados é um dos grandes legados da obra do Santo. No Brasil, por exemplo, existem vários desses centros, enquanto o Santo é padroeiro de Brasília.

Após a canonização, um fragmento do cérebro de Dom Bosco foi removido de seu corpo, preservado em uma cripta. O cérebro foi encapsulado numa esfera de vidro transparente. Ele foi então depositado sobre o altar como relíquia de adoração na Basílica de Castelnuovo em Turim, lá permaneceu por décadas, atraindo peregrinos de todo mundo.

No dia 2 de junho, a Igreja não abriu as suas portas como é de costume o que causou grande estranhamento entre os fieis. A presença de policiais e detetives, chamados às pressas, também deu início a uma série de rumores. No começo da tarde, o porta-voz da Ordem Salesiana, Reverendo Moreno Filipetto, reuniu a imprensa para um pronunciamento:

"A relíquia de Don Bosco havia sido roubada", disse Filipetto, "as autoridades foram alertadas e estão procedendo nas investigações do ocorrido no sentido de retornar a relíquia a quem é de direito o quanto antes".

Para não atrapalhar o curso das investigações policiais, nenhuma outra informação foi concedida.


"Eu convido seja quem for que retirou a relíquia a devolvê-la imediatamente, sem qualquer rancor para que possamos virar essa página e continuar a honrar a memória de Don Bosco", disse o Arcebispo de Turim Cesare Nosiglia.

A polícia trabalha com a possibilidade do ladrão ter se misturado a multidão de peregrinos que diariamente visitam a Basílica. Não há sistemas de segurança no local e uma pessoa poderia se esgueirar além do cordão de isolamento e chegar até o altar mor. No entanto, é estranho que o ladrão tenha conseguido remover a pesada esfera de vidro que fica em exposição sem quebrar nada e sem deixar qualquer evidência. Uma vez que o movimento de peregrinos foi normal no dia do roubo e ninguém deu pela falta da relíquia, é provável que o ladrão tenha saído próximo do horário de fechamento da Igreja, o que acontece às 21 horas. Um dos sacristões percebeu que a relíquia havia sido removida por volta das 23 horas e imediatamente comunicou seus superiores que por sua vez chamaram a polícia.

As investigações preliminares não encontraram pistas ou digitais, e há poucos indícios a serem seguidos. Até o momento o escritório dos Carabinieri não emitiu nenhuma nota a respeito do caso. 

Bloqueios rodoviários e revistas em aeroportos e estações de trem em Turim e nos arredores tem sido realizadas no intuito de evitar que a relíquia seja levada para fora da Itália. Uma das possibilidades é que o ladrão tenha levado a relíquia com o objetivo de exigir resgate pela sua devolução. Não é a primeira vez que relíquias cristãs são removidas de templos por ladrões interessados em praticar extorsão, em 2014, uma ampola contendo sangue pertencente ao Papa João Paulo II foi roubada. Ela foi posteriormente recuperada, mas nenhum responsável pelo crime chegou a ser capturado.

Relíquias desempenham um papel importante na história da Igreja Católica, mas sempre estiveram envoltas em controvérsia.

"O Mundo Católico, e de fato todo o ocidente sempre esteve cheio de relíquias sacras", escreveu Jonathan Jones do Guardian, "Ossos e pele, unhas e órgãos, até mesmo cabeças e línguas de santos são preservadas, compradas e vendidas, roubadas e celebradas.


"Hoje em dia, a autenticidade de muitas relíquias é descreditada". De fato, a ciência nas últimas décadas provou que muitas relíquias sagradas em poder da Igreja, de congregações e de colecionadores não eram autênticas. Ossos de Santos na verdade eram ossos de animais e órgãos não passavam de pedaços de cera esculpida. Isso ocorria porque na Idade Média, a cidade que detinha uma relíquia ligada a história da igreja se tornava local de peregrinação e adoração.

Embora importantíssimas para a cristandade medieval, as relíquias sacras se tornaram um dos pontos centrais da Reforma Protestante. Sua popularidade representava um desejo popular das pessoas de "estar próximo da Santidade". 

Ainda hoje elas são muito apreciadas e atraem fiéis onde quer que estejam. O relicário de Dom Bosco, junto com uma estátua de cera do santo em uma caixa de vidro viajaram pela Itália dois anos atrás.

Mais estranho do que o roubo em si foi a série de rumores que se seguiram ao ocorrido, dando crédito a uma possível "Conspiração de Satanistas". Segundo esses boatos, uma ou mais Sociedades Secretas de Satanistas Italianos teriam patrocinado o roubo. O intuito desses grupos seria não apenas desmoralizar a Igreja Católica, mas utilizar o fragmento de cérebro em Rituais de Magia Negra.

Alguns temiam que o cérebro poderia ser oferecido às "Forças Infernais" como uma espécie de troféu, conquistado de seus inimigos mortais. Uma vez ofertado dessa maneira, a relíquia sacra teria um grande valor espiritual.


A informação foi prontamente repudiada, mas a essa altura o estrago já estava feito e muitos meios de comunicação, em especial aqueles voltados para o sensacionalismo barato passaram a veicular a notícia de que alguma Seita Demoníaca era responsável pelo crime.

Para corroborar essa informação, algumas pessoas apontaram para o fato de que Turim é considerada uma das "Cidades Místicas" da Itália onde segundo fontes existem Igrejas de cunho Satânico atuantes com centenas de membros. Jornais italianos mencionaram que a cidade tem a fama de atrair um grande número de praticantes de ocultismo, bruxaria e magia negra que se congregam para estranhos festivais e cerimônias devotadas às, assim chamadas, "forças das trevas".


Os detetives e promotores de Asti preferiram não discutir esses rumores e pediram que as pessoas mantenham a calma.  

Entre os boatos infundados há quem diga que a remoção da Relíquia, e sua possível destruição em uma cerimônia satânica poderia sinalizar como uma investida agressiva por parte desses grupos, contra a Igreja Católica. Há quem diga ainda que a Relíquia exercia uma influência pacificadora sobre Turim, ajudando a manter jovens e adolescentes "longe de problemas", tentações e de condutas negativas. Remover a relíquia teria, no entender destes, relação com uma crescente onda de violência e delinquência juvenil.

Nos dias posteriores a remoção da Relíquia rumores a respeito de um acentuado aumento na violência e agressividade na cidade circularam por Turim. Um crime cometido por um adolescente nos arredores da região de Mirafiori teria resultado em ferimentos de duas crianças. Em outra ocorrência sem conexão, uma mulher teria asfixiado seu bebê recém nascido sem motivo aparente. Numa história especialmente horripilante, duas meninas em San Salvario teriam matado o gato de estimação da família colocando o pobre animal dentro de um forno micro-ondas.

Nada disso tem relação com o roubo, ao menos, não diretamente, mas para os supersticiosos, há sempre algo oculto.

Enquanto a peça não reaparece, fiéis se reúnem em uma vigília em frente da Basílica orando para que a importante peça retorno sã e salva.

UPDATE

Duas semanas depois do roubo, a polícia conseguiu recuperar o Artefato Religioso que havia desaparecido da Basílica de Castelnuovo. O fragmento do cérebro de São João "Dom" Bosco foi achado escondido numa chaleira.

O ladrão que subtraiu o relicário contou aos investigadores que havia se misturado a um grupo de peregrinos que visitavam o local. Ele acreditava que o relicário de vidro poderia valer algum dinheiro e por isso o apanhou, escondendo-o em seu casaco na saída da Igreja. 

Os detetives chegaram ao ladrão após encontrar uma impressão digital parcial e uma marca de sapato ao redor da área de isolamento. As pistas foram enviadas para o Laboratório Forense dos Carabinieri em Parma para análise. A digital identificou um homem de 42 anos de idade, natural de Pinerolo no norte de Turim. O sujeito já havia sido fichado e tinha um histórico de pequenos roubos e furtos.

Os detetives seguiram o ladrão por dias antes de invadir sua casa e encontrar a relíquia - o vidro não foi avariado e até o lacre de cera estava preservado. A peça foi escondida em uma grande chaleira de ferro em baixo do armário da cozinha.

O homem, que confessou o crime, contou aos detetives que pensou se tratar de um objeto valioso, com uma tampa que ele imaginou ser de ouro. O ladrão disse que não imaginava que seu ato causaria tanta comoção. Ele pensou em devolver a peça, mas disse não ter encontrado oportunidade de fazê-lo.

O relicário foi devolvido para a Basílica e daqui em diante contará com um sistema de vigilância e segurança para evitar novos roubos.

*     *     *

É claro, a coisa não era tão estranha quanto se pensava no início.

Felizmente não havia uma conspiração para roubar a relíquia religiosa de Dom Bosco. O ladrão não era movido por interesses esotéricos ou por propósitos ocultos, seu objetivo era tão somente roubar uma coisa para vender.

Mas essa história devidamente trabalhada poderia resultar em uma complicada investigação com algum culto profano em busca de uma relíquia que significava mais do que as pessoas poderiam imaginar. O fato de ser algo tão significativo quanto o cérebro de um Santo me faz pensar...

Poderiam ser os Mi-Go em busca de alguma informação contida na mente do Santo que orquestrariam o roubo? O que poderia haver em sua mente - que talvez ainda pudesse ser extraído através da estranha ciência de Yuggoth? Agentes dos terríveis fungos poderiam estar manipulando os tais "satanistas" para subtrair a relíquia, sendo usados para tal propósito.

Talvez em vida Dom Bosco - ou qualquer outro Santo, poderia ter sido um agente da Grande Raça de Yith cuja exploração do tempo resultou em um conhecimento único que precisa ser recuperado. O que daria uma boa história com Agentes Yithianos nos bastidores e quem sabe algum culto como os Irmãos do Símbolo Amarelo envolvidos.

Finalmente, o que dizer do bom e velho Nyarlathotep? O Caos Rastejante poderia estar por trás das ações de uma cabala de satanistas que para agradar ao Deus resolveram roubar o cérebro e ofertá-lo em uma missa negra na qual pretendem invocar um de seus avatares mais temidos, o Homem Negro.  
Idéias não faltam... o mundo real, como sempre serve de base para histórias muito loucas e inesperadas.

Um comentário:

  1. Não é a primeira vez que suspeita-se que satanistas tenham planos sombrios com restos mortais , lembra do caso com as cinzas de Nikola Tesla ? Ocorrências assim poderiam servir de inspiração para o cenário de uma campanha .

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